Correr
Drauzio Varella

Drauzio Varella é médico oncologista, autor de best-sellers, voluntário na penitenciária feminina de São Paulo e pesquisador, tendo se tornado célebre por suas intervenções na TV e na mídia impressa. Mas consegue há mais de vinte anos, conciliar esse atribulado dia a dia com a prática regular de exercício físico.
Para Drauzio, correr não é apenas um hobby: é o que lhe dá o equilíbrio, a força e a serenidade necessária para enfrentar os desafios da vida.
(fonte: quarta capa do livro)

correr-capa

Apesar de ultimamente ter relaxado nos treinos, ainda me considero uma corredora. Não apenas corredora. Depois de encarar duas maratonas, acho que estou no direito de me autodenominar maratonista. E, já tendo lido vários relatos do dr.Drauzio em revistas e sites de corrida, já conhecendo a verve cronista dele, o livro entrou rapidamente para minha lista de compras. Entrou para a lista e furou a fila, como não poderia deixar de ser. Passei-o na frente de dezenas de outros “esperando” por mim.

E não me arrependi. Como era de se esperar, a leitura é super agradável.

Escrito em primeira pessoa, lembra um pouco Do que falo quando falo de corrida, de Haruki Murakami. Relata como foi a decisão de começar a correr, sua rotina de treinos (ou a quase ausência de uma rotina) e vários causos ocorridos tanto em provas quanto em treinos.

Varella ainda aproveita e volta no tempo para contar a história da origem da maratona, desmistificando aquela ideia infundada de que Fidípedes percorreu 42km em 6 horas e depois caiu morto. Basta parar e pensar um pouco: se ele era o melhor corredor do exército, não faz o menor sentido esta história. Principalmente sabendo que, atualmente, a maioria dos corredores amadores, mesmo os mais lentos, termina uma maratona em menos tempo e depois volta para casa numa boa – quer dizer, não exatamente numa boa, mas isso é um detalhe que Varella também comenta no livro.

“Nesse estado de espírito, com pesar notei que a praia de Botafogo faz uma curva sem fim, quase 360 graus, detalhe despercebido a quem passa de carro. Fiquei com ódio da enseada, dos barquinhos, das velas brancas, do Pão de Açúcar, do sol, do braço suado que resvalou no meu, da areia, dos banhistas embaixo do guarda-sol, dos transeuntes alheios às nossas misérias e do maldito bondinho abarrotado de gente desocupada. Como sair vivo daquela curva assassina?”
(p.90)

Intercalados a seus relatos, há alguns capítulo focados na fisiologia do exercício, abordando quais os impactos da corrida e quais problemas físicos podem ocorrer por falta de preparo, ou por alguma atitude do corredor que acabe inadvertidamente prejudicando-o. Certamente são os capítulos que menos interessam aos não-corredores. Mas mesmo assim, valem a leitura, pois apesar de algum “medicinês”, são curtos e bem sucintos.

Os trechos com que os leitores-corredores mais se identificam são, com certeza, aqueles que contam o que deu errado ou os momentos em que questionamos nossa sanidade ao decidir correr qualquer distância.

Aos não leitores, o lirismo com que Varella descreve cidade, pessoas, seus locais de treino é envolvente.

“Em contraste com os sobreviventes da noite anterior que compõem a paisagem humana no asfalto, um homem de pijama e barba branca pendura a gaiola do canário na varanda; uma mulher de camisola florida e bobe na cabeça rega o vaso de samambaia; um senhor de camiseta regata e barriga avantajada fuma o primeiro cigarro do dia no peitoril da janela, ao lado da mulher com o olhar perdido; um vulto debruçado no figão faz café no apartamento mantido na penumbra por um cobertor improvisado em cortina; feirantes armam as barracas na rua das Palmeiras, nas imediações do largo Santa Cecília; um gato se equilibra no parapeito de um terraço, ao lado do cartaz que anuncia: ‘Vidente do amor. Pagamento depois da graça obtida’. Mais à frente, uma sibipuruna plantada na avenida São João expõe com generosidade a copa florida aos frequentadores do elevado. São centenas de flores amarelas que pousam delicadas como passarinhos na folhagem do topo.”
(p.164)

Além dos comentários sobre a preguiça inerente a todo ser humano.

“Por outro lado, senti na carne o tormento que é levantar da cama de madrugada para correr. Passados mais de vinte anos, meu primeiro quilômetro ainda é dominado por um único pensamento: não há o que justifique um homem passar pelo que estou passando. Existe sofrimento mais atroz do que deixar a cama quente, no horário em que o sono é mais arrebatador, vestir o calção, a camiseta e calçar o tênis para sair correndo?”
(p.21)

Mesmo dando a impressão de que o livro deve agradar mais os corredores, a prosa fluida e “familiar” de Varella tem a capacidade de conquistar aqueles que acham que correr é uma chatice, até mesmo o mais sedentário dos leitores.

Leia um trecho em pdf

[cotacao coffee=”macchiato”]

[compre link=”http://bit.ly/correr-drauzio-varella”]

Cristine Tellier
Últimos posts por Cristine Tellier (exibir todos)
Send to Kindle

4 Replies to “Correr, de Drauzio Varella”

  1. Sou um corredor dedicado também, o que torna esse tema bastante atraente para mim. Apesar disso, fiquei com a impressão de que se trata, realmente, de uma releitura brazuca de “O que eu falo…” do Murakami. Vale realmente a pena dar uma chance ao Dr. Dráuzio ou seria ler mais do mesmo? O pior é que quando o assunto é corrida, ninguém bate os relatos do Dean Karnazes — “O Ultramaratonista” é uma leitura obrigatória para quem gosta do assunto. Em todo caso, obrigado pela resenha!

    1. Olá Gustavo,

      Apesar de comparável ao “O que eu falo…”, pelos relatos de treinos, provas e impressões dum atleta amador, “Correr” difere dele justamente no ponto que mais gosto no livro de Murakami: a comparação entre o processo de escrita e o preparo para uma prova.

      Concordo com você quanto aos livros do Dean Karnazes. Junto com Born to run, de Christopher McDougall, 50 maratonas em 50 dias, do Karnazes está sempre no topo da minha lista de livros prediletos sobre corrida.

      Obrigada pela visita!

      Abraços e boas leituras 🙂

  2. Eu gosto do escritor Dráuzio Varella desde Carandiru. Só acho que ele perdeu muito indo pra televisão. – se por um lado ele ganhou em popularidade e fama, por outro perdeu em profundidade e teor literário. Uma pena.

    Mas, gostei da resenha, esse título parece muito bom.

    Abraços

    Alessandro Bruno
    http://www.rascunhocomcafe.com

    1. Olá Alessandro,
      Só tenho a concordar com vc. Ainda gosto muito dos textos dele, mas tem-se impressão de que perderam intensidade. É um bom livro, mas está longe de ser um daqueles que saímos indicando a todos os conhecidos.

      Abraços e boas leituras 🙂

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *