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Fora da Lei
Angus Donald

»» resenha publicada originalmente no Vórtex Cultural, em 08/06/2017 ««

Difícil quem não conheça a história – ou a lenda – de Robin Hood, o principe dos ladrões, senhor das florestas de Sherwood, cujo lema era roubar dos ricos para dar aos pobres. Neste livro, o autor conta essa história vista pelos olhos de Alan Dale – um jovem que, após ser pego roubando, se vê obrigado a abandonar sua mãe e juntar-se ao bando de Robin Hood, em busca de proteção.

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“Hoje, olhando para trás depois de quase sessenta invernos, mal posso acreditar em quanto eu era fraco naquela época. Eu veria coisas piores no tempo que passei ao lado de Robin, muito piores. E apesar de jamais ter sentido prazer ao ver a dor de outra pessoa, como acontecia om alguns homens de nosso bando, aprendi com o tempo a ocultar tal fraqueza, como acontece com um fora da lei ou com qualquer homem. Naquela noite de primavera, no entanto, eu era joven, tinha apenas 13 anos. Eu sabia pouco a respeito do mundo e de suas crueldades, sabia muito pouco a respeito de qualquer coisa. Mas estava prestes a aprender muito.”
(pag.25)

A história é narrada em primeira pessoa e, assim como n’O grande Gatsby, o narrador não é o protagonista. Enquanto nesse, Nick Carraway conta a história de Jay Gatsby, em Fora da Lei, Dale conta sua versão da história de Robin Hood. Dale, beirando os 60 anos de idade, mora com a nora e o neto, depois que seu filho Rob morreu de hemorragia. E é através de suas memórias que a narrativa toma corpo.

E por serem memórias é que alguns trechos soam um tanto inverossímeis. Qualquer pessoa que já tenha passado por algum momento de tensão, de stress intenso, com a adrenalina a mil, com o sangue bombando nos tímpanos, sabe muito bem que é praticamente impossível se lembrar nitidamente de tudo daquele momento. As lembranças se assemelham muito à montagem dos filmes do Michael Bay – cheias de cortes, lapsos temporais e espaciais. Contrariando essa premissa, nas cenas de luta entre os homens de Robin e os do xerife Murdac, por exemplo, Dale narra a sucessão de eventos com uma riqueza de detalhes que ninguém vivendo aquela situação conseguiria assimilar.

Aproveitando a deixa das cenas de luta, é perceptível a influência de Bernard Cornwell na narrativa de Donald. Contudo seu texto está longe de ter a mesma intensidade, não consegue ser tão vívido e envolvente a ponto de o leitor “ser jogado” para dentro da trama, com todos os cinco sentidos sendo estimulados apenas pela leitura. Mas isso não quer dizer que a narrativa de Donald não seja agradável. É sim, bastante fluida (para usar um termo da modinha), nada cansativa, contrabalançando bem diálogos, descrições e cenas de ação.

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Angus Donald (foto: http://imagenes.lainformacion.com)
O Robin Hood de Donald está longe de ser aquela figura benevolente e altruísta que, como afirma seu lema, rouba dos ricos para dar aos pobres. Robert Odo, nome real do personagem, não passa do filho caçula de um barão e que, apesar de carismático e bom estrategista, além de ser considerado um fora-da-lei por ter cometido assassinato, tem uma relação dúbia com os camponeses que supostamente protege. Está mais para um chefe de quadrilha que vende segurança em troca de acolhida para seu bando do que para o salteador heróico encarnado por Errol Flynn e tantos outros astros do cinema. Mas o personagem não deixa de ser interessante por causa disso. Apenas não é o bom moço a que o público – leitor ou espectador – está habituado. E, pelo olhar de Dale, o leitor vai descobrindo seu modo de encarar a vida, suas preocupações, suas motivações.

“– Não é apenas uma simples questão de certo e errado? – perguntei. – Essas pessoas são más e devem ser punidas.
— Isso existe. Mas o certo e o errado raramente são simples. O mundo é repleto de pessoas más. Algumas pessoas até diriam que faço o mal. Mas se eu fosse correr o mundo punindo todos os homens maus que encontrasse, não teria descanso. E, se passasse a vida inteira punindo atos maus, eu não aumentaria nem um pouco a quantidade de felicidade no mundo. O mundo tem um suprimento infinito de maldade. Tudo que posso fazer é tentar fornecer proteção para aqueles que a pedem a mim, para aqueles a quem amo e que me servem. E, para proteger a mim mesmo e aos meus amigos, os homens devem me temer, e para fazer com que tenham medo de mim, preciso matar os Peverils amanhã. E você, meu jovem amigo, deve ficar na retaguarda.”
(pag.101)

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Cristine Tellier
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