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O Guia Completo do Storytelling
Fernando Palacius e Martha Terenzzo

Em 1989, eu então com meus tenros sete anos de idade, saía da escola e ia direto para o escritório de contabilidade dos meus pais. Nesta época ainda não era um ávido leitor, de maneira que tinha de inventar formas improvisadas de me divertir naquele ambiente cercado de máquinas de escrever Olivetti, notas fiscais e rolos de papel das velhas calculadoras de mesa Toshiba.

Compadecido com minha situação, um primo que na época trabalhava lá comprou-me um livro que ensinava a fazer origami, aquelas pequenas esculturas de papel japonesas. Cara! Eu amei aquilo. Era como fabricar seus próprios brinquedos! Gastava resmas e resmas de papel no escritório. Fazia na escola para brincar com os colegas e etc.

Mas nem tudo era perfeito. O livro era separado em categorias: fácil, médio e difícil. E as figuras no nível difícil eram para mim, de fato, indecifráveis. Simplesmente parecia que as instruções mostravam no passo 1 uma folha de papel e no passo 2 já era um Davi de Michelangelo.

Lembro de pedir ajuda a diversas pessoas que também não conseguiram decifrar as imagens, demonstrando que o problema não era exatamente eu, mas a metodologia do livro.

Aprendi então, duas lições. Primeira: é possível aprender sozinho buscando conhecimento nos livros. E a segunda: não é porque está escrito num livro que está correto, ou que é a melhor forma de explicar o assunto. Aos sete anos, era uma grande conclusão.

Lembro, nitidamente, do sentimento de frustração que associo quando me deparo com situações semelhantes hoje em dia. Estou sempre em busca de livros dos mais diversos assuntos que façam aprimorar meus conhecimentos literários. Recentemente li A Criação do Personagem, de Stanislávski e, numa grata surpresa, flagrei-me maravilhado com o conhecimento que foi possível extrair dele.

Der Grossvater erzählt eine Geschichte
Der Grossvater erzählt eine Geschichte – Albert Anker [Public domain], via Wikimedia Commons

Pois bem… Há algum tempo venho cavando atrás de um assunto que me chamou atenção: Storytelling. Esse termo (podemos traduzir grosseiramente como “contando histórias”) é recorrente no meio literário, cinematográfico e na área de marketing. Também ouve-se en passant na área administrativa.

Pelo pouco que pesquisei, entendi que se tratam de técnicas para construir uma narrativa. É aplicável, de maneira evidente, nestas áreas que comentei. E em quaisquer outras áreas, haja vista que uma boa história sempre serve como ferramenta lúdica e eficiente de transmitir uma ideia ou instrução. E, como escritor, claro que eu quero saber mais sobre técnicas narrativas.

Foi assim que cheguei ao livro O Guia Completo do Storytelling, de Martha Terenzzo e Fernando Palacius. O título é pretensioso. O preço também. Antes de comprar, dei uma lida nos primeiros capítulos pelo Google Books. E, confesso, me fisgou.

Na introdução os autores citam a dificuldade de encontrar informações sobre o tema. Comentam o quanto é importante conhecer a estrutura das histórias e narrativas e, sim, sim, sim! Eu concordo! É isso mesmo que eu estava procurando!

Livro comprado, dei uma apressada para terminar o que estava lendo, ansioso para começar este. E, uma vez iniciado, algo estranho aconteceu…

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Os autores, presumivelmente, optaram por usar a técnica do storytelling para escrever sobre isso. E através da análise de diversos cases, vão elucidando os conceitos da coisa. O problema é que, lá pela página 200 eu ainda estava lendo análises de cases, mas técnica mesmo… Quase nada.

Exemplos são uma excelente forma de ensinar as coisas. Mas, academicamente, tem a hora em que você precisa colocar os números no papel e demonstrar o mecanismo da coisa. Não se ensina eletrônica digital apenas exibindo um aparelho pronto. Antes tem de falar de eletricidade, relés, condutores e desenhar circuitos para no fim mostrar um dispositivo como resultado.

O estilo narrativo dos autores é excelente. Demonstram uma facilidade grande em manter a atenção do leitor, contam histórias, cases e fatos realmente interessantes. Mas quanto ao conteúdo em si, o storytelling, a construção de uma narrativa com técnicas, passa batido.

A sensação constante durante a leitura é de que eles estão apenas defendendo o uso da técnica, dizendo “Veja! Funciona! Fulano fez e deu certo!”. Okay, eu vi que deu certo. Mas agora me mostra como fazer.

Seria injusto dizer que não foi possível pinçar uma ou outra informação e esclarecimento sobre o tema. Em meio aos entulhos de texto encontra-se uma ou outra fagulha de técnica. Mas usar o título “O Guia Completo…” foi apenas uma jogadinha sacana de marketing.

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Martha Terenzzo e Fernando Palacius (foto: http://www.sinaprosp.org.br)

No último terço do livro, notei que eles começaram a repetir os exemplos, citar argumentos que já haviam citado. Folheei mais para frente, numa “leitura dinâmica” e assim desisti de continuar. Raramente faço isso, mas a vida é muito curta para perder tempo com leituras ruins.

Enfim… Talvez eu tenha interpretado erroneamente a proposta do livro. Ou tenha sido um leitor relapso que não soube capturar o sentido das histórias relatadas. Mas, em outros livros, ratifiquei a máxima que havia aprendido aos sete anos de idade: se um autor precisa ficar explicando pras pessoas aquilo que escreveu, é porque tem algo errado no livro, não no leitor.

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2 Replies to “O Guia Completo do Storytelling”

  1. Boa noite! Muito obrigado pelo comentário. Desconfiei um pouco do livro e não sem razão. Obrigado pela análise. Serviu para corroborar a minha intuição de que estava fazendo um péssimo negócio.

    1. Olá Leo! Obrigado por nos visitar! Pois é… O livro não era exatamente o que eu esperava. Mas também não acho que seja um desperdício total. Se você conseguir um exemplar mais em conta, valeria a pena como leitura de espera de consultório ou de banheiro. Duro é pagar quase setenta contos, como eu paguei… Devia ter reembolso. ¬¬

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