»» versão do artigo “8 Unstoppable Rules For Writing Killer Short Stories”, escrito por Charlie Jean Anders, publicado em 12/03/2008 no io9 ««

Contos são a “banda de garagem” da ficção científica, afirma Patrick Nielsen Hayden, editor da Tor Books, então está na hora de pisar no pedal de distorção e pressioná-lo o mais forte que puder, sem derrubar as plantas da sua mãe. Na verdade, acho que Nielsen Heyden estava se referindo ao fato de que você pode fazer mais experimentações insanas em contos do que em novelas, devido ao tempo curto de comprometimento tanto do escritor quanto do leitor. Mas como se tornar um super-mestre no formato desafiante do conto? Aqui vão algumas sugestões.

Não estou dizendo que sou expert na escrita de contos, mas escrevi mais de uma centena deles, boa parte deles de ficção científica. Aqui está um apanhado de ‘faça’ e ‘não faça’ que eu descobri da pior maneira possível.

Cover of March 1954 issue of Beyond Fantasy Fiction

  1. A criação do universo do conto deve ser rápida e implacável

    Numa novela, você pode gastar dez páginas explicando como o 29o. Congresso Galático estabeleceu um Comando de Paz para regulamentar o uso de portais intersticiais, e que esse Comando de Paz evoluiu durante séculos até incluir inteligência artificiais em sua cadeia de comando, etc. etc. Em um conto, você tem mesmo de montar seu cenário o mais rápido possível. Meu amigo e mentos d.g.k.goldberg sempre cita uma frase de Heinlein: “A porta se expandiu”, que diz muito sobre o ambiente em poucas palavras. Algumas pequenas referências transversais para complementar seus personagens podem ser inseridas ao longo do texto.

  2. Faça-nos acreditar que existe um mundo além do ambiente dos seus personagens

    Apesar de você não poder gastar muito tempo para construir o universo, você deve incluir pequenos detalhes em quantidade suficiente para nos fazer acreditar que há coisas que não estamos vendo. É como a diferença entre as fachadas falsas das casas num filme de cowboy e casas de verdade. Deveríamos ver relances do seu universo, que não necessariamente têm relação com as obsessões dos personagens.

  3. Prejudique seus personagens. Um pouco.

    Assim como com a construção do universo, você não pode dedicar páginas para a infância dos personagens e sobre sua roupa íntima usada sob seus macacões. A menos que sua estória seja realmente um estudo de personagem com um pouco de ficção científica. Eu costumo usar uma planilha que tem espaços para preencher com algumas informações sobre cada personagem – música favorita, cor mais detestada, etc. etc. Eu nunca os preencho. Se eu me obrigar a dar uma cor preferida para cada personagem, eu desistiria de escrever. Mas tente dispender um pouco de tempo dando alguma bagagem a seus personagens, o suficiente para deixá-los interessantes. A maioria dos leitores de ficção científica está interessada em personagens que resolvam problemas e pensem positivo, mas isso não quer dizer que não possam sofrer algum dano.

  4. Mergulhe direto – mas não exiba seu enredo em letras garrafais

    Quando comecei a escrever estórias, meus primeiros esforços serpenteavam por páginas antes que algo acontecesse a algum dos personagens, para fazê-lo pirar. E então o resto da estória era sobre os personagens lidando com aquele problema. E então, me tornei mais prática, descobri um mapa infalível para uma estória bem contada: introduzir o que quer que vá pirar meus personagens logo na primeira frase da estória! E assim a estória poderia ser sobre eles lidando com o problema, até resolvê-lo no final. Era tão perfeito, como poderia falhar? Levei mais um ano ou dois para perceber que jogar os personagens no conflito principal logo de cara era tão chato, a seu modo, quanto as dez páginas andando em círculos. Os melhores contos que li são aqueles que começam no meio da ação, mas ainda assim mantém você conjeturando e deixa você conhecer os personagens antes de compreender a totalidade do conflito em que estão.

  5. 8 regras irrefreáveis para escrever contos matadores
    (foto:www.onceuponafans.com)
  6. Experimente com a forma

    Conto não é um formato, é um punhado de formatos presos juntos de acordo com sua extensão. Contos incluem a mini-odisseia padrão de 3000 palavras. Mas também incluem a ficção ‘relâmpago’ (algumas vezes definida com menos de 100 palavras, às vezes menos de 500 ou até mesmo menos de 1000). E toda a lista de coisas malucas que McSweeney’s às vezes põe em prática (N.T.: McSweeney’s é uma editora norte-americana, fundada por Dave Egger, sediada em San Francisco). Na verdade, de uns tempos para cá, o conto pós-moderno foi todo baseado em listas, ou notas de rodapé, ou monólogos malucos, ou estórias contadas em memorandos. Tente estórias super curtas com apenas 10 palavras, ou ensaios mutantes escritor por um pessoa fictícia. Ou então, se você sempre escreve em terceira pessoa, tente a primeira. E vice-versa.

  7. Pense além do gênero

    Muitas vezes a melhor ficção de gênero é feita com elementos externos. Finja que você na verdade está escrevendo para o New Yorker, e tente emular George Saunders ou mesmo Alice Munro. Veja até onde consegue ir escrevendo um texto puramente literário enquanto inclui alguns elementos especulativos. Ou tente escrever sua estória como um romance. Ou um mistério. Imagine que é um filme indie em Sundance (N.T.: festival de cinema norte-americano).

  8. Não confunda seu instrumental com seu enredo

    Você pode ter uma ótima ideia para um artefato tecnológico futurista, ou alguma mutação interessante que transforma um monte de pessoas em musívoros que sobrevivem se alimentando das suas memórias de shows de rock. Talvez você tenha a premissa mais original de todos os tempos – mas isso não é seu enredo. Seu enredo é como seu novo dispositivo vai mudar as pessoas na sua estória e como afeta suas vidas. Ou que decisões as pessoas tomam em decorrência desse avanço tecnológico.

  9. Não caia na dicotomia entre personagem e enredo

    Pessoas, principalmente escrevendo em grupos ou workshops, vão tentar separar as estórias entre baseadas em personagens ou no enredo. Isso é uma ideia perniciosa que te transformará numa aberração canibal usando um cinto feito de medulas espinhais humanas. Não existe isso de estória alicerçada em personagens ou em enredo, porque toda estória tem ambos. Até mesmo as traquinagens inconsequentes da Ploushares (N.T.: revista literária fundada em 1971) ou a mais desajeitada e tortuosa fábula de space opera. Se você começar a pensar que estórias podem ser separadas nessas duas ‘pilhas’, acabará escrevendo ou um estudo de personagens em que nada acontece ou sinfonias narrativas protagonizadas por nadas unidimensionais.

8 regras irrefreáveis para escrever contos ‘matadores’

Cristine Tellier
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