»» versão do artigo “3 Ways to Show Don’t Tell”, escrito por Darcy Pattison, publicado em 24/04/2017 no Fiction Notes ««
Conselho clássico dado a escritores iniciantes: “Show, don’t tell”, ou “Mostre, não conte”. Dei várias aulas para professores na semana passada e todos assentiram. Ótimo conselho. Mas como você o coloca em prática? Como ensinar estudantes a mostrar sem contar?
Mostre, não conte. Por quê?
Nos velhos tempos do storytelling, era satisfatório dizer algo assim:
“O gato era fofinho.”
Mas na ficção de hoje, queremos algo melhor que isso. Novelas e livros ilustrados tentam colocar o leitor dentro da situação. Descrições genéricas e clichê como essas dão apenas uma experiência superficial, em vez da sensação de estar naquela situação. É claro que às vezes aquela afirmação funciona, dependendo de quanta atenção você quer dar ao gato e ao fato de ele ser fofinho. Mas se o gato é importante e sua tendência à fofura é ainda mais importante, você tem de fazer melhor.
Verbos e nomes
Uma sugestão é remover tantos verbos “ser” quanto possível. Na nossa frase de exemplo, o “era” indica um estado; em vez disso, queremos ação.
“O gato multicor ronronou na rede, aconchegou-se no sofá e, quando eu adormeci, se enrolou sobre meu peito.”
Minha regra básica é não usar modificadores ATÉ que eu ache o verbo mais exato possível. Livre-se dos advérbios “do mal”, dê preferência a verbos precisos.
Da mesma forma, use o substantivo mais preciso possível. Só então, você pode adicionar modificadores. No nosso exemplo, apenas nomear o tipo de gato foi o suficiente para mim, pois o restante do texto se encarrega da expansão.
Detalhes sensoriais
A informação que nós, humanos, recebemos de nossos sentidos pode ser utilizada para revitalizar uma prosa cansativa. O que você vê, ouve, cheira e toca (temperatura, textura e propriocepção) deve ser incluído sempre que possível. Detalhes visuais são os mais simples e mais comuns de adicionar. Use-os. Mas tente adicionar a seu texto ao menos um ou dois dos outros sentidos.
“O gato multicor ronronou na rede, aconchegou-se no sofá e, quando eu adormeci, se enrolou sobre meu peito e seu pelo macio fazia cócegas no meu queixo. ”
Diálogo
Finalmente, você pode transformar uma narrativa chata em um diálogo, trazendo assim vida à situação. O problema aqui é fazer um diálogo dinâmico. Você não quer enveredar em longos monólogos quando um fragmento bastaria.
“Fiz sinal com a mão. ‘Vem’. Obediente, o gato multicor saltou na rede e se instalou para ronronar. Depois, enquanto eu assistia TV, ela se aconchegou quente à minha coxa. E quando dormi, se enrolou sobre meu peito. ‘Pare de fazer cócegas’, murmurei e a afastei do meu queixo. Nunca tive outro gato que gostasse tanto de se enroscar quanto esse multicor.”
Como você pôde ver, o problema com o Show, don’t tell é que prolonga a história. Você deve pesar a importância do gato e decidir se vale a pena o espaço extra.
Sobre a autora:
Autora de livros infantis, mantém o blog Fiction Notes desde 2007, em que dá dicas, estratégias e inspiração para a escrita.
Tem um livro publicado em português sobre a história real de um puma orfão: Abayomi, um encontro feliz. Segundo Pattison, foi um ótimo projeto para ela, partiularmente porque a ilustradora, Kitty Harvil, passou cerca de seis meses aqui no Brasil trabalhando duro para conseguir disponibilizar o livros para os estudantes.
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