»» versão do artigo “7 tips for revising a novel”, escrito por James Duncan, publicado em 30/12/2013 no Writer’s Digest ««

Passei o mês de dezembro revisando uma novela noir e tive também, neste fim de semana, uma discussão produtiva com dois outros escritores sobre o processo de revisão. Esses dois eventos me fizeram pensar em algumas dicas que você pode achar úteis. Lembre-se que são apenas pequenos conselhos, e cada um tem seu jeito de fazer as coisas, mas podem te ajudar com aquela impressão de estar nadando contra a correnteza neste estágio vital. Espero que ajudem. Feliz revisão!

7 dicas de revisão

  1. Use apenas um arquivo

    Isso é especialmente válido em ficcão, mas aconselho que todos os autores escrevam seus rascunhos em um arquivo Word (ou qualquer seja o software utilizado). Não apenas para ajudar a manter um senso de continuidade à medida que você avança, mas se você fizer uma alteração que afeta um capítulo anterior, tudo que você precisa fazer é rolar a tela. Também facilita a busca por palavras sem ter de abrir múltiplos arquivos. Conheci novelistas (N.T.: Diferente do português, não significa o autor de novelas para tv. Em inglês, novelista é o autor de novelas, o gênero literário que se situa entre o conto e o romance) que usam um documento para cada capítulo (fiz isso com a minha primeira novela) mas isso se torna uma confusão de arquivos quando você chega ao capítulo 60, 70, 80…

    Novelistas podem manter seu livro num único arquivo depois, mas autores de não-ficção podem preferir seprar esse arquivo em capítulos depois de feita toda a revisão (ainda que revisar nunca acaba, não é?). Organize as seções e/ou capítulos do seu livro em pastas diferentes, que também podem incluir imagens, anotações e documentos que o editor poderá precisar em cada parte do livro. Isso será útil durante a edição do conteúdo e durante a diagramação. Mas até chegar ao ponto de estar trabalhando com um editor, digo para você se ater apenas um artigo.

  2. Adicione uma página entre os capítulos

    Quando terminar um capítulo, independente do seu texto terminar no meio da página, no início ou bem lá no fim, comece o próximo capítulo em uma página nova, mas adicione uma em branco no meio. Isso irá facilitar que você saiba onde começa e termina um capítulo, mesmo rolando a tela rapidamente. Isso é especialmente útil se a maioria dos seus capítulos termina no final da página e o livro todo fica parecendo um parágrafo único quando você rola a tela. Você pode ajustar isso depois, mas um espaço extra parece judar visualmente.

  3. Mantenha um checklist

    Sim, você tem sua pilha de anotações feitas entre o primeiro e o segundo rascunho (ou vigésimo segundo rascunho…), mas antes de mergulhar nelas novamente, organize-as num checklist. Pode ser uma checklist simples e pouco detalhada, mas irá lembrá-lo de cada detalhe que você pretende ajustar. Isso vai ajudar a garantir que você não se atrapalhe com sua pilh de anotações pensando: “Eu SEI que há algo sobre o vilão secundário que é preciso remover… mas o que era?”. Faça uma lista, confira-a duas vezes.

  4. Quando você acabar, você não acabou

    Quando vocêr terminar de revisar, volte e releia os parágrafos iniciais (ou o primeiro capítulo todo) para se certificar que o sentimento e a atmosfera que você quis produzir no início ainda permanecem mesmo depois de toda a revisão feita. Depois de verificar isso, leia alguns dos últismo parágrafos para se certificar da mesma coisa. Comece intenso. Termine intenso. (E não fale nada sobre um miolo flácido agora, por favor. Depois de tantos biscoits e coquetéis eggnog neste mês, isso é a última coisa de que quero me lembrar).

  5. Sharpened pencil next to sheet paper

  6. Procure erros de digitação

    Você irá encontrar erros de digitação em abundância. Eu digito palavras erradas de três, quatro jeitos diferentes quando escrevo rápido e furiosamente, e cada vez que encontro uma, imediatamente faço um “Localizar/Substituir”. Algumas vezes acho outra ocorrências, outras vezes não, mas procurar o erro na hora enquanto está fresco na mente ajuda a garantir que eu não esquecerei dele depois. Sim, você pode incluí-lo na sua checklist, mas no mesmo tempo que você gastou anotando já teria terminado a busca e feito a correção.

  7. Dê um tempo

    Autores podem aconselhar você a revisar tão continuamente quanto possível e a trabalhar nisso todos os dias (ou quantos dias seguidos você conseguir), para você não perder o fio da meada, a voz, o cerne da estória, e eu concordo, mas também penso que se você ficar de 5 a 8 horas por dia revisando seu texto por dias a fio, você irá se exaurir. Tire um dia de folga depois de uma semana inteira revisando. Vá ao cinema na segunda à noite ou simplesmente relaxe. Você pode facilmente se perder no livro e começar a ignorar os ajustes, de tal modo que acabará perdendo a voz, parando muitos dias seguidos. Então tire uma folga de vez em quando, mas apenas de um dia, se possível.

