Não estou inventando isto:

10 lições sobre escrita de não-ficção

»» fonte: “I’m Not Making This Up: Ten Lessons In Non-Fiction Writing”, artigo escrito por David Price, publicado no The Creative Penn, em 29/01/2014 ««

Em 4 de outubro de 2012, meu primeiro (e possivelmente último) livro foi publicado na Kindle Store da Amazon. O título é OPEN: How We’ll Work, Live and Learn In The Future (N.T.: sem tradução no Brasil). Escrever foi a maior experiência de aprendizado da minha vida. Eu gostaria de compartilhar as lições principais com você, na esperança de ajudar vocês, escritor em desenvolvimento. A última vez que estive envolvido numa acitividade criativa prolongada foi quando eu era um cantor/compositor – há muitos anos – e os paralelos entre a indústria do livro e a de discos foram bastante instrutivos e esclarecedores.

Lição 1: Encontre sua voz ANTES de começar

OPEN, de David Price
OPEN, de David Price
Lembro-me disso dos meus tempos como compositor. Gravadoras sempre estavam me pedindo para escrever uma música que soasse como, bem, com o que quer que estivesse nas parados naquele momento. Depois de andar em círculos por alguns anos (na época em que os tributos dominavam, o mundo já passou essa fase…) eu percebi que qualquer voz que eu naturalmente tivesse, tinha se perdido no processo de imitação.

Nessa época, mantive um blog regularmente por dois anos, antes de eu começar efetivamente a pensar num livro. Essa experiência foi, e se mantém, inestimável. Publicar um post por semana não apenas mantém seus músculos de escrita ‘trabalhando’, mas faz sua voz natural emergir. Eu sabia, tendo trabalhado na área educacional, que eu não queria escrever não-ficção para um público acadêmico. Então, blogar num estilo mais coloquial fez com que eu me adaptasse, e os leitores parecem ter gostado. Trabalhei uma vez com Sir Paul McCartney, e foi surpreendente descobrir que ele nunca, nunca aquece sua voz antes de se apresentar. Nunca entendi por quê. Blogar, para mim, funcionou como um aquecimento vocal.

Lição 2: Não espere pelo ambiente perfeito

Dizem que blogar está para escrever um livro assim como fazer tiros de velocidade está para correr uma maratona. Comecei a escrever o livro depois de um ano de pesquisas (Evernote, como posso agradecer?). Meus posts em geral são escritos rapidamente, mas percebi que para escrever um livro, eu precisaria de períodos de concentração, num local com poucas distrações e de uma rotina diária. Assim, optei por passar um semestre sabático na Austrália, com financiamento próprio. É o mesmo que uma banda ir gravar um álbum no Caribe, previsivelmente com resultados similares. Havia um monte de distrações e o livro empacou. Mas foi muito bom, apesar disso.

Lição 3: Escreva, depois pesquise

Eu achava que os autores faziam toda a pesquisa e depois começavam a escrever. Mas quando meu diretório do Evernote passou de 500 itens, eu não conseguia achar a matéria-prima nem saber como eu deveria estruturar meus argumentos. Nesse ponto, recebi um email de um dos meus mentores, Sir Ken Robinson. “Não demore demais antes de começar a escrever” foi tudo o que ele disse. E eu sabia que ele estava certo (convenhamos, quando seu ‘TED talk’ já foi visto por mais de 300 milhões de pessoas, você está sempre certo).

Então eu comecei a escrever, tendo apenas um esboço básico de uma trama ou mesmo um plano. E durante a escrita identifiquei o livro que eu realmente queria escrever, e isso me conduziu por caminhos que eu não tinha antecipado, que então necessitaram de mais pesquisa. Não sei como funciona para outros escritores de não-ficção, mas para mim pesquisa e escrita andaram praticamente de mãos dadas, e não uma após a outra.

