A garota-corvo
Erik Axl Sund

Tudo começa em um parque da cidade de Estocolmo, onde o corpo de um menino é encontrado. A detetive Jeanette Kihlberg lidera a investigação, lutando contra um promotor apático e uma força policial burocrática que não quer dedicar recursos para resolver o assassinato de uma criança imigrante. Todavia, com a descoberta dos cadáveres mutilados de mais duas crianças, fica claro que um serial killer está à solta. A superintendente Kihlberg procura a psicóloga Sofia Zetterlund, uma especialista em recuperar crianças que sofreram violência, e as vidas das duas mulheres se entrelaçam de forma quase instantânea – profissional e pessoalmente.
(fonte: https://www.companhiadasletras.com.br/)

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Mais um livro para a extensa lista de bons thrillers policiais nórdicos, neste caso, mais um livro sueco. O autor, Erick Axl Sund, é o pseudônimo da dupla de escritores suecos Jerker Eriksson e Håkan Axlander Sundquist. Não sei deixe enganar pelo fato de que a dupla parece ter saído da capa de um álbum de bandinha gótica ou underground. A escrita deles é instigante e conseguem levar a trama policial a um outro patamar.

Narrado em terceira pessoa, o livro prende desde as primeiras páginas, apesar de o leitor ser jogado em um turbilhão de informações. No início, a história parece um punhado de retalhos, de recortes de histórias não conectadas. Aos poucos, as coisas vão se juntando. Sund vai alinhavando e conectando personagens e eventos. Mas é preciso estar atento, pois as linhas narrativas, além de acompanhar vários personagens, avançam e recuam no tempo. Parte da “diversão” do leitor está em juntar as peças e ir montando a cronologia dos acontecimentos.

Como acontece sempre com thrillers e livros policiais, é difícil comentar aspectos da trama sem correr o risco de dar spoilers. Nesses casos, se a resenha dá impressão de ser mais superficial que o habitual, não é por preguiça, mas sim apenas para garantir que o leitor desfrute da descoberta dos fatos com o mesmo frescor e surpresa que o/a resenhista pôde desfrutar. Afinal, boa parte do prazer da leitura desse gênero advém do inesperado na narrativa – aquele clássico, em bom português, “momento PQP”. E, acreditem, este livro consegue ter vários momentos assim, sem perder o ritmo nem parecer forçado.

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Os autores

Um deles ocorre por volta da página 100, e deixa o leitor com vontade de voltar e reler até esse ponto, para ver se tinha deixado passar algum detalhe que indicasse o que estava por vir. A partir daí, os autores fazem uso da ironia dramática – em que o leitor tem mais informações do que os personagens. Isso faz a tensão ir aumentando cada vez mais, enquanto especula-se em que momento os personagens irão descobrir o que o leitor já sabe. Lembra um pouco Hitckcock, em Psycho, que mata a protagonista – ou quem o espectador acha que é a protagonista – logo no início do filme, e deixa o público se perguntando: “E agora?”. Sund consegue manipular isso muito bem pois, mesmo após essa primeira reviravolta, em que nos perguntamos como a história irá se sustentar por mais trezentas e tantas páginas, a tensão e a expectativa se mantêm.

Há um outro momento assim, mais próximo do final do livro. Não só é surpreendente como subverte boa parte do que parecia estar acontecendo depois daquela primeira reviravolta. O leitor é “enganado” descaradamente, levado a tirar conclusões que parecem 100% corretas – #SQN. E aí vê-se a perspicácia da dupla de autores, sua capacidade de manipular o leitor.

Algo que pode agradar, talvez surpreender e, em alguns casos, causar desconforto é a ausência de pudores dos autores para abordar assuntos difíceis como pedofilia, estupro, violência, relacionamentos abusivos. Pois a trama não é apenas sobre uma investigação policial. Nâo é apenas uma detetive caçando um serial killer. Há toda uma história subjacente que sustenta, permeia e interliga esses assassinatos e que está longe de ser um recorte do lado bom da vida. No melhor estilo Simenon, importa bem menos “whodunit” e muito mais “whydunit”. Entender toda a teia de eventos que desencadeou todo o mal descrito no livro. Entender a participação de cada pessoa envolvida. E se assustar com a quantidade de sofrimento que é possível suportar e/ou impingir. E nisso, o leitor e a detetive Kihlberg, estão juntos.

Para sustentar uma história tão densa, são necessários personagens bem construídos. E Sund também acertou a mão nisso. Cheios de idiossincrasias e incongruências são complexos o bastante para darem verossimilhança à trama. Mesmo passando por situações tão extremas, são tão “gente como a gente” que fica difícil duvidar da forma como agem ou reagem.

É sombrio, muitas vezes macabro. Perturbador. Vale a leitura para quem tiver interesse por algo que vá além da trama policial.

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Cristine Tellier
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