Esperança para voar
Rutendo Tavengerwei

É a história de superação e amizade de duas adolescentes, Shamiso e Tanyaradzwa. Shamiso retorna com a mãe do Reino Unido para o Zimbábue, após a morte do pai, jornalista de oposição ao regime ditatorial da época. Tanyaradzwa, sua grande amiga, luta contra o câncer. O cenário é o Zimbábue, em 2008, ano de grave crise política nesse país africano.
(fonte: amazon.com.br)

Primeiro romance da autora, é um infanto-juvenil cujo maior interesse é se situar no Zimbábue. O cenário diferente – ao menos para nós, brasileiros, habituados a histórias que se passam na Europa ou em algum país de lingua inglesa – é o maior atrativo. As referências culturais – comportamentos, costumes, comes e bebes, instrumentos – mas, principalmente, as referências à situação sócio-político-econômica atual do país compensam a simplicidade da trama.

O leitor percebe a realidade ao redor de Shamiso pelo seu olhar adolescente. Justamente por isso não há muita concisão, ou mesmo detalhes, sobre a situação do país. Mas pode-se apreender a gravidade das cirscunstâncias pelos eventos que ela vivencia – a greve dos professores no internato que frequenta, o racionamento de alimentos e as consequentes filas para itens essenciais (ou nem tanto), os cortes de energia.

“As coisas estavam tortas, tristemente às avessas. Há algumas semanas, as lojas estavam cheias de suprimentos. Parecia que Rhodesville tinha ficado presa em um pesadelo durante a noite, longe dos confortos normais dos subúrbios, com suas lojas cheias e pessoas em suas rotinas habituais. Há pouco tempo, o país era conhecido como a zona cerealista da África. Agora ele parecia estar enfrentando as consequências de uma doença mortal, que atingira o coração do país, deixando um rastro de caos.”
(p.XXXX)

A autora consegue transmitir bem os sentimentos que envolvem as duas amigas, suas tristezas, seus conflitos, seus questionamentos. Ambas, cada uma a seu modo, lidam com situações difíceis. Enquanto Shamiso tem de encarar a morte do pai, a mudança para outro país e, o supra-sumo dos conflitos adolescentes, o início em uma nova escola, Tanyaradzwa, que é cantora, é obrigada a lidar com sua doença. E é interessante perceber como lidam de formas diferentes. Uma toda crítica, explosiva e, por vezes, agressiva; e a outra, mais compreensiva e benevolente.

Feita em terceira pessoa, a narrativa tem bastante fluidez, facilitada pelos capítulos curtos, tornando a leitura agradável. Há alguns pontos de atenção como, por exemplo, alguns personagens e situações que não têm uma função clara na história ou cujo arco dramático não chega a ser finalizado – o leitor simplesmente não sabe o que houve com eles. No geral, exceto por Shamiso e Tanyaradzwa, os personagens são pouco desenvolvidos. O professor XXXXX é um dos que o leitor sente falta de ter sido melhor explorado. Sua função de quase mentor de Shamiso e seu posicionamento político mereciam um maior aprofundamento. Mesmo que o foco da autora tenha sido expor e explorar os conflitos e as emoções das garotas, esse viés teria agregado bastante valor à trama.

Outro ponto incômodo é que há coincidências em demasia. Tantas que, em vários momentos, o leitor perde a imersão na leitura. Uma ou outra coincidência é aceitável, já que cotidianamente vivenciamos isso. Mas coincidências demais parecem “forçação de barra”, fica difícil comprar a ideia e deixa nítido que o autor se valeu disso apenas para conseguir amarrar alguns pontos da trama. Não irei citar para não dar spoilers, mas o leitor atento irá percebê-las sem dificuldade.

Para o pública a que se destina, é uma leitura bastante interessante. E revela uma jovem escritora de bastante potencial.

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Sobre a autora
rutendo-tavengerweiRUTENDO TAVENGERWEI, jovem escritora africana, nasceu, cresceu e estudou no Zimbábue, onde morou até os dezoito anos. Estudou Direito na Universidade de Witwatersrand, na África do Sul, onde se especializou em Direito Comercial Internacional. Na Suíça, completou um Mestrado no World Trade Institute, na Universidade de Berna. Atualmente, trabalha na Organização Mundial do Comércio, em Genebra. Esperança para voar (Hope is our only wing) é seu primeiro livro de ficção publicado. A autora já está trabalhando na sua próxima aventura literária.
(fonte: amazon.com.br)

Cristine Tellier
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