Maigret entre os flamengos
Georges Simenon
O comissário Maigret recebe o chamado de uma mulher desesperada para ir à chuvosa Givet, na fronteira com a Bélgica, para esclarecer um caso de assassinato envolvendo sua família. Mas tanto a respeitável loja da família quanto a sonolenta comunidade escondem mistérios que ele não tardará em descobrir.
(fonte: quarta capa do livro)
“Quando desembarcou do trem na estação de Givet, a primeira pessoa que Maigret viu, bem em frente à sua cabine, foi Anna Peeters.”
(pag.9)
Difícil não reparar na forma como Simenon “joga” o leitor direto na história. Sem preâmbulos, sem preliminares, a narrativa se inicia no momento em que Maigret desce do trem e encontra sua cliente. E, mesmo que a frase de abertura não seja bombástica, já é o suficiente para deixar o leitor intrigado: “Quem é Anna Peeters?”. E, enquanto acompanhamos Maigret da estação ao hotel, fatos vão sendo revelados aos poucos, sem encher a paciência do leitor com detalhes desnecessários.
Aliás, se há algo que se pode afirmar sobre o texto de Simenon, é que é muito, muito enxuto. Não há desperdício, não há divagações ou digressões desnecessárias. Certamente reflexo do processo criativo do autor. Simenon passava dias pensando na trama, para só depois sentar e escrever tudo de uma só vez. O que certamente garante uma narrativa concisa, sem enrolação, sem “encheção de linguiça” e uma história “sem barrigas” – aqueles trechos que muitos leitores se vêem tentados a saltar. E, especificamente nesta obra, o texto é denso, com certeza para reforçar o ambiente em que se passa a história. As descrições são tão precisas, com recortes tão cirúrgicos do cotidiano de Givet, que é quase possível sentir na pele tanto o clima literal – a chuva que não para de cair – quanto o figurado – a tensão entre os habitantes causada pelo desaparecimento de Germaine.
Mesmo quando algumas vezes (neste livro inclusive) a solução do mistério pareça ser um pouco deus ex machina, isso não tem tanta importância, uma vez que o ponto central dos livros de Maigret não é tanto whodunit (quem matou) ou como matou. Isto é, o foco é, sim, o culpado, mas não no sentido de simplesmente descobrir sua identidade. Maigret quer saber mais a seu respeito, entender quem ele é e, principalmente, quais suas motivações.
E até quem não leu os livros anteriores, ou mesmo nenhum livro com Maigret, pode ler sem receio. Há, espalhados na trama, aqui e acolá, detalhes que instruem os “não-iniciados” sobre quem é o inspetor, sua aparência e sua maneira de agir. Sem dificuldades, neófitos logo descobrem que Maigret não é um policial como outro qualquer.
A escrita de Simenon não tem grandes malabarismos estilísticos. A trama não está repleta de cliffhangers a cada subdivisão ou final de capítulo. E mesmo assim é difícil largar a leitura.
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