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Carl Sagan
tradução: Donaldson M. Garschagen

“Contato com extraterrestres não é sinônimo de homenzinhos verdes desembarcando de um disco voador. É muito mais: sinais captados num radiotelescópio podem conter mensagens capazes de nos fazer repensar toda a nossa concepção da vida e do universo.”
(fonte: https://www.companhiadasletras.com.br/)

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Havia começado a escrever esta resenha há alguns meses. E, por algum motivo, não a finalizei. Revi o filme anteontem e deu aquela vontade de comentar sobre a obra – o livro, mais especificamente. Aproveitei, então, o ensejo para retomar o texto e, finalmente, publicá-lo.

“Carl Sagan é meu pastor e nada me faltará.”
Antes de mais nada, é bom deixar claro que sou fâ de carteirinha do autor, desde a primeira exibição de Cosmos na TV, que abriu meus olhos para a ciência em geral e para a astronomia em particular. Tenho lembranças vívidas das minhas manhãs de domingo, assistindo Cosmos e acompanhando Sagan e sua maneira particular e apaixonada de apresentar ciência para leigos. Despertou – e alimentou – em mim o pensamento crítico. Minha eterna mania de questionar tudo se deve a ele. E seu livro O mundo assimbrado pelos demônios é um dos meus prediletos, dentre todas as minhas leituras.
Dito isso, afirmo que tentarei ser o mais imparcial possível ao resenhar esta obra. Mas, de antemão, peço desculpas por algum deslize de fã.

A protagonista é Ellie Arroway. A narrativa acompanha sua história desde a infância. Criança curiosa, foi sempre incentivada pelo pai a explorar essa curiosidade e entender o mundo. Após a morte do pai, sua mãe se casa novamente. O padrasto, extremamente machista, a desmotivava continuamente. Apesar disso, Ellie ingressa na faculdade, forma-se, destaca-se como pesquisadora na área de radioastronomia, especializando-se na busca de inteligência extraterrestre.

Carl Sagan tem uma sensibilidade ímpar ao descrever a trajetória de Ellie num meio predominantemente masculino e, infelizmente, extremamente machista. Desde os obstáculos para se adaptar ao ambiente acadêmico, passando pela dificuldade em se relacionar com o sexo oposto – ou melhor, de o sexo oposto se relacionar com ela, já que os rapazes ou não sabiam flertar ou simplesmente não tinham interesse num relacionamento amoroso. E, passada a vida acadêmica, Sagan continua expondo não só o machismo na área científica, como também a falta de ética entre cientistas, abordando a apropriação indevida de cientistas sobre o trabalho de seus pares.

Como não poderia deixar de ser, após a descoberta dos sinais de rádio extraterrestres, há um nítido embate entre ciência e religião. Fala-se não apenas de religião, mas de fé. E Sagan – sabidamente um cientista e, portanto propenso a pender a balança para a ciência – habilmente consegue manter o texto isento, sem tomar partido, sem julgar ou apontar certo e errado. As conversas entre Ellie e o pastor Palmer Ross são muito ricas, os argumentos de ambos fazem o leitor parar e refletir a respeito. Esse posicionamento isento é essencial à trama, já que em certo ponto, Ellie vê-se na mesma situação que os religiosos, tentando explicar e comprovar sua experiência.

O início da história tem alguns problemas de ritmo e de coesão, mas nada que atrapalhe a leitura ou deixe o leitor tentado a abandonar o livro. Assim como em seus textos de não-ficção, a narrativa de Sagan é bastante fluida, mesmo para os leigos em ciência. O autor sempre mescla emoção em seus escritos, de forma a não deixar o texto tão “técnico”. E o fez com mais intensidade neste livro.

Em 1997, foi lançado um filme baseado no livro, que consegue ser uma boa adaptação. Tem suas limitações, lógico, mas ainda assim é uma boa adaptação. E Jodie Foster como protagonista foi uma ótima escolha, não só pela qualidade da atuação. Impossível não fazer um paralelo entre Ellie e Clarice Starling, a protagonista de The silent of the lambs. Ambas são mulheres querendo se destacar num universo tipicamente masculino.

E neste ponto, acaba minha imparcialidade. Leia Carl Sagan! Seja este livro ou outro de sua autoria. Ninguém melhor do que ele para instigar em qualquer pessoa a sede pelo conhecimento.

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Cristine Tellier
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