Aos meus doze, treze anos, quando comecei a considerar cada vez mais séria a hipótese de publicar um livro, procurei saber exatamente qual era o papel da editora na vida do escritor. O problema foi que naquele tempo (me sinto mesmo um vovô dizendo isso) não havia internet e sobre esse mercado permeava uma bruma de mistério. Mesmo hoje em dia, ainda parece algo meio desfocado para se ter uma definição concreta.

Como a maioria das pessoas tem – e vergonhosamente a maioria dos escritores ainda pensa assim – eu também tinha aquela ideia romântica de que, após escrito seu livro, você pegaria seus originais, levaria até uma grande editora, será recebido na sala do editor, com sua enorme cadeira de espaldar de couro e, depois de tomarem um café e rirem de piadas de cunho literário, ele daria uma folheada no seu material e, de olhos apaixonados, diria que esse será seu maior best seller e lhe fará um cheque de cem mil reais…

Lindo… Mas totalmente falso. A vida é absurdamente visceral. O romantismo está apenas nos livros e filmes. A verdade é que, a menos que você tenha vendido três mil exemplares rapidamente (o que é MUITO para o padrão brasileiro), o editor nem quer ver a sua cara.

Executives 1 - fightingO Brasil é um país que lê muito pouco. A conseqüência disso é que viver de vender livros aqui é uma piada. Outro fruto podre disso é que formamos poucos bons escritores. O escritor brasileiro, por fazer parte de um grupo pequeno de “eruditos” tem síndrome de estrela e não procura aprimorar ou entender a arte da escrita, achando que seu talento é inato e que qualquer um que critique a sua obra, o faz por invejinha…

Já vi escritores que nutriam um ódio idiopático pelas editoras, porque, segundo eles, a editora não apóia o escritor brasileiro. Bem… eu concordo com ambos os lados… EM TERMOS…

Primeiramente, deixemos claro um ponto: a editora é uma empresa. Seu foco é ganhar dinheiro! Escritor, coloque isso em sua cabecinha. Acomode-se a essa ideia. Adapte-se a isso. Não espere que a editora o pegue no colo e ceda aos seus caprichos. Aliás, quanto maior a editora, mais complexa é sua linha de publicação e mais distante de ser bem tratado você estará. A menos que seu livro venda, venda, venda…

Para sobreviver às adversidades, as editoras variam seus modelos de trabalho: o velho formato de “enviar originais para serem lidos e esperar resposta” ainda é forte. A meu ver, entretanto, é o menos profícuo. Uma editora mediana recebe trezentos exemplares por semana. Você acha mesmo que eles lêem tudo? Já vi esses profissionais comentando que lêem as primeiras cinco linhas… Se gostarem, lêem mais cinco… E assim por diante. Ou seja: se as primeiras cinco linhas não forem um arraso, o livro está fora.

Também tem sido cada vez mais comuns os concursos para coletâneas promovidos por editoras. O legal neste caso é que me parece positivo para todo mundo: o escritor lança seu livro e pode revendê-lo, e a editora cobra dele por um número X de exemplares. De quebra, dá à editora a oportunidade de conhecer talentos promissores sem muito compromisso ou risco de investimento.

É correto dizer que as editoras não valorizam escritores brasileiros? Penso que sim, mas é preciso voltar um pouco ao inicio e lembrar que o Brasil é um lugar difícil de se vender livros. E apostar em novo escritor é um custo muito alto para a editora com um risco de perda é muito grande. Geralmente, acaba saindo mais lucrativo trazer livros estrangeiros que já são sucesso de vendas garantido.

Porém, caro editor, convenhamos que já passa da hora de vossa senhoria deixar de lado esta empáfia de quem é dono da bola e entender que qualquer escritor pode ser um negócio em potencial. E não me venha com o velho mimimi de que é difícil ler tudo que se recebe. A diversificação das formas de negócio, as tecnologias, as mídias sociais e os próprios escritores que já trabalharam convosco servem como ferramentas de apoio para a mineração de talentos.

É preciso entender que, assim como a editora deseja endinheirar-se vendendo livros, tanto o quer o escritor. E há SIM escritores brasileiros profissionais – aquele tipo que busca conhecimento e que entende o que é o negócio-livro. E este sim, merece atenção e merece ser recebido em sua sala para um café.

Cabe a ambos os lados entenderem-se melhor. E principalmente entender que este negócio não vai para frente um sem o outro.