  8. Abra mão de palavras enfatizadas

    Esta é muito subjetiva e muitos escritores discordam, mas sou muito cuidadoso ao adicionar ênfase dramática a certas palavras ou frases num diálogo. Você pode achar que um personagem agitado diria “Esteja lá à meia-noite, senão” mas outro pode ver isso como “Esteja lá à meia-noite, senão”. Perguntei a algumas pessoas para dizer a frase em voz alta com algum urgência e a ênfase surgiu por toda parte. Até “Esteja lá à meia-noite, senão” apareceu. O ponto é: você pode enfatizar uma ou duas palavras para mostrar ao leitor como você acha que o personagem está falando isso, mas todo mundo imagina jeitos de falar diferentes pros personagens independente do que você, escritor, quer que eles falem. Assim, digitar simplesmente “Esteja lá à meia-noite, senão” permite que você diga o que quer dizer e permite que o leitor aplique sua própria imagem do personagem ao diálogo. Você provavelmente (espero) já deu algumas pistas físicas e verbais, então adicionar constantemente ênfase às palavras acaba ficando cansativo e subtrai ao leitor suas próprias escolhas criativas.


  9. James Duncan é editor de conteúdo da Writer’s Digest. Para conhecer mais sobre ele e seu trabalho, acesse: www.jameshduncan.blogspot.com.

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    Cristine Tellier
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7 Replies to “7 dicas de revisão”

  1. Oi Cristine, adorei seu texto; principalmente, pois estou na construção do meu livro de contos sobre o mundo do vinho. Obrigado, foi bastante elucidativo. Mas, o meu jeito de fazer é simples. Escrevo o conto, e a cada parágrafo já vou corrigindo, assim quando termino o conto, releio, e mudo algumas pequenas coisas… Vou que vou, como bem disse: cada um tem seu jeito. E salvo de engano meu, eu aprendi isso lendo o Cheiro de Goiaba do Gabriel Garcia Marquez, ele faz assim também… Abraços e até o próximo encontro dos blogs.

  2. Olá Marcelo,
    É sempre bom saber que o texto foi útil.
    Cada um tem seu jeito de fazer – tanto a escrita quanto a revisão. As dicas ajudam a encontrar esse "melhor jeito".
    Abraços e até lá.

  3. Oi Cristine, li atentamente tuas dicas. Abaixo, vou transcrever métodos que espontaneamente surgiram no decorrer do meu processo criativo.
    Gênio de Rua – Um Filme de Letras, antes do Capítulo 3, já conhecia a sua capa e a trilha que emoldura o book trailer. Gênio de Rua 2 – O Filme de Letras Continua, em construção, também já tem a capa e a trilha. Antes de iniciar meu dia como Escritor, ouço o fundo musical, olhando para a capa. Só depois começo a escrever. Durante a audição e visão, as cenas se projetam. Isso não quer dizer que elas acontecerão, mas servirão de base. Psicológico ou utópico? Sei lá! Pra mim funciona!
    Além de morar sozinho, ao sair no portão, estou a três minutos do mar. É sentado diante dele, percebendo o vai e vem das ondas, é que raciocínio nitidamente a analogia de ideias que vão e voltam. Algumas são inéditas. Outras, no entanto, retornam mais intensas.
    Antes de nomear um personagem, pesquiso minuciosamente se este que escolhi existe ou não. Não gosto, a não ser que sejam adequados, nomes corriqueiros ou difíceis. Isso ocorre muito com livros estrangeiros. Para o Escritor deve ser normal.
    Um exemplo prático ocorreu quando li “Quem matou Getúlio Vargas” de Jô Soares. Ele poderia ter criado como assassino, um gaúcho, mineiro, nordestino, ou outra região, mas escolheu um Russo. Em determinado momento, começaram a perambular pelas páginas, os parentes do Russo. A certa altura eu imaginei que a fala era da mãe, mas não, era do avô. Depois de pesquisar nas páginas anteriores, quem era quem, e assim mesmo, continuar confuso, fechei o livro e devolvi. O Jô é um ótimo Escritor, eu é que não sou um bom leitor!
    Se me perguntarem como me qualifico como Escritor, diria:
    O Lapidador!
    Eu não conheço a rotina de um autor literário, mas imagino que deva ter algumas semelhanças e muitas individualidades.
    Após escrever o Capítulo 1, retorno e leio-o novamente. Inicia então o processo de pré-lapidação. Retiro, incluo ou substituo pontuações, parágrafos, frases, palavras.
    Inicio o Capítulo 2. Ao concluir, volto ao primeiro e leio os dois, ainda na pré-lapidação.
    Começo o 3, e ao terminar, volto ao 1 e leio os três, mantendo a pré-lapidação. E assim por diante. Logicamente que quando estiver no vigésimo, por exemplo, não retorno ao 1. Mantenho sempre o retorno a cinco capítulos. Talvez seja por reler constantemente, sejam desnecessários roteiros, e pontas soltas, inexistam.

  4. Olá! Tenho lido vários dos seus textos e eles tem me ajudado muito a revisar e melhorar minha escrita! Continuem por favor a fazer esses textos de ajuda! Pode parecer simples para algumas pessoas, mas para nós iniciantes fazem toda diferença!

    Parabéeeeeeeens!

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