A vantagem humana
Suzana Herculano-Houzel

“Elefantes têm cérebros maiores que os humanos. Então por que somos mais inteligentes? Remontando ao homo erectus, que viveu há um milhão e meio de anos, a neurocientista brasileira Suzana Herculano-Houzel demonstra sua instigante tese de que o desenvolvimento extraordinário do cérebro humano não foi um desvio excepcional na evolução das espécies, mas uma decorrência da prática exclusivamente humana de se cozinhar os alimentos.”
(fonte: companhiadasletras.com.br)

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Mais uma leitura de não-ficção. Este, mais ainda que os anteriores pois, de uma forma ou de outra, tanto Z: a cidade perdida quanto Os últimos dias da noite têm um fio narrativo que as conduz. Neste há também, já que Suzana passou por várias situações curiosas, mas o foco é sua pesquisa, ou ainda, os resultados e as conclusões a que estes a levaram.

No primeiro terço do livro a autora descreve as premissas de sua pesquisa e o que a levou da Biologia à Neuroanatomia e como foi essa transição. Ela conta a dificuldade em conseguir apoio financeiro e, depois dos primeiros resultados, a dificuldade em convencer seus pares sobre a acuidade do seu método de contagem de neurônios. E entremeia esses eventos com uma série de “causos”, a maioria deles envolvendo o transporte de cérebros e formas de transformá-los em sopa de neurônios.

“Liguei para a agência da Anvisa no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro, onde eu pretendia aterrissar, e fiz uma pergunta que provavelmente era uma das mais estapafúrdias que eles já tinham ouvido: ‘Alô, dou uma cientista que vai visitar um colaborador na África do Sul e queria saber se na volta posso trazer na mala um cérebro de elefante’. Mas a funcionária na outra ponta da linha não se perturbou. ‘Um cérebro de elefante. Vivo?’ (O quê?) ‘Não, minha senhora, mortinho da silva’. ‘Então pode’.”
(p.71)

“Mas a moça da Anvisa dera a informação correta. Fui parada na alfândega, sim, depois de minhas malas passarem pelo raio X – mas só porque os agentes pensaram que eu estava trazendo queijo fresco altamente proibido, como o casal de portugueses que eles tinham revistado antes de mim. ‘Não, são apenas cérebros para uma pesquisa em colaboração com uma universidade da África do Sul’.”
(p.76)

Em outro trecho, conta ter conseguido adquirir vários animais vivos. Animais que precisariam ser abatidos e dissecados para obtenção dos cérebros. Ela descreve sua satisfação ao descobrir que tinha uma habilidade surpreendente para manejar uma serra elétrica e fazer cortes precisos:

“Às vezes me divirto pensando nas informações que eu poderia mensionar em uma nova seção de ‘Outras habilidades’ no meu curriculum vitae: transformar cérebros em sopa; detectar com estranha facilidade números errados em tabelas de dados dos alunos; cortar filés de antílope, elande e crodocilos; fazer cortes delicados com serra elétrica.”
(p.75)

O segundo terço é, talvez, o mais cansativo. Páginas e páginas de gráficos semelhantes – aliás, extremamente semelhantes – comparando os resultados sobre a análise dos cérebros: tamanho, quantidade total de neurônios, quantidade relativa de neurônios, quantidade de neurônios no córtex, quantidade no cerebelo, relação entre total de neurônios e tamanho do cérebro, relação entre total de neurônios e tamanho do corpo, etc. etc. etc… É interessante, mas é apenas um preâmbulo para o que realmente interessa: a análise dos resultados e o que, durante a evolução, possibilitou o aumento da quantidade de neurônios no homo sapiens.

Antes de mais nada, fica claro que a espécie humana não é excepcional. Não há nada de especial no fato de termos cerca de 16 bilhões de neurônios no córtex cerebral – número obtido com a técnica da “sopa de neurônios”, desenvolvida pela autora. Esse número de neurônios é mais ou menos o que se espera para um primata do nosso porte. Durante a evolução dos primatas, seus organismos “descobriram” como armazenar mais células cerebrais em um mesmo volume. Algo que, sim, diferencia os primatas de outros mamíferos mas, não, não diferencia os humanos dos outros primatas. Aliás, quem foge à regra são os grandes primatas – gorilas, orangotangos, etc. Conforme concluído pela equipe de pesquisa da autora, foi o custo energético de manter um corpo daquele tamanho E ao mesmo tempo um cérebro com mais neurônios que limitou esse aumento.

Ótima leitura para nos munir de argumentos contra a ideia tola de que humanos são especiais e que a única finalidade da evolução era criar os seres humanos.

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Para saber mais:

Ouça:
Counting Neurons with Dr. Suzana Herculano-Houzel (BS 133)

Assista:

Cristine Tellier
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