O leitor
Bernhard Schlink

Não assisti ao filme ainda. E nem pretendia assistir antes de terminar de ler o livro. Segundo algumas críticas que li, a atuação de Kate Winslet está primorosa. A compra do livro foi motivada pelo lançamento do filme, uma vez que eu nunca tinha ouvido falar nele, nem o tinha visto em prateleiras de livraria. Fiquei sabendo depois, lendo a orelha do livro, que a obra havia se tornado o primeiro romance alemão a atingir o topo da lista da best-sellers do New York Times. O mote pareceu-me interessante, clássicos da literatura sendo lidos durante os encontros amorosos de um estudante adolescente com uma mulher bem mais velha. Como qualquer coisa relacionada a livros, leitura, escrita me interessa, mesmo não conhecendo o autor, achei que valeria a pena.
E valeu.

o leitor

O livro, de apenas 218 páginas, foi lido em menos de uma semana. A coloquialidade do texto, sua estrutura, com capítulos não muito longos, a narrativa sucinta, límpida, quase ascética, sem descrições extensas ou diálogos desnecessários, tornaram a leitura agradável e nada cansativa.

É, a grosso modo, uma estória sobre amor e dramas de consciência. Mas nada apelativo demais, ou romântico demais. Livre de clichês sentimentalóides sobre o Holocausto, uma das questões levantadas pelo autor é como os filhos da geração da guerra (ele e o personagem principal do livro, inclusive) lidam com o legado deixados pelos pais. Pais que por ação ou omissão, tomaram parte nas desumanidades e atrocidades cometidas durante esse período. Devem eles se sentir responsáveis e carregar o fardo de culpa pelo que seus genitores fizeram? Devem tentar redimir o mal feito? Ou somos isentos de qualquer compromisso relativo aos atos cometidos por nossos antepassados?

E quanto ao ser amado? Quando alguém se apaixona, deve tomar para si parte da carga, do peso da vida do outro? Há como não nos sentirmos responsáveis também nesse sentido, por algo ocorrido antes de fazermos parte da sua vida?

Bernhard_Schlink
Bernhard Schlink
E temos ainda o dilema ético/moral sobre nosso dever (ou não) de revelar uma informação essencial para salvar alguém, mas que essa pessoa recusa-se terminantemente a fazê-lo. Devemos passar por cima do livre-arbítrio dela apenas valendo-nos da premissa de que tudo é válido para salvar um igual? Não estaríamos apenas querendo fazer valer o nosso próprio julgamento, supondo estar agindo corretamente apesar de contrariar a vontade de outrém com discernimento suficiente para arbitrar sobre sua própria vida? O personagem principal vê-se dividido entre dizer a verdade e trair a mulher que ainda ama, ou calar-se e vê-la ser responsabilizada por algo que ele tem ciência não ser possível. Como decidir-se entre culpa e omissão?

“(…) Esses são pensamentos posteriores. Mesmos posteriores eles não eram nenhum consolo. Como poderia ser um consolo o fato de meu sofrimento pelo amor a Hanna ser, de certa maneira, o destino de minha geração, o destino alemão, que era apenas mais difícil, no meu caso, de deixar para trás, mais difícil de lidar. Na mesma medida, teria feito bem para mim se eu pudesse me sentir parte de minha geração.”

[cotacao coffee=”capuccino”]

[compre link=”https://amzn.to/2MF88Vi” bookstore=”amazon”]


Cristine Tellier
Últimos posts por Cristine Tellier (exibir todos)
Send to Kindle

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *