Z: A cidade perdida
David Grann

“Em 1925, o explorador britânico Percy Fawcett embrenhou-se na Amazônia para encontrar uma antiga civilização, prometendo fazer uma das mais importantes descobertas arqueológicas da história. Durante séculos os europeus acreditaram que a maior floresta do mundo escondia o reino de Eldorado. Milhares morreram nessa procura. Com o tempo, muitos cientistas passaram a considerar a Amazônia uma armadilha mortal que jamais poderia abrigar uma sociedade complexa. Mas Fawcett passou anos elaborando sua tese científica e embarcou nessa aventura com o filho de 21 anos, determinado a provar que essa antiga civilização – que ele chamou de “Z” – existia. Mas Fawcett e sua expedição desapareceram para sempre.
(…)
Durante décadas, cientistas e aventureiros procuraram por vestígios da expedição de Fawcett e da cidade perdida de Z. Muitos pereceram, enlouquecidos ou capturados por tribos hostis. Assim como as gerações que o precederam, David Grann acabou atraído pelo “inferno verde” da floresta.”
(fonte: companhiadasletras.com.br)

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A vontade de ler o livro veio ao escrever a crítica do filme – produção de 2017, roteiro e direção de James Gray, com Charlie Hunnam no papel de Percy Fawcett. Ao procurar o livro em que se baseia o roteiro, para saber se a modorrice da narrativa se originava do livro, descobri que este está muito longe de ser monótono e insosso como o filme. Ao contrário, é super intenso, refletindo a personalidade do explorador. O roteiro falha vergonhosamente em mostrar que Fawcett era obcecado por encontrar a tal cidade perdida.

Grann, um repórter da The New Yorker, em sua pesquisa sobre a vida de Fawcett é também contagiado pelo “vírus expedicionário”, sentindo-se compelido a se enfiar na Amazônia para entender o mistério do desaparecimento de Fawcett. E isso deixa o livro ainda mais interessante. O autor contrapõe a aventura de Fawcett com sua própria ao se embrenhar na selva.

“- Você vai para a Amazônia tentar encontrar alguém que desapareceu duzentos anos atrás? – perguntou Kyra, minha esposa. Era uma noite de janeiro de 2005 e ela estava na cozinha do nosso apartamento, servindo macarrão de gergelim frio do restaurante Human Delight.
– Foi só oitenta anos atrás.
– Então você vai procurar alguém que desapareceu oitenta anos atrás?
– Basicamente, essa é a ideia.
– Como você sabe onde procurar?
– Eu ainda não planejei essa parte. – Minha esposa, que é produtora do programa 60 Minutes e extremamente sensata, pôs os pratos na mesa e ficou esperando que eu me explicasse. – Não é assim, eu não vou ser o primeiro – expliquei. – Centenas de outros já fizeram isso.
– E o que aconteceu com eles?
Dei uma garfada no macarrão, hesitante. – Muitos deles desapareceram.”
(p.50)

Há, na vida de Fawcett, inúmeros fatos interessantes – além de ele ser um Indiana Jones da vida real, obviamente. Ele não só era contemporâneo de Sir Arthur Conan Doyle, como os dois era amigos – Grann teve acesso à correspondência entre eles. E, como se não bastasse, as aventuras de Fawcett e o próprio Fawcett serviram de inspiração para uma obra de Doyle, The lost world.

fawcett
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Além da correspondência de Fawcett, Grann teve acesso a diários de Fawcett e documentos da época em que esteve a serviço da Royal Geographical Society. Conseguiu, assim, informações sobre seus métodos, sobre o planejamento de suas expedições, a busca por patrocínio e por parceiros de aventura, o convívio com a família. Pode-se dizer que ele foi o último grande explorador “das antigas”, sem GPS, sem celular ou telefone via satélite, enfim, sem qualquer aparato high-tech, apenas mapas, mochilas, suprimentos, a cara e muita coragem. Como diz a bisneta de Fawcett:

“Na verdade eu invejo meu bisavô”, disse Isabelle. “Na époda dele a gente ainda podia sair por aí descobrindo partes desconhecidas do mundo. Agora, pra onde a gente pode ir?”. (p.119)

Para leitores brasileiros, há o interesse adicional causado pelo fato de o autor – assim como Fawcett – citar fatos e locais conhecidos. Ao falar da Amazônia no período áureo do ciclo da borracha, Grann cita outro historiador:

“‘Nenhuma extravagância, por mais absurda que fosse, os detinha’, escreveu o historiados Robin Furneaux em L’Amazone. ‘Se um barão da borracha comprasse um iate, outro hospedaria um leão em sua mansão, e um terceiro lavaria o cavalo com champanhe’. E nada era mais extravagante que o teatro de ópera, com seus mãrmores italianos, murais vitorianos e um domo banhado com as cores da bandeira nacional.”
(p.104)

Grann faz o leitor acompanhar sua aventura na selva, enquanto ele próprio tenta seguir os passos de Fawcett e entender o que aconteceu na última expedição, de 1925. E, nessa jornada, encontrou o que possivelmente foi a tal cidade perdida que Fawcett tanto procurou. Foi preciso um arqueólogo gringo, Michael Heckenberger, obcecado pelas ideias de Fawcett, para descobri-la.

“Os antropólogos, explicou Heckenberger, “cometeram o engano de virem à Amazônia no século XX, estudarem somente as pequenas tribos e dizer: ‘Bem, então é só isso’. O problema é que nessa época muitas populações indígenas já tinham sido extintas pelo holocausto que foi o contato com os europeus. É por essa razão que os primeiros europeus na Amazônia descreveram assentamentos tão grandes que ninguém nunca mais conseguiu encontrar.”
(p.337)

Super competente como livro-reportagem, é também um prato cheio para os amantes de aventuras. Afinal, nada como ler relatos reais de grandes expedições.

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Cristine Tellier
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