O fio da navalha
William Somerset Maugham
Comecei a ler sem muito entusiasmo… a sinopse na contracapa do livro não parecia muito promissora:
“O enredo mostra uma decadente aristocracia européia abatida pelo trauma da Primeira Guerra. No outro lado, a burguesia norte-americana emergente busca refinamento e luxo. O crack da Bolsa de Nova York, em 1929, faz desmoronar universos de ostentação e embaralha as histórias.
Com esse pano de fundo, um nobre carola socorre uma tradicional família quebrada. Uma rica socialite sofre um choque e vira prostituta. O escritor-narrador une todos os fios da meada com as peripécias do jovem promissor que resolve abandonar o futuro sólido para buscar um sentido para a vida.”
Mas ocorreu ser esse mais um daqueles livros difíceis de largar enquanto a última página não chega. A prosa é fluida, não diria fácil, mas flui de maneira tão espontânea que “agarra” o leitor com uma facilidade incrível.
De acordo como texto da primeira orelha do livro, o título foi retirado de um dos upanixades (textos sagrados da Índia). Mas também poderia ter se originado de um provérbio hassídico que diz que “A vida é um fio de navalha. De um lado, o Inferno. Do outro, o Inferno.” – uma vez que o tempo todo no livro somos lembrados que a qualquer momento podem ocorrer imprevistos (bons e ruins) e cabe a nós manter o equilíbrio em nossa vida.
Apesar de personagens e trajetórias tão díspares a trama é bem amarrada e nenhum fio é deixado solto. E mesmo datado, o livro trata de um tema ainda bem atual, afinal o ser humano não deixa de se perguntar a cada minuto qual o sentido da existência e como alcançar a tão almejada felicidade.
Adorei o final do livro, onde o escritor-narrador afirma que sem ter tido essa intenção, acabou escrevendo uma estória de sucessos:
“Sim, pois todas as pessoas de quem me ocupei conseguiram o que almejaram: Elliott, prestígio social; Isabel, boa posição (…); Gray, um emprego certo e bem remunerado (…); Suzanne Rouvier, segurança; Sophie, a morte; e Larry, a felicidade.”
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As sinopses de “O Fio da Navalha” aqui apresentadas aguça no leitor o desejo (quase) invencível de lê-lo. Do mesmo autor, lí seu livro mais famoso; “Servidão Humana”. Gostei tanto que me foi impossível deixar de novamente o ler outras vezes. Surpreendo-me, por ser o autor bi-sexual, com a incrível capacidade dele em retratar seus personagens com tanta integridade, compreensão e beleza sem projetar neles suas idiossincrasias sexuais, como era de se esperar…