Sharpened pencil next to sheet paper

Lição 4: Mentores são ótimos, leitores críticos são ainda melhores

Citando nomes, permitam-me mencionar a pessoa que talvez foi a mais importante no processo: Tim, meu antigo parceiro em composição. Com os dois primeiros capítulos prontos, compartilhei-os com Tom, sabendo que eu receberia uma crítica talvez nonsense, mas sensível. Ele me encorajou a colocar mais de mim no livro: minhas experiências, minhas histórias. Quando ouvi o mesmo de outro leitor crítico, tive de me superar. Esse foi um momento chave, pois até então eu achava que as pessoas esperavam que não ficção fosse moderada e objetiva. Em outras palavras, tediosa.

Lição 5: Menos realmente é mais

O conselho mais valioso de Tom – “Menos é mais” – não é muito original, mas escritores precisam se lembrar dele constantemente. De modo confuso, nessa época eu tinha encontrado um agente, e ele achou que o primeiro rascunho deveria ser 15 mil palavras mais longo. Então eu continuei escrevendo…

Lição 6: Tenha um editor, mas confie em seus próprios instintos

Quando cheguei a 80 mil palavras, até eu achei que poderia fazer alguns pequenos cortes. Minha editora “recém-contratada”, Cruz Publising, designou um editor. Eu aguardava algumas sugestões para pequenos ajustes, mas o que foi proposto beirava a amputação. A versão que foi publicada (a vigésima revisão) tinha 20 mil palavras a menos. Cortar aquelas digressões espirituosas pareceu um infanticídio, mas o que emergiu era mais coeso, mais robusto, mais fluido.

É crucial passar o manuscrito para alguém que será impiedoso em sua crítica, mas houve várias ocasiões em que senti que minha voz estava se perdendo. Diferente dos meus dias de compositor, desta vez aguentei firme.

Lição 7: Não pense que você terminou quando você terminar

Oh, não, você está apenas começando. Quando você convive com um livro por três anos, o processo de revisão é como bater sua cabeça em um objeto metálico afiado. Tudo o que você quer fazer é parar. É entediante, chato e repetitivo. Superei isso me lembrando que hoje em dia eu nunca escuto nenhuma das minhas músicas, porque não consigo suportar as rimas imperfeitas ou as notas trôpegas sendo cantadas/tocadas. Não quero repetir essa experiência.
Então, uma vez que esteja na Amazon, seu trabalho acabou, certo? Ehhhh, não…

Lição 8: Construa sua plataforma, antes de mais nada!

Se eu tivesse descoberto Joanna Penn antes de começar, não só eu saberia o que é uma “plataforma” mas eu já a teria construído. O entusiasmo da publicação rapidamente dá lugar à percepçào de que ninguém vai fazer propaganda para você. Em geral, eu gasto pelo menos 2 a 3 horas por dia tuitando, blogando, participando de podcasts… é inexorável. Tim Ferris compara escrever um livro a iniciar uma empresa start-up. Não gosto da rotina de ficar me autopromovendo. Mas gosto ainda menos da ideia de meu livro não ser lido.

Lição 9: Não se prenda aos dados das vendas

Durante as primeiras 48 horas após a publicação na Amazon, fiquei de olha na lista de mais vendidos nas categorias em que meu livro estava, com um entusiasmo desmedido. Num minuto eu estava à frente de Seth Godin; no minuto seguinte, ultrapassando Malcolm Gladwell. Mais tarde aprendi que era o “efeito amigos e família” de um livro novo sendo lançado. A exultação deu lugar ao desespero nos dias seguintes, à medida que o livro ia decaindo nas listas. Nunca esperei que o livro fosse um best-seller (mesmo pelos modestos padrões da não-ficção) então parei de olhar. Bem, quase.

Lição 10: Aproveite o momento, pode não acontecer de novo

Em vez disso, agora eu aprecio as resenhas dos leitores, os tuítes amáveis e os emails de pessoas que dizem que meu livro mudou a forma como viam o mundo. Isso não tem preço. Por causa das redes sociais, estou conectado diretamente a muitas pessoas que leram o livro, e rapidamente fiquei conhecido como o “OPEN guy”. Já fui chamado de coisas piores.
Sendo assim, não tenha grandes expectativas no pós-lançamento.

Cristine Tellier
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