anjo verde

Anjo verde
Odilon de Oliveira

Sinopse
ANJO VERDE é um Romance fictício de uma garota de 14 anos que sonha tornar-se um dia Professora de Educação Ambiental. Como não formam-se professores da matéria escolhida e nem existe na Grade Curricular das Escolas do Brasil, Ângela luta com toda perseverança passando por muitos obstáculos e provações no dia-a-dia. Com força, fé, inteligência e muito criatividade, ela mudará a história de toda uma nação.
(fonte: widbook.com)

anjo verde

Pode ser uma falha de caráter (onde está o sinal de ironia quando precisamos dele?) mas não gosto de livros que assumidamente, explicitamente querem passar uma mensagem, qualquer que seja. Com raras exceções, são impregnados de um didatismo irritante. Talvez a aversão se deva a certo ranço desenvolvido no período escolar, em que professoras insistiam para que nós, pobres estudantes, captássemos qual a mensagem do livro obrigatório daquele bimestre. Ou, ainda pior, que explicássemos qual o significado ou a moral de alguma história. Adolescentes dos anos 80 certamente farão conexão também com as igualmente chatas lições de moral no fim de cada episódio de He-Man. Essa é minha opinião, mas a partir dela parei para refletir sobre a construção do livro.

Voltando ao livro com mensagem. A menos que seja uma cartilha panfletária sobre qualquer assunto, o autor que planeja sua obra dessa forma faz a pior escolha possível. Favorável a um dos lados de determinada questão, quer defender seu ponto de vista utilizando-se do enredo da história. Enquanto que seria muito mais produtivo criar um personagem para ser seu alter-ego, a fim de defender sua opinião no decorrer da narrativa, seja em atos ou palavras, ou mesmo em traços de caráter. Sempre tentando, na medida do possível, balancear sua “presença em cena”, evitando monólogos longos e extensas exposições de ideias.

Ao optar por essa abordagem, a narrativa se enriquece, pois o autor sentirá a necessidade de fortalecer sua argumentação, afinal boas histórias funcionam devido aos conflitos que impulsionam a narrativa. É importante que exista um opositor, alguém que critique, questione ou discorde das opiniões. O leitor então se sentirá impelido a pensar a respeito, a analisar a questão e, caso sua argumentação se sustente, a compartilhar da opinião defendida pelo alter-ego do autor. O essencial é que o narrador se mantenha o mais imparcial possível, sem subestimar a inteligência do leitor.

Toda essa reflexão veio à tona ao ler a sinopse do livro Anjo verde. E o que poderia ter se revelado apenas uma “pista falsa” confirmou-se durante a leitura. Mesmo o autor optando pelo personagem alter-ego, a mão pesou ao transmitir suas ideias. “Passou do ponto” não só quanto ao intuito de transmitir uma mensagem (Neste momento, praguejo silenciosa contra Esopo, La Fontaine e suas fábulas.), mas também quanto à queda do narrador pela prosa poética – difícil de dominar. O texto peca pelo excesso de adjetivos, metáforas já conhecidas e clichês poéticos.

“Ela admirava a brandura das águas, contemplava o quebrantar da pomposa cachoeira. Via refletido seus lívidos olhos azuis no espelho cristalino, tristes olhos medrosos, mas disfarçados num sorriso suntuoso…”

Apesar da temática atraente, a insistência no didatismo do texto atrapalha a imersão do leitor na narrativa. Em vários momentos, tem-se a impressão de estar lendo um livro didático ou mesmo uma enciclopédia. É bastante válida a intenção do autor, mas amenizar esse tom de aula de ciências tornaria a leitura mais fluida.

Outro cuidado necessário é com os diálogos. O tom professoral está presente em muitos deles. A protagonista é uma adolescente de 14 anos que, em vários momentos, se expressa como um adulto, um militante fazendo uso de todo o jargão técnico comum à sua causa – neste caso, a ecologia. Não quer dizer que a personagem não possa ser articulada e de vocabulário amplo, no entanto sua linguagem deveria estar de acordo com sua faixa etária, por mais bem informada e conscientizada que ela seja.

Selo Widbook Blogs Parceiros Apoio Escritor IndieOs personagens poderiam ter sido melhor trabalhados, tornando-os um pouco mais complexos, fugindo dos estereótipos, enriquecendo assim as interações entre eles. O enredo é interessante, mas a ausência de revisão – que eliminaria falhas ortográficas, gramaticais e de lógica interna -, somada aos demais itens citados, prejudica a fluência do texto.

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Cristine Tellier
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