amar eh crime

Amar é crime
Marcelino Freire

“Escrevo porque foi a única maneira que encontrei de alguma forma me vingar.”

Poderia afirmar quase sem sombra de dúvida que o conto é o meu formato literário favorito. Digo, “poderia” já que a crônica está ali disputando cabeça a cabeça essa primeira posição na minha lista de predileção. Entendam, não é que eu não goste de outros formatos. Gosto, e gosto muito. Mas o conto – e a crônica – tem uma característica que, a meu ver, é uma vantagem nos dias atuais. Dias em que a falta de tempo é uma constante. A extensão reduzida de ambos, em relação a romances, novelas e similares, é um atrativo. O tempo de uma viagem de trem, ônibus ou metrô em geral costuma ser suficiente para iniciar e terminar a leitura de um ou outro. (Tese comprovada com sucesso na leitura do primeiro conto do livro, “Vestido longo”, feita no trajeto para casa após conhecer o autor num evento do Sesc » Sempre um papo).

amar eh crime

Enquanto em romances e novelas, o autor envolve, enreda o leitor na trama e na trajetória dos personagens, prendendo sua atenção durante páginas e páginas, a concisão do conto é outra qualidade que desperta meu interesse. E Marcelino – um nome que se destaca na literatura brasileira contemporânea – demonstra domínio disso como poucos. Apesar de alguns dos 14 contos do livro serem um pouco mais longos do que o usual, em momento algum perde-se a unicidade de tempo-espaço tão característica desse formato narrativo.

Mas não apenas isso. A musicalidade de sua prosa é algo que chama atenção logo que se inicia a leitura. É quase poesia em prosa. Não há a rima explícita dos poemas, mas esta aparece sutil no fraseado dos parágrafos e diálogos. O contista parece brincar com as palavras. Em alguns momentos tem-se a impressão de que os contos foram escritos para serem lidos em voz alta, para que se desfrute totalmente da sua cadência, da sua sonoridade. E a harmonia melódica do texto contrasta de modo gritante com a dramaticidade quase trágica da temática dos contos. Ao mesmo tempo em que a musicalidade enlaça e enleva o leitor, os temas realisticamente abordados e a força das palavras quase o nocauteiam. O forte cunho social de suas estórias vem amalgamado ao amor e ao ódio. Os conflitos oscilam entre um e outro, mostrando que o amor de um pode ser crime aos olhos de outro e vice-versa, desnudando também a transformação do amor em crime, em violência.

A leitura do livro foi uma grata satisfação. A inquietude que transparece nos textos é algo que chama a atenção e desperta o interesse do leitor. Aliás, deixou-me tão interessada que, apesar de não ser um romance com um cliffhanger a cada final de capítulo, cada conto que eu terminava de ler deixava-me com imensa curiosidade de ler o seguinte. O que fez com que eu terminasse a leitura do livro em menos de dois dias.
Enfim, vale conferir.

Para quem se interessou pelo autor, veja aqui entrevista dele no Programa do Jô.

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Cristine Tellier
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