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Paulo Coelho, que lança seu 22º romance, diz que Ulysses fez mal à literatura

Este é o título de uma matéria publicada no Jornal Floripa, em 04/08. Não é que eu aconselhe a leitura, mas o post certamente fará mais sentido depois de de ler o artigo.

james joyceAo ler a matéria, minha reação foi de indignação total. Não gosto do que Paulo Coelho escreve. Li um livro dele e tentei ler outros dois, mas a encheção de linguiça era tamanha que desisti. Não recomendo a ninguém e muito menos tenho a intenção de tentar ler outras obras dele. Apesar disso, tenho respeito pela sua trajetória profissional. Afinal, viver (apenas) de literatura, principalmente no Brasil, é algo que poucos podem ter a felicidade de fazer. Contudo, suas declarações me fizeram perder totalmente o respeito pela sua pessoa. Aliás, respeito é a palavra-chave nesse evento. Ele demonstrou desrespeito total por seus pares, pela literatura, por obras que resistiram ao tempo e ainda são lidas e “cultivadas” ao redor do mundo.

Meu primeiro palpite é que ele simplesmente não leu. Assumo, mea culpa, eu não li Ulysses. Aliás, comecei por duas ou três vezes (comento sobre isso neste post). Mas isso absolutamente não me dá o direito de falar da obra como um todo e afirmar taxativamente, como PC fez, que “não tem nada ali”. Qual seu respaldo ao afirmar isso? Qualquer obra, por mais medíocre ou mal escrita, “tem” algo. Se até os livros dele tem, como uma obra cultuada por muitos – como o é Ulysses – pode não ter nada? E PC, arrogando-se o direito de professar uma opinião, falou mal e desdenhou de algo sobre o qual (provavelmente) não tem conhecimento. E, sobre poder ser resumida num tuíte, acredito que qualquer texto o seja. A propósito, os livros de PC, possivelmente caibam em menos de meio tuíte. Mas poder ser resumida a tal ponto não é demérito algum. Aliás, é mérito sim. Mérito de quem fizer o resumo, pelo seu poder de concisão.

Não digo que seja obrigatório ler Ulysses. Muito menos que seja obrigatório gostar de Ulysses. Mas é de uma arrogância sem tamanho (para não falar idiotice) dar opinião sobre ele – ou sobre qualquer outro livro – sem ter lido, baseando-se apenas na sua fama de difícil, no fato de ser considerado uma experimentação formal e/ou estilística. E este foi outro ponto que, na opinião de PC (totalmente equivocada, ao meu ver) desabona Ulysses. O enfoque principal na forma, segundo ele, foi prejudicial aos demais escritores, que “caíram em desgraça ao perseguirem o reconhecimento pela forma e não pelo conteúdo”. Equivocadamente, PC parece acreditar que defender a literatura que ele pratica – a chamada literatura de entretenimento – significa criticar e detratar a “alta literatura”. Vale observar que não me agrada essa denominação, mas é assim que a mídia e a imprensa em geral tem se referido a ela. Em minha modesta opinião de leitora viciada e aspirante a escritora, esse suposto embate é algo totalmente sem sentido. Há espaço para toda forma de literatura, assim como na gastronomia há espaço para gourmets e comida de boteco. Não se faz necessário escolher uma ou outra. É perfeitamente possível gostar de “Geração Subzero” e da “Granta” na mesma proporção. Já li o primeiro, comecei o segundo e, naturalmente, há contos que não me agradam tanto em um como em outro. E obviamente não é por que um é literatura de entretenimento e outro é alta literatura. Tudo é literatura. Uma coisa não exclui a outra. Esse maniqueísmo é forçado e falso.

Há a possibilidade de as declarações de PC serem apenas uma provocação? Sim, sempre há. Podem não refletir exatamente sua opinião. Podem ser uma ação marketeira apenas para conseguir as manchetes, criar polêmica e chegar aos trending topics do twitter. De qualquer modo, acho que foram declarações infelizes e desnecessárias. E deixam a impressão de que sua intenção era se auto-promover como “o melhor do melhor do mundo” em termos de literatura de entretenimento, com o único intuito de maximizar as vendas de seu livro mais recente. Se for isso mesmo, não há outro adjetivo para defini-lo a não ser ignóbil. Mas acho que o melhor mesmo, ao invés de desprezá-lo, é simplesmente ignorá-lo.

ulysses

Cristine Tellier
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One Reply to “Polêmica?”

  1. Não se pode criticar a opinião de outras pessoas sem bons argumentos. Opinião é algo íntimo. E muito menos não se deve usar como argumento algo que não se tem certeza, como a de ele não ter lido o livro. Creio que sua antipatia por não ter gostado dos livros dele acaba influenciando na sua dissertação, nesse artigo. E se a intenção é ignorá-lo, seria melhor não ter feito o Artigo. Abraços.

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