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A estrela do diabo (Marekors)
Jo Nesbø

Sinopse
O detetive Harry Hole está de volta. Tentando superar a morte da ex-parceira de trabalho, obcecado em provar a culpa do também investigador Tom Waaler, abandonado pela namorada e afundado no alcoolismo, ele ainda tem de lidar com um misterioso assassinato de uma jovem. Quando novas mortes começam a ocorrer, e elementos em comum vão surgindo aos olhos de Harry, ele percebe que está diante de um perigoso serial killer.

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A leitura deste livro foi totalmente não programada. Não só a leitura, como a compra também. Fui à Floripa no final de semana passado, para participar da maratona, e, como ia passar lá apenas dois dias, calculei que um livro seria suficiente para me ocupar durante a espera no aeroporto, o vôo e alguns momentos de tédio no quarto do hotel. E levei comigo As esganadas, de Jô Soares – post aqui. Contudo, um chá de cadeira inesperado ao chegar ao hotel – meu quarto demorou muito a ficar pronto – estragou meu planejamento. Quando finalmente consegui fazer o check-in, faltava pouco mais de dois capítulos para terminar a leitura, que eu finalizei em menos de 20 minutos.

E eu, como uma boa leitora viciada, não posso ficar sem um livro para ler. Única solução: comprar outro. Fui a um shopping – único local onde haveria livrarias abertas num sábado à tarde. E, depois de circular entre as prateleiras por quase meia hora – as vendedoras vinham em turnos perguntar se eu precisava de ajuda – optei por este, tendo em mente que um livro policial costuma ser a melhor escolha para leitura em locais com muita gente conversando ao redor.

Eu já havia lido algo a respeito sobre um outro livro do autor, lançado recentemente, O redentor, cuja capa sempre me fazia lembrar o primeiro volume da trilogia de Stieg Larsson, The girl with the dragon tattoo. Sabia que, nos três livros dele traduzidos para o português, o protagonista, o detetive Harry Hole, era o mesmo. Sendo assim, o mais sensato seria ler o primeiro para me familiarizar com o personagem. Porém, nem tudo é perfeito no mercado editorial brasileiro de traduções. O primeiro lançado aqui, Garganta vermelha, é na verdade o terceiro da série. A estrela do diabo é o quinto. E O redentor, o sexto. A livraria não tinha Garganta vermelha e voltei para o hotel com A estrela do diabo a tiracolo.

Um detalhe interessante – e bastante importante – sobre a tradução. Apesar de a publicação não ter se iniciado corretamente – pelo primeiro livro da série -, todos os três desta série aqui publicados foram traduzidos diretamente do norueguês, o que é certamente uma vantagem para o leitor.
(lista de todos os livros no site do autor)

marekorsO estilo de escrita do autor é bastante direto, quase seco. Apesar de vários trechos descritivos, a prosa é enxuta, não há excessos. Não sou conhecedora da literatura norueguesa para poder afirmar, ou pior, generalizar ao fazer comentários sobre isso. E também seria imprudente rotular o estilo após a leitura de apenas um livro do autor. Mas é necessário comentar que senti um forte contraste ao lê-lo logo após dois livros de autores nacionais. Tem-se a impressão de que a “musicalidade” instrínseca ao idioma brasileiro, simplesmente inexiste no norueguês. Mas gostei bastante do tom da narrativa e achei que “casou” muito bem com a estória. Porém concordo que, em alguns trechos, o excesso de detalhes prejudique um pouco a fluidez da leitura.

Diferente da grande maioria dos livros policiais, este não se resume a narrar a sequência de fatos relativos aos assassinatos, à investigação, à descoberta e possível captura do criminoso. Diversos capítulos iniciam-se com a introdução de novos personagens ou com a descrição de um lugar que ainda não fora citado. O leitor sente-se deslocado, sem saber do que se trata. Até que o autor faz o link e revela qual a relação disso com a estória. Generalizando um pouco, basicamente essas digressões aparentes tem a ver com as vítimas, com as testemunhas, com o principal suspeito ou com o protagonista. Percebi, ao ler alguns comentários de outros leitores, que essa solução narrativa não agradou 100%. Alguns reclamaram, achando que interrompia o fluxo de eventos; outros gostaram e acharam que era uma inserção bem-vinda; outros acharam que essas “mini-biografias” poderiam ter sido mais exploradas, dando mais detalhes. Pessoalmente, gostei bastante, tanto por ter a oportunidade de saber mais sobre alguns personagens, como pelo suspense causado pela pergunta “Em que ponto da trama isto se encaixa?”.

O autor conduz bastante bem a narrativa a fim de que o leitor não tenha vontade de abandonar a leitura antes de descobrir whodunit. Mas o livro não se resume a isso. Aproveitando a condição do protagonista – depressivo, obsessivo e tentando evitar se afundar na bebida -, o autor aborda as consequências de suas escolhas pregressas, tanto em sua vida pessoal e profissional, quanto na vida das pessoas que o rodeiam. Lógico que o assunto não é explorado extensivamente, afinal, este é um livro policial e o leitor quer chegar logo “aos finalmentes”. Mas o autor usa bem o tema como pano de fundo de várias cenas. E faz o mesmo com algumas discussões sobre o papel da polícia na sociedade. Sua eficiência (ou não), as brechas na lei, os meandros da burocracia são assuntos de vários diálogos entre Hope e seus colegas de trabalho. E, novamente, este é um livro policial e este tema é tratado en passant, pois o assunto principal ainda é descobrir quem é o serial killer.

jo nesbo
Jo Nesbo
Sobre isso, tenho uma observação importante. Faltava ainda um quarto do livro quando os investigadores estavam prestes a prender o principal suspeito. E eu me perguntava “E agora? Vai ser encheção de linguiça até o final?”. Não mesmo! Dali em diante, a narrativa adquiriu um ritmo acelerado, com várias reviravoltas totalmente inesperadas que me impediram de largar o livro antes do final. Surpreendente mesmo.

Enfim, para quem estiver a fim de conhecer um pouco de literatura policial norueguesa, que goste quando a trama tem algo mais além de descobrir o culpado, é uma boa pedida.

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Cristine Tellier
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