Escrevi meu post mais recente sobre preconceito contra a Jornada do Herói . E abordando essa delicada questão, ocorreu-me um outro assunto sobre o qual já vi grandes leitores/escritores torcendo seus eruditos narizes: livros de auto-ajuda. Quando eu comecei a ter um relacionamento mais sério com a literatura, este gênero foi um dos degraus que galguei no caminho ambicioso de me tornar um grande leitor/escritor. Tive um vislumbre quanto a ser possível absorver todo conhecimento da humanidade através dos livros. Pensamento tal que ainda cultivo. E, dessa forma, nunca vi o gênero auto-ajuda com demérito. Penso que, como em todos os gêneros, tem-se tanto exemplares medíocres quanto geniais. Além do mais, se pararmos para pensar que, independente do gênero, de todo livro (bom) absorvemos algum conhecimento, logo “auto-ajuda” é algo inerente à toda literatura.

Contanto que o autor não tente subestimar minha inteligência com promessas utópicas, não vejo nada de errado em ler sobre suas experiências e relatos que, algumas vezes, são sugeridos em forma de métodos. Se você está prestes a entrar em algum campo de atuação que não conhece, ou talvez, esteja enfrentando algum problema pelo qual outras pessoas já passaram, ou ainda, simplesmente gostaria de expandir sua ideias com diferentes prismas, nada mais natural do que recorrer à literatura. Obviamente que a grande maioria não traz soluções fantásticas, tampouco profundas sobre os assuntos que abordam. Mas para quem se encontra na escuridão, um pontinho luminoso é melhor do que nada.

Em 2008 eu estava atuando como gerente de projetos numa consultoria de TI. Já havia tido uma experiência anterior em gerenciar equipes de programadores e foi bastante gratificante. Comecei então a procurar livros sobre liderança e sobre gestão de pessoas. Dentre outros, me caiu em mãos o “Transformando Suor em Ouro” do Bernardinho.Transformando Suor em Ouro Alguns colegas que me flagraram com ele não perderam a oportunidade de fazer galhofas. Coisa que nunca me intimidou. O livro trazia um relato sobre a vida do treinador, como desenvolveu seu gosto pela área técnica esportiva, seus ídolos e modelos e todo caminho até a medalha de ouro nas olimpíadas de Atenas. Baseado em sua experiência de vida, Bernardinho chegou num “modelo/método” para a conquista de objetivos. O livro trazia excelentes referências bibliográficas (por ele conheci o livro “Da Guerra” , de von Clausewitz que acabou se tornando um dos meus de cabeceira) e me deixou claro que a obsessão do técnico por treinar, treinar e treinar era a razão primordial de suas vitórias.

Um pouco antes, por volta de 2002, passei por uma forte crise profissional e pessoal. Me vi sozinho numa cidade alienígena, onde meus “amigos” Um Minuto Para Mimhaviam se mostrado belíssimos filhos-da-puta e meu chefe fazia questão de demonstrar toda sua ojeriza sobre minha pessoa. Não sou do tipo depressivo, pelo contrário. Mas admito que sou humano e às vezes as pernas dobram quando o peso é muito grande. Fortuitamente, achei um livrinho velho, de páginas caindo, chamado “Um Minuto para Mim”, do famoso no gênero Spencer Johnson. Foi legal… Usando como cenário uma parábola bem sucinta, ensinava técnicas rápidas e simples de relaxamento e para aliviar o estresse. Ajudou a me manter centrado e salvou meu ex-chefe de tomar umas porradas.O Gerente Minuto

Tendo gostado deste, procurei outro do mesmo autor. O clássico “O Gerente Minuto”, cuja experiência foi semelhante. Considero este o “conto de fadas” dos auto-ajuda. Porque cria uma fábula quase infantil sobre a forma de gerenciamento de pessoas no mundo corporativo. Traz conhecimentos bem triviais, mas que vi em pouquíssimas pessoas que atuam em papéis de liderança. Deveria ser leitura obrigatória para a formação destes profissionais.

Sempre tive noção dos meus problemas: A sufocante timidez na adolescência, Desvendando os Segredos da Linguagem Corporala dificuldade em ser “político” no meio corporativo, minha terrível tendência à procrastinação… Para citar apenas os mais leves. Assim, já recorri a um ou outro livro de auto-ajuda na intenção de mitigar minhas falhas. Um, bastante interessante, foi o “Desvendando os Segredos da Linguagem Corporal”. Basicamente, dá algumas dicas de sociabilização através da análise da expressão corporal alheia e a da sua própria. Sabemos que uma forma de olhar para alguém pode fazer toda diferença no conceito que aquela pessoa cria sobre você. Num mundo tão interdependente quanto o do mercado de trabalho, pequenos gestos podem fazer a diferença entre promoção e demissão.

Neste exato momento, estou lendo “Para Ler Como Escritor” de Francine Prose. Para Ler como EscritorUm ensaio sobre “Close Reading”, tomando como base grandes obras da literatura. “Ah, mas este não é auto-ajuda, é sobre crítica e criação literária!” Será? Para mim ele está propondo um conhecimento, técnicas e métodos tanto quanto quaisquer um desses que citei acima. Assim, como disse antes, todo livro que passa conhecimento – intencional ou não – deveria ser de “auto-ajuda”. Logo, Dostoievski, Machado de Assis e Clarice Lispector deveriam ser os magos da auto-ajuda literária. 😉

“Eu passei três dias por semana, por 10 anos, educando-me na biblioteca pública, e isso é melhor do que faculdade. As pessoas deveriam educar a si mesmas – você pode obter uma educação completa por zero de dinheiro. Ao final de 10 anos, eu tinha lido todos os livros da biblioteca e tinha escrito mil histórias.” (Ray Bradbury)

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