Os homens que não amavam as mulheres – Millenium I
Stieg Larsson
Os homens que não amavam as mulheres é um enigma a portas fechadas – passa-se na circunvizinhança de uma ilha. Em 1966, Harriet Vanger, jovem herdeira de um império industrial, some sem deixar vestígios. No dia de seu desaparecimento, fechara-se o acesso à ilha onde ela e diversos membros de sua extensa família se encontravam. (…) Quase quarenta anos depois, o industrial contrata o jornalista Mikael Blomkvist para conduzir uma investigação particular. (…) Com o auxílio de Lisbeth Salander, que conta com uma mente infatigável para a busca de dados – de preferência, os mais sórdidos -, ele logo percebe que a trilha de segredos e perversidades do clã industrial recua até muito antes do desaparecimento ou morte de Harriet.
(fragmentos da sinopse oficial)
Não é que eu não quisesse ler. Mas na época do seu lançamento, com todo o burburinho devido à morte do autor, TODO MUNDO estava lendo o livro. Praticamente todo blog/vlog literário que acompanho estava comentando a respeito. E a onda continuou quando o filme (versão americana) foi lançado. Isso tudo me deixou meio relutante para ler. Sim, eu sou avessa a bestsellers. E, sim, eu tenho muita preguiça de ler o que todo mundo está lendo, mesmo que o livro seja muito bom. Passado o hype, adquiri o box com toda a coleção na Black Friday do Submarino.
É um thriller? Sim, sem dúvida. Tem ação e suspense? Com certeza. Mas enquanto a maioria dos livros do gênero está próximo do clímax e da resolução do mistério ou problema por volta da página 300, neste a trama começa a “decolar” a essa altura. O que não quer dizer que a trama se arraste até aí. Não há ação desenfreada, nem um cliffhanger a cada final de capítulo, mas mesmo assim Larsson consegue prender a atenção do leitor. Para isso, ele vai desenvolvendo a trama com vagar, sem urgência, apresentando e revelando aos poucos os personagens, suas características, seus problemas, seus temores, seus demônios. Há, sem dúvida, alguns trechos que poderiam ser abreviados sem prejuízo algum à narrativa, principalmente no segundo terço do livro. Mas mesmo assim, a leitura flui sem muitos percalços.
A princípio, parece uma colcha de retalhos ainda não costurada. Várias estórias aparentemente sem conexão que se sucedem e alternam, até confundindo um pouco o leitor, que não tem muita certeza do rumo que a trama irá tomar. E tem-se mesmo a impressão de que esses eventos dispersos não tem como ser conciliados. Contudo, quando o texto engrena, em poucas páginas a trama central emerge, praticamente tomando o leitor de surpresa, com um soco direto no estômago. E de repente, o desaparecimento de Harriet, a violência sexual, os problemas de Lisbeth assumem um novo sentido quando conectadas a esse fio condutor. Confesso que eu, fã de literatura policial, gostei demais de o mistério a ser resolvido não estar totalmente à mostra desde o início. Foi um incremento bastante vantajoso ao clássico ‘whodunit’.
No início, o leitor acompanha alternadamente as jornadas de Mikael e Lisbeth. Sabe-se, de antemão, que as linhas narrativas se cruzarão em algum ponto. Os personagens diferem tanto entre si, que é quase com apreensão que o leitor aguarda esse momento. E Larsson faz com que interajam de forma fluida e bastante natural apesar de suas diferenças. Isso se dá principalmente pois ambos são personagens bem construídos, multifacetados, tridimensionais, dúbios. O leitor se identifica justamente por não serem perfeitos. Mesmo tendo qualidades que causam admiração – a inteligência acima da média de Lisbeth e a perspicácia e persistência de Mikael – são as angústias, os defeitos, o lado obscuro que os aproximam de quem está lendo. De tal forma que não é apenas a resolução do mistério que impede o leitor de interromper a leitura; saber o que acontecerá com cada um deles passa a ser quase tão relevante.
A trilogia, que a priori seria uma decalogia se o autor não tivesse falecido sem terminar o quarto volume, já foi adaptada para o cinema na Suécia. E este primeiro volume já tem também uma versão norte-americana – lembrem-se que americanos não gostam de ler legendas. Já assisti às duas versões do primeiro livro. Gostei de ambas, com uma ligeira preferência pela americana – “sim, pasmem! me julguem!” Mas não simplesmente porque a adaptação é mais fiel ao espírito sombrio do livro, mas porque é um filme dirigido por David Fincher, o que sem dúvida é um diferencial e tanto. Ambos conseguem prescindir do livro para o seu entendimento. E vale a pena assistir aos dois.
[cotacao coffee=”capuccino”]
Em tempo:
Se você, leitor, não tem estômago para cenas fortes envolvendo violência e/ou sexo, tome um antiácido antes de começar ou nem se aventure a ler.
😉
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Muito bom
Obrigada pela visita 🙂
Abraços e boas leituras.
Amoooooo essa trilogia com todo o coração, comecei a ler em janeiro e estou com os olhos coçando para ler o último **–**
Eu vivi dentro do livro, com os personagens e senti as mesmas emoções que eles. Passava horas e horas lendo, terminando o primeiro livro em menos de 3 dias.
Eu não sabia que fosse gostar tanto, acabei amando.
Adorei a resenha, muito bem detalhada.
Beijos,
Gaby
Olá Gaby,
Descobri há pouco tempo que gosto de literatura escandinava e, dentre os mais conhecidos, faltava ler o Larsson. E foi uma ótima experiência. Ainda faltam os outros dois volumes, que pretendo ler em breve.
Que bom que vc gostou do texto. Volte sempre 🙂
Abraços e boas leituras.
Tá aí, é o incentivo que eu precisava para finalmente conhecer essa estória incrível! =)
Olá Fabio
Vale muito a pena sim. Espero que vc goste tanto quanto eu gostei 🙂
Abraços e boas leituras.