A glória e seu cortejo de horrores
Fernanda Torres

A glória e seu cortejo de horrores acompanha as desventuras de Mario Cardoso, um ator de meia-idade, desde os dias de sucesso como astro de telenovela até o total declínio quando decide encenar uma versão de Rei Lear — e as coisas não saem exatamente como esperava. O livro atravessa diversas fases da carreira de Mario (e da história recente do Brasil), suas lembranças de juventude no teatro político, a incursão pelo Cinema Novo dos anos 1960, a efervescência hippie do Verão do Desbunde, o encontro com o teatro de Tchékhov, a glória como um dos atores mais famosos de uma época em que a televisão dava as cartas no país.
(fonte: https://www.companhiadasletras.com.br/)

a-gloria

Este é o terceiro livro lançado pela autora, que já publicou Sete anos, que reúne crônicas já publicadas, e Fim, seu primeiro romance. O título, conforme informado pela atriz em várias entrevistas, é uma frase dita pela sua mãe, a atriz Fernanda Montenegro, que sempre chamava sua atenção: “É a glória e seu cortejo de horrores, Fernanda”.

Em linhas gerais, a trama assemelha-se à do filme Birdman, em que o personagem de Michael Keaton, Riggan Thomson, se envolve na montagem ambiciosa de uma peça da Broadway. Tanto Thompson quanto Mário Cardoso estão tentando resgatar o brilho de suas carreiras ao mesmo tempo que relembram e reflitem sobre sua trajetória no meio artístico.

A primeira parte do livro, bem maior que a segunda, é narrada em primeira pessoa. Verborrágico e intenso, Mário Cardoso discorre sobre sua vida pessoal e seus momentos de glória. O protagonista inicia narrando os percalços da montagem da peça shakespeariana e, a partir daí, segue rememorando sua trajetória profissional. Indo desde sua estreia no teatro, contracenando com Sônia Braga; passando pela montagem de peças de autores consagrados – Plínio Marcos, Tchekov, Brecht, entre outros – e pelo sucesso como galã de telenovelas; até a degringolada de sua carreira, corroída pelo mercado e pela indústria do entretenimento, num retorno patético e inglório às telas – nas novelas bíblicas da emissora concorrente. Como a narrativa não é linear, é parte da diversão o leitor ir reconstruindo a linha do tempo, juntando e alinhando os eventos da trama.

“Interrompi a cena, aleguei não entender a razão do personagem. O diretor, já irritado com meu rendimento, me encarou estupefato. Razão do personagem?!, exclamou. Qual a motivação para tratá-la assim?, insisti. A motivação, ele respondeu, é cumprir o que está escrito, é honrar o contrato, é merecer o salário, é decorar o texto, é não vir com problema a uma hora de encerrar um dia com sete cenas penduradas; é dar graças a Deus por ter arrumado esse emprego sem precisar mendigar dinheiro naquele teatro de bosta que você faz; está bom de motivação para você?”
(p.129)

fernanda-torres
Fernanda Torres
Na segunda parte, em menos de 20 páginas, o narrador onisciente narra a apoteose tragicômica do protagonista que, flertando com a loucura, consegue de forma incomum a resolução de seus infortúnios.

O tom machista e canastrão, somado à narrativa repleta de clichês incomodam um pouco. Mas talvez a autora tenha feito uso desses recursos justamente para demonstrar com maior acuidade a personalidade do protagonista, suas neuras, suas qualidades, seus defeitos.

Para quem viveu a época retratada na história ou que consegue reconhecer todas as referências, o livro é diversão garantida. E, acredito que mesmo para os demais, a escrita sempre ágil e cáustica de Fernanda Torres garante a fluidez da leitura.

“O livro é um painel corrosivo de uma geração que viu sua ideia de arte sucumbir ao mercado, à superficialidade do mundo hiperconectado e à derrocada de suas ilusões. Tudo isso descrito com doses generosas de um humor afiado e meio amargo, espécie de marca d’água de Fernanda Torres.”
(fonte: orelha dlivro)


bt_leia

[cotacao coffee=”macchiato”]

[compre link=”https://amzn.to/2Q2kMie” bookstore=”amazon”]


Cristine Tellier
Últimos posts por Cristine Tellier (exibir todos)
Send to Kindle

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *