indesejadas

Indesejadas
Kristina Ohlsson

Em meados de um verão chuvoso, com nuvens densas e escuras, uma garotinha de seis anos é sequestrada num trem lotado que ia de Gotemburgo a Estocolmo. Sara, sua mãe, havia ficado presa na estação anterior devido a uma aparente coincidência. A tripulação foi avisada e o fiscal da companhia ferroviária, Henry Lindgren, colocou-se como vigia da menina adormecida. Mas quando o trem parou na Estação Central de Estocolmo, a menina tinha desaparecido sem deixar pistas e, apesar das centenas de possíveis testemunhas, ninguém a viu sendo levada.
(fonte: http://grupoautentica.com.br/)

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Mais um autor, no caso, autora policial nórdica publicada aqui no Brasil. Afinal, não existem apenas Stieg Larsson e Jo Nesbø. Há uma variedade de outros autores que, mesmo não sendo tão famosos, produzem literatura policial de qualidade. E Kristina Ohlsson é uma delas. O livro tem, sim, alguns defeitos que acredito que possam ser creditados ao fato de ser a primeira obra da autora. Mas nada que desagrade tanto o leitor a ponto de fazê-lo abandonar a leitura.

Ohlsson é ex-analista estratégica de segurança da Policia Naconal da Suécia e trabalha contra o terrorismo na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa. Esse background da autora é perceptível na narrativa, dada a atenção aos detalhes da investigação. Em um livro policial, é uma perspectiva bastante importante, para não dizer, imprescindível. E Ohlsson dá conta do recado, sem encher o texto de tecniquês policial.

Contudo, talvez no intuito de contrabalançar a abundância de pormenores técnicos da investigação, há trechos extensos enfocando a vida pessoal dos personagens. Não que isso seja desnecessário. Ao contrário, gerar identificação do leitor com os personagens é essencial para mantê-lo imerso no universo da história. Mas há várias “barrigas”, trechos longos que, nitidamente, não impulsionam a história, ou seja, não têm função narrativa. E há um defeito mais grave em relação ao “texto sobrando”: é a existência de uma linha narrativa, de um personagem secundário, construída e desenvolvida desmedidamente apenas para plantar uma dúvida. Algo que poderia ter sido muito mais sutil se a atenção dada à personagem fosse menor. Passei o livro todo pensando “espero que esta linha narrativa sirva pra algo mais além de incutir uma suspeita” e, infelizmente, era apenas isso.

A narrativa é em terceira pessoa e acompanha, alternadamente, mocinhos e bandidos. Foi uma escolha bastante interessante da autora, em vez de mostrar o criminoso, enfocar a(s) cúmplice(s). Além disso, apesar de a protagonista ser a detetive Fredrika Bergman, o narrador segue também mais dois membros da equipe de investigação: seu chefe, Alex Recht, e o outro investigador encarregado, Peder Rydh. Mesmo sendo a protagonista, Fredrika não é a líder da equipe. Seu status no grupo, aliás, é fonte constante de conflito. A dinâmica entre eles é sempre carregada de tensão. Há uma má vontade, um preconceito velado contra ela. Não apenas por ser mulher, mas também por ser uma analista criminal, uma civil, que os colegas nitidamente não queriam na equipe.

A primeira metade do livro foca essencialmente na busca pela menininha, Lilian Sebastiansson. A linha investigativa segue suspeitas que têm a ver com pedofilia. É uma temática complexa, difícil de abordar. Mas Larsson, possivelmente por sua experiência profissional, consegue tratar do assunto, sem pender demais para o melodrama, mas sem ser insensível. Lamentavelmente, quando a investigação muda de rumo, a perseguição dos suspeitos de pedofilia é simplesmente deixada de lado. O leitor entende que o suspeito do crime passa a ser outro, mas a “caça” aos pedófilos é abandonada, como se não tivesse mais importância. Essa linha narrativa poderia ter sido continuada, mesmo que por pouco tempo, mesmo que fosse apenas para que as informações obtidas fossem repassadas a outra equipe de investigadores. A guinada na trama deixa essa questão sem resolução.

O maior problema do livro é a facilidade com que o leitor consegue descobrir a motivação do criminoso e, por conseguinte, deduzir quem pode ser. Bem antes da metade, ou seja, bem antes de os personagens sequer começarem a pensar a respeito, é possível inferir o que os crimes têm em comum e o que leva o criminoso a marcar as crianças com a palavra “indesejada”. Acredito que boa parte dos leitores, mesmo não sendo experts em livros policiais, chegam à conclusão com certa facilidade. E continuam a leitura apenas para saber qual a identidade do criminoso. Algo que, aliás, poderia ter sido melhor trabalhado também. Além de o desfecho – a revelação do culpado – ser um tanto acelerado em relação ao ritmo do restante da narrativa, a identidade do criminoso poderia não ser tão banal. Pelo desenrolar da trama, deveria ter sido algo muito mais surpreendente.

Há um outro problema, que não é exclusividade desta obra, mas sim da coleção de policiais da Vestígio, que usa o mesmo projeto editorial em todos os livros: a ausência de orelhas, que deixa o livro “desbeiçado” depois de alguns dias de manuseio; e a película plastificada da capa, que invariavelmente começa a descolar após algum tempo.

É um bom livro policial, com uma temática (inicial) bastante instigante e que, apesar dos pesares, deixa o leitor com vontade de ler os próximos livros da autora.

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© 2011 Fotograf Anna-Lena Ahlström
Sobre a autora
Kristina Ohlsson nasceu em Kristianstad, no sul da Suécia, e hoje vive em Estocolmo.
É cientista política, ex-analista estratégica de segurança da Polícia Nacional da Suécia e trabalha como agente contra o terrorismo na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).
Indesejadas é o primeiro livro de uma série de quatro romances que têm como protagonista a investigadora Fredrika Bergman.


Cristine Tellier
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