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Deixa ela entrar
John Ajvide Lindqvist

Oskar, um garoto de doze anos, vive com a mãe no subúrbio de Estocolmo, na década de 1980. Solitário e alvo de bullying na escola, passa o tempo lendo e colecionando notícias sobre serial killers e planejando se vingar de seus perseguidores. No entanto sua rotina é alterada quando uma garota de doze anos, Eli, se muda para o apartamento ao lado. Uma profunda identificação aproxima o menino a Eli, ao mesmo tempo em que a vizinhança passa a ser assolada por uma onda de mortes misteriosas.
(fonte: www.skoob.com.br)


deixa ela entrar - capa

Estórias de vampiros há aos montes nas prateleiras das livrarias. Mas depois de o mito ter sido desvirtuado por Stephenie Meyer e seus entes purpurinados que brilham ao sol, passei a ter certo receio de encarar livros sobre o assunto. Este, no entanto, tem uma abordagem diferenciada do tema, mas mantendo boa parte da mitologia eternizada por Bram Stoker. O autor consegue ser original abordando um tema tão antigo. E é inegável que ambientar a estória nos dias atuais, em cenários familiares – o pátio e o porão do condomínio, a escola, o ginásio de esportes – e ter como protagonista um garoto de 12 anos que sofre bullying na escola aproxima a trama do leitor, deixando-a verossímil e, justamente por isso, mais assustadora.

A narrativa de Lindqvist é bastante crua e visceral. A descrição dos detalhes tanto dos crimes quanto das vítimas, assim como da evolução da contaminação num recém-mordido são brutais e concisas, sem deixar brechas para suposições. Ele joga na cara do leitor toda a miséria, a podridão, o abandono, a solidão em que os personagens vivem. Por várias vezes, tem-se uma reação de asco, mal-estar ao acompanhar alguns eventos. O nível de detalhe chega a incomodar, pois o cenário parece tão vívido na mente do leitor que sons e odores parecem sair do texto junto com as palavras.

John Ajvide Lindqvist - autor de Deixa ela entrar
John Ajvide Lindqvist
O autor acerta ao não tentar justificar ou explicar a origem do vampiro. Parte do princípio de que é uma espécie de contaminação cujos sintomas são as características do vampiro clássico – a aversão à luz do sol, o desgosto pelos alimentos habituais, o desejo por sangue, a forma de dormir praticamente hibernando, a morte apenas por fogo ou por uma estaca no coração. Somente uma característica não se encaixa nessa concepção “infecciosa” da causa do vampirismo: justamente aquela que diz que o vampiro deve ser convidado a entrar. Pode-se supôr que de alguma forma ao adentrar um ambiente para o qual não foi convidado, o cérebro do vampiro desencadeie uma resposta fisiológica. Algo como uma reação auto-imune. É apenas um detalhe, que não chega a comprometer a estória. Enfim, a suspensão de descrença tem de fazer parte também, senão que graça teria?

A trama inicialmente segue duas linhas narrativas distintas. É um recurso interessante, já que faz o leitor se perguntar em que momento e em que ponto elas irão convergir. No início, em certas partes, elas se confundem, pensamos estar lendo uma delas quando na verdade é a outra. Mas aos poucos, essa confusão se desfaz, as linhas se aproximam e passam a ser uma só. Além da narrativa bem amarrada, os personagens são bem construídos, inclusive os secundários. Estórias paralelas que, a princípio, parecem ser apenas mais um detalhe vão se encaixando à trama principal como peças num quebra-cabeças.

filme – versão sueca
Não apenas o tom realista afeta o leitor. A trama é construída de tal forma que incute na mente de quem lê uma dúvida: “Quem ali é vítima e quem é vilão?”. A opinião do leitor oscila o tempo todo. Em dado momento torcemos pela vítima. Em outro, o vilão passa a ser vítima. Afinal, ninguém é 100% bom ou mau. Um homem violento é capaz de socorrer e cuidar de um gatinho perdido. Uma mulher caridosa é capaz de atos vis apenas por inveja.E Lindqvist prende o leitor ao deixá-lo incomodado, tirando-o da sua zona de conforto. Fazendo-o torcer por um personagem que há pouco desprezava.

filme – versão americana
Bem, agora preciso assistir aos filmes – existe uma versão sueca e uma norte-americana – para ver se conseguiram ao menos transferir para a tela o clima tenso e perturbador do livro. Como a maioria das pessoas, tomei conhecimento do livro depois que a versão sueca, dirigida por Tomas Alfredson com roteiro do próprio Lindqvist, foi lançada. Somente após o sucesso nos cinemas e alguns anos depois da versão americana ser lançada é que o livro foi publicada aqui no Brasil.

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Cristine Tellier
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