Hitler & Churchill: Os Segredos da Liderança
Andrew Roberts

Este livro é um trabalho esplêndido. O Sr. Andrew Roberts remonta o cenário tempestuoso da Segunda Guerra e compara as posturas dos dois maiores protagonistas do episódio. Desde suas primeiras aparições públicas, até o final de suas carreiras.

Suas explicações, extremamente coerentes e são galgadas em referências bibliográficas que ele cita constantemente a fim de tranqüilizar o leitor de que suas palavras tem como base algo tangível.

Hitler & Churchill

Além de tudo, algo que considero digno de louros foi a imparcialidade que ele procura manter ao referir-se aos Senhores Hitler e Churchill. Ainda que cidadão britânico, não pode-se dizer que ele tenha favorecido o Primeiro Ministro, seu líder inspirador. Nota-se, contudo, que esteve tentado a isto, porém esmerava-se constantemente para manter-se fora do tradicional e taxativo julgamento negativo sobre o Chanceler Nazista.

Deixou claro, todavia, que – assim como eu – não tem qualquer simpatia pelo nazismo ou pelo anti-semitismo e que reprova as políticas violentas, assassinas e ditatoriais empreendidas por este partido (Escrevi recentemente um texto para o blog Hanimus, do meu saudoso amigo Rodrigo Sturm, que pode dar uma visão sobre minha opinião em relação a este assunto).

À parte a crueldade inumana do regime nazista e do próprio Hitler em pessoa, é impossível não reconhecer o quão genial fora este homem quem levantou uma nação inteira e sozinha contra o resto do mundo. Sendo suas técnicas de oratória e sua postura rígida e disciplinar aquilo que sempre me impressionaram, mesmo antes de eu tê-las repassado na leitura do livro. Não obstante, Churchill era um líder mais “bonachão”, do tipo que senta com seus subordinados ao final do dia para bebericar e contar piadas. Algo totalmente inimaginável para o Führer.

Obtive do primeiro ministro britânico uma imagem que, de certa forma, não conhecia, pois sua presença e atuação na guerra sempre fora ofuscadas pelo terror megalômano que ela trouxe. Vejo então o quanto foi um líder não menos admirável. Era ele também exímio orador (ponto que sempre considerei imperativo para qualquer líder ou político) cabendo-lhe assim segurar com um esforço hercúleo a moral do povo Britânico nos momentos mais tétricos da guerra, quando já não via-se nada no horizonte, além do maremoto nazista. Foi do tipo inspirador e controlador, entregando-se ao trabalho com todo seu espírito. Envolvia-se em cada setor do Estado, procurando evitar a burocracia e melhorar processos, desde a copeira até as estratégias militares mais arriscadas durante os combates.

hitler

Já Hitler parecia sempre delegar e ver as coisas de fora. Sendo que suas únicas intervenções diretas no trabalho de seus subornados causaram desastres, colaborando veementemente para sua derrota.

Um das maiores diferenças entre estes senhores eram suas formas de interação com as pessoas a sua volta. Hitler era um ditador sob todos os aspectos. Cercava-se somente de pessoas em quem poderia confiar, ainda que esta confiança não era do tipo conquistada, mas do tipo chantageada. No sentido real da palavra, nunca pareceu confiar em ninguém. Enquanto Churchill considerava saudável manter por perto todo tipo de pessoa, desde excêntricos até seus críticos e inimigos políticos. Atitude inteligente de tal forma que lhe proporcionava manter a si mesmo sobre constante vigilância, no sentido de não cegar-se pelo poder.

E fora justamente esta característica, numa proporção continental, que faria com que os nazistas fossem subjugados, pois Hitler teve pouquíssimos aliados, aos quais sempre explicitou seu desprezo. Enquanto Churchill ardilosamente manteve constante flerte com as outras super-potências da época, até que formou-se a força dos Aliados.

Churchill era relativamente descuidado no que diz respeito a sua imagem pública. Cometia gafes e tinha hábitos como fumar charutos e consumir álcool, embora o autor procura enfatizar que as acusações de que ele era uma alcoólatra são falsas. Mas tinha um jeitão de “boa-praça” e era emotivamente sensível, o que conquistava o carisma do povo.

Em contra partida, o Chanceler Alemão era muito rigoroso com sua saúde. Não fumava, não bebia e não comia carne. Tinha uma preocupação constante e até doentia com sua imagem. Assim, admiravelmente, mantinha-se sob disciplina cerrada. Queria ser visto como um exemplo supremo, um deus. Tanto que nunca permitiu casar-se ou ter família. Inclusive, sobre este aspecto, o autor comenta as alusões de ele ser homossexual e, embora não desconsidere a hipótese totalmente, traz à voga uma série de fatores que praticamente invalidam essa possibilidade. Em minha humilde conclusão, parece muito mais provável que ele se considerasse superior o bastante para ter asco de relações sexuais com quaisquer outros indivíduos. Homens ou mulheres.

churchill

Quanto às semelhanças entre eles, além da já citada oratória – crucial para que Hitler pudesse imputar o nazismo para os alemães, dando-lhe assim, sustentação e alma própria, quanto para Churchill para evitar que a Grã-Bretanha sucumbisse a essa idéia, assumindo postura de derrota ante um poder tão implacável – destacava-se a questão da propaganda política, utilizada de forma brilhante pelos alemães e mais tarde copiada pelos ingleses e o resto do mundo até os dias de hoje. Além disso, ambos eram intelectuais. Acreditavam no poder da análise histórica e das artes para formação do caráter humano. Algo muito avesso aos nossos atuais políticos…

Aliás! Falando neles… O autor faz uma formidável introdução onde comenta justamente a incomparabilidade dos políticos atuais para com os grandes líderes do passado. E, diga-se de passagem, ao fazer a mais banal comparação entre eles noto que é realmente difícil apontar algum que tenha de forma visível metade das qualidades de qualquer um dos dois, Churchill ou Hitler. Atualmente todos competem “pau-a-pau” com os infames e medíocres comediantes dos programas humorísticos da TV aberta brasileira.

Certamente, se as posturas de nossos atuais lideres proporcionassem metade da inspiração e das conquistas que estes dois homens ofereceram à suas nações, teríamos condições de sermos também pessoas melhores. Entendendo os conceitos éticos também através de seus exemplos, elevaríamos o “povão”, sempre taxado de inculto e de manipulável, à um outro patamar de evolução. Resolvendo grande parte de todos os nossos problemas cujos pontos de origem parecem ser sempre apenas um: a carência de ética.

Enfim, leitura altamente recomendável.

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2 Replies to “Hitler & Churchill: Os Segredos da Liderança”

  1. E uma questão interessante:
    Dois homens:
    Um é:
    Descuidado, mulherengo, comete imensas gafes, possivel alcoólatra, fuma charutos.
    O outro:
    Não fuma, não bebe, vegetariano. Ambientalista. Cuidadoso. Comunicativo. Idealista. Genial.

    Qual destes idealmente deveria ser escolhido para liderar uma nação?

    Conhecer não se resume apenas a caracterizar, definir, ou medir “qualidades”.

    “O mapa não é o território”

    bom post mr. Douglas

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