O Homem Invisivel
H. G. Wells

Quem nunca pensou em ser invisível? Criança ou adulto, não tenho dúvidas de que esse pensamento – ou uma variação dele – surgiu na sua mente, independente do motivo. Espiar alguém, chegar sem ser visto, numa situação de perigo ou de vergonha… Quem nunca? Não vou mentir, pensei nisso em diversas oportunidades.

Uma das grandes evidências disto ser um grande desejo comum é que na ficção existem infinitas histórias em que há personagens invisíveis. Todo herói nos quadrinhos, desenhos e séries enfrenta um inimigo invisível em algum momento. Seja invisível metaforicamente ou de fato. Todos, pode crer.

Homem-invisível

Tão certo quanto isso é que a mais famosa de todas as histórias que envolvem esse tema foi escrita por H. G. Wells. Aliás, ele determinou boa parte dos paradigmas da ficção científica em voga até hoje. Parece que as fantasias que comumente imaginamos quando criança (viajar no tempo, contato alienígena, ficar invisível, criaturas híbridas, etc) tiveram seus axiomas determinados por ele, em forma de romances.

Todavia, é notório que ele foi além. Wells não simplesmente pega o tema e aplica numa aventura, fazendo uso dos seus clichês, mas explora os detalhes, tentando ser o máximo verossímil. Por exemplo: a despeito das vantagens de ficar invisível, ninguém geralmente pensa nos percalços e pormenores envolvidos nisso. A dificuldade nos primeiros passos ao andar sem ver o próprio corpo. Ou enfrentar um clima frio estando nu (presumindo que alguém invisível não necessariamente teria roupas invisíveis). Andar descalço na rua ou evitar deixar pegadas, marcas na lama, não ser revelado pela poluição, neve, chuva, etc… Ninguém pensa muito neste detalhes, não é mesmo?

No livro, o personagem passou por tais provações. Ao chegar numa cidadezinha interiorana de Londres, coberto de bandagens e vestindo roupas que lhe cobriam todo o corpo, apesar de invisível, Griffin chamou muito a atenção. Hospedou-se numa pensão e logo teve de lidar com a curiosidade insuflada das pessoas que o cercavam. Não demorou para que isso lhe gerasse problemas, dando início à jornada pela qual ele passaria.

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O Homem Invisível (1933)
Apesar do texto em terceira pessoa, o narrador não é necessariamente demiúrgico (quando sabe de tudo e não se envolve emocionalmente). Existe um “quê” de indireto livre (quando o narrador se importa e até sente pelo personagem). Poder-se-ia dizer até que a narração passa para a primeira pessoa. A estrutura da história não é exatamente cronológica. Provavelmente porque foi publicada em formato seriado, no jornal Pearson’s Weekly. Então existem longos trechos de flashbacks onde o protagonista conta detalhes de sua vida, caracterizando essa narração em primeira pessoa.

A linguagem do livro não é norma-culta, mas obedece aos padrões coloquiais da época (foi lançado em 1897), o que é bastante norma-culta pra nós hoje em dia. Não chega a ser uma estética primorosa. O que é compreensível porque era elaborado para a massa de leitores do jornal. Mas o autor é bastante brilhante em algumas figuras de linguagem, denotando uma grande sensibilidade poética.

É interessante notar que apesar de Griffin ser um vilão, a abordagem do autor não é maniqueísta. Seu passado é desfraldado e analisam-se a motivações e gatilhos que levaram-no a ser o que é, gerando certa empatia. Hoje em dia isso é comum (quem não tem seu malvado favorito?), mostrar os dois lados da moeda e etc. Mas em 1897 esta não era uma roupagem comum para um personagem. Haja vista que Drácula, de Bram Stoker foi lançado no mesmo ano e é um vilão arquetípico: mau por ser mau.

Hollow Man (2000)
Em relação a acuidade científica, claro, trata-se de um ficção e portanto, não tem essa obrigação. Mas o autor é bastante convincente. Wells estudou biologia e, portanto, soube usar elegantemente termos técnicos e científicos, sem exageros no entanto.

Confesso que tive alguns incômodos com soluções de determinadas tramas que cheiram um pouco a deus ex machina, mas são perdoáveis. É compreensível que numa publicação periódica possa haver oscilações na direção da trama. Em essência, contudo, o livro encerra-se muito bem e não deixa pontos em aberto.

Como clássico, mantém-se plenamente atual, digno de uma leitura acompanhada de um ótimo capuccino.

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