Limiar
Elaine Velasco
Quando criança, meu desenho animado favorito era Os Super Amigos, que reunia Batman, Superman, Mulher-Maravilha e toda essa super-patotinha do barulho, vivendo altas aventuras. Eram histórias bem mais simples naquela época, de trama maniqueísta, onde o bem sempre vencia e havia uma lição a ser apreendida, prevalecendo o poder da amizade e do amor.
Para mim, contudo, os melhores episódios eram aqueles em que os heróis encontravam versões vilanescas de si mesmos, geralmente em universos paralelos ou de outro tempo. O mesmo personagem numa nova abordagem, novo uniforme, etc.
Talvez porque sempre gostei de novos pontos de vista sobre velhos conceitos. Encaro mudanças e reciclagem como algo positivo. Decepções às vezes acontecem, como o último filme do Superman e do Homem-aranha, ou – o pior do pior: ter o Ben Affleck como Batman! Mas… Fica a esperança pelo próximo reboot.
Esta tendência de fazer releituras de velhas histórias está em voga em todas as mídias. Lendas, contos de fadas, histórias clássicas estão sendo revisadas e recontadas, com novos aspectos, muitas vezes subvertendo papéis de vilões e mocinhos. Talvez porque andamos meio sem criatividade em nossa era do “ctrl+c/ctrl+v” ou simplesmente porque nossa cultura é cíclica, fazendo-nos voltar aos mesmos assuntos de tempos em tempos.
Meu último contato com este tipo de readaptação de lendas foi com o livro Limiar, da autora Elaine Velasco, que trás em voga a mitologia de Lilith, a primeira mulher de Adão que teria, segundo a lenda, rejeitado seu marido e abandonado o paraíso por sua vontade. Hoje em dia, Lilith se tornou símbolo pop da “resistência feminista”, por seu ato de rebeldia perante a autoridade do pai.
Nesta narrativa, a última descendente de Lilith, Ester, vive em nossos dias atuais e mora numa cidadezinha do interior de São Paulo. É uma adolescente que tem enfrentado um abrupto término de namoro e cuja vida estremecia pelo aparecimento de um estranho sedutor, envolto em mistério.
(Qualquer referência ao meu post anterior, “A Jornada da heroína” não é mera coincidência. A novela de Elaine segue pontualmente o formato lá sugerido.)
O ponto de vista narrativo, embora em terceira pessoa, é sempre o da protagonista, salvo o prólogo. Não há nenhuma surpresa no estilo da autora, mas ela não peca em falhas graves. A leitura é bastante fluida, própria para o entretenimento. Toda inverossimilhança é justificada pelo caráter lúdico da obra, que adapta sua própria versão da lenda.
Alguns pontos me incomodam, como o tom anciclopédico pelo qual envereda quando necessita explicar as lendas nas quais se baseiam a obra. Apesar de ter fragmentado em diálogos, destoa do restante do estilo.
A parte isso, ainda se mantém como um livro ótimo para literatura adolescente ou “young adult”, como tenho ouvido ultimamente.
Vale um Macchiato

Ótima resenha!
Gosto de resenhas escritas por outros escritores, pois sabemos quais pontos abordar do livro.
Abraços