Não sei se acontece com vocês, mas há autores que dão certa apreensão até lê-los pela primeira vez. Não que sejam do gênero terror ou suspense, mas eles têm uma reputação tão proeminente que parece repelir um pouco, causando um certo receio de não gostar ou não entender a proposta do tal fulano. Assim, tenho procrastinado tomar em mãos Guerra e Paz de Tolstoi, bem como Ulysses de Joyce. Até por que ambos são grandes calhamaços de papel que tomarão um belo tempo e que são difíceis de carregar no metrô.

Pensava desta forma a respeito de Bernard Cornwell. O nosso amigo é famosíssimo pelas trilogias As Crônicas de Artur e A Busca do Graal(resenha do primeiro volume aqui) e, sobretudo, pela veracidade histórica que passa em seus livros. Quando, porém, ganhei da minha querida Cristine de aniversário O Condenado, obriguei-me a enfrentar o senhor Cornwell.

A trama segue o estereótipo do “lobo solitário”, aquele herói de guerra, de rígida moral, que perdeu tudo e está enfrentando a vida, afastando-se de todos em busca de se reencontrar. E, em dado momento, lhe aparece a chance de resgatar a dignidade, não sem passar por uma prova de fogo. Algo que lembra Rambo, O Último Samurai, Musashi e o velho e bom Clint Eastwood em Por Um Punhado de Dólares.

O Capitão Rider Sandman, veterano nas Guerras Napoleônicas, vê-se falido e cheio de dívidas, tendo de viver como jogador de críquete, atividade não muito rentável. Então é convidado pelas autoridades locais a investigar o caso de um assassinato. O homem que foi condenado contesta sua culpa e Rider, relutante, compra a ideia de provar sua inocência.

o condenado, de bernard cornwell - capa

Diferente do padrão clássico Inglês, que costuma ser mais severo e visceral, este livro segue fielmente a estrutura de romances norte-americano (aliás, já é o terceiro que pego em sequência, preciso dar um tempo). Ou seja: capítulos curtos, leves cliffhangers ao final de cada um deles, pontos de virada no primeiro terço, no meio e próximo ao clímax.

Os personagens têm seus arquétipos muito bem delineados: o herói, a mocinha, o parceiro, o mentor, o vilão, o capanga, etc. Dá certos lampejos de se aprofundar em alguns deles, mas parece que o autor não quis arriscar. É narrado em terceira pessoa e o ponto de vista está sempre sob os olhos do herói, Rider Sandman. Aliás… É engraçado como a sonoridade dos nomes refletem as personalidades: Rider (cavaleiro, em português) Sandman (o deus do sonhos na mitologia norte-européia) ou o Marquês Skavadale (o sufixo “dale”, em inglês é comumente associado a coisas rasas e pequenas, vem de “vale” e as cidadezinhas que lá se instalavam).

De fato, há muitas referências históricas no decorrer do livro. Até um pouco exagerado, pois tem-se a impressão de que todo personagem faz um relato histórico ou passa uma lição sobre aquela cena. Quase como aqueles filmes educacionais que assistíamos na escola. Não satisfeito, ainda há uma nota do autor no final do livro, explicitando suas referências. Ao meu ver, desnecessário.

Mas apesar das digressões históricas, o livro não perde ritmo. Flui facilmente e sem muitas surpresas. Cornwell faz uma tentativa de fomentar mistério e investigação, mas revela-se totalmente previsível. É, no entanto, uma leitura agradável e que nos faz conhecer mais detalhes sobre o sistema penal inglês e os hábitos britânicos pelos idos de 1820.

Vale um Macchiato: [rating=3]

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