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6 Replies to “Editor vs Escritor”

  1. Eu digo que iria muito além dessa explanação interessante.
    Os ditos pilares de certezas inabaláveis em que as editoras se fundamentam logo vão cair por terra.
    Pode-se falar da internet como um antro que abriga todo tipo de informação, mas há sempre algo que nos traz, que bem utilizada, pode refletir na derrubada dos ícones mercadológicos.
    O uso estratégico das informações pode mudar o cenário do mercado literário e de leitura de tal maneira que a figura da editora-empesa vai ter que se adaptar, se quiser ganahr seu rico dinheirinho.
    Os reflexos das mudanças já são sentidos. Editoras de expressão mercadológica estão acabando com as revistas em papel e migrando para o formato digital, mas arcando com custos diferenciados.
    E outros ventos da mudança ainda discretos, como a auto-publicação via sites de expressão de vendas, e-readers, etc., logo ganharão força.
    Mas isso só será sentido de fato quando ocorrer a especialização do escritor. Ele não pode mais se limitar a uma função única, que a de escrever, mas de administrador de seu próprio trabalho. Terá de saber como produzir um excelente texto, uma produção visual que atraia leitores e estratégia de vendas para atingir faixas diversificadas de leitores-consumidores.
    A figura da editora como é conhecida logo será transformada e editores escroques e pedantes farãoparte de um passado distante.
    Se os escritores e artistas se conscientizassem de que quanto mais se especializarem em fazer de suas obras os seus canhões de alcance de leitores, a derrubada do moldes opressores de publicação será o levante da cultura como deveria ser, pertencente ao autor e dos artistas.
    Ou seja, nas mãos dos verdadeiros propagadores de cultura, sonhos e entretenimento.

  2. A minha primeira experiência em uma coletânea foi bem legal, e falo dela até hoje. O organizador da antologia trabalhou em cima do texto e deu ótimas dicas sobre como poderia ficar melhor e ainda explicando o porquê, ao menos comigo. Foi uma ótima oportunidade de aprendizado, que infelizmente não ocorreu em mais nenhuma das outras antologias que participei – a editora simplesmente selecionou e publicou, não houve esse trabalho em cima do texto.

    Felizmente, eu estava aberto ao aprendizado.

    Visite meu blog quando der:
    http://un-cafe-a-clichy.blogspot.com.br/
    Posto originais, resenhas e opiniões.
    :]

  3. Muito bom esse texto. É uma verdade que poucos escritores iniciantes( E me coloco nesse meio, porque sou um escritor iniciante, e muito, muito romântico…) querem enxergar. Os próprios festivais literários são uma prova disso, e alguns prêmios literários , até que me provem o contrário, cedem ao lobby das grandes editoras (como o Oscar.)Mas entendo as editoras também. É um risco.

    As editoras independentes são uma saída interessante para quem está começando (como o meu caso)

    1. Oi William. Obrigado pelo cafezinho conosco. Concordo que editoras pequenas são uma boa alternativa. Mas tome cuidado! Muitas vezes a editora pequena simplesmente cobra uma grana sua para publicar o livro e depois o encosta, sem promove-lo. Procure saber se editora pela qual publicará gera um produto de qualidade, tem um nome de respeito no mercado e, no mínimo, um domínio de internet próprio. Se o contato desta editora for “@hotmail.com” ou coisa semelhante e o domínio do site da editora for “blogspot.com”, caia fora. Uma empresa séria tem que se dar ao trabalho de registar um domínio próprio.

  4. OLá Douglas,

    vc está certo quanto ao lance da divulgação.(Mas isso também demanda dinheiro, não?Senão não seria algo independente.) Porém, até que tive sorte.Pois a editora aonde publiquei o meu livro não me cobrou nada pela publicação.Na minha visão esse negócio é algo como uma cooperativa.Todo mundo mete a mão na massa.

    A multifoco trabalha com uma tiragem mínima(algo em torno de 30 a 40 cópias por lançamento)o que diminui os riscos para a editora(também)e relativiza os ganhos.Os livros de uma saída maior cobrem os encalhados…

    Afinal,quem vai comprar o livro de alguém que não conhece?

    Sei que também as editoras independentes também podem passar a ilusão de que qualquer um pode escrever na ansia pelos lucro fácil(bem, os sex pistols vocifervam isso no final dos anos setenta, e acho que o saldo nem foi tão ruim assim…)coisa que “as grandes editoras” faz sem o menor pudor.Vejamos então as escolhas nos festivais literários feito pelos curadores, que, matéria que li outro dia na folha de São Paulo demonstrava a insatifação de algumas editoras frente aos espaços(Leia-se aqui, os escriores de seu catálago)junto as editoras concorrentes.

    No futuro, acredito eu, a literatura passará pelo que hoje passa o mercado fonográfico.

    1. Ola William! Obrigado pela visita.
      Eu corroboro totalmente com sua opinião. Sobretudo com a comparação entre o mercado literário e a indústria fonográfica. Aliás, diria mais: certa vez, numa entrevista, o Samuel Rosa – vocalista da banda Skank – comentou que as gravadoras teriam de se adaptar ao mercado, pois é impossível barrar os internautas de baixar as músicas. Quanto aos artistas, o prejuízo era muito menor, visto que eles não ganham dinheiro vendendo discos, mas sim com shows. Isso era início dos anos 2000 e de lá pra cá só se mostrou ser uma verdade absoluta. Eu sempre vi a relação Editora X Escritor mais ou menos por este prisma: a editora lança seu livro. Pode fazer ou não algum trabalho de divulgação, claro. Mas o “show” depende totalmente do escritor.

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