Estava folheando uma revista há algumas semanas e, numa coluna sobre trabalho e carreira, havia um questionamento de um leitor que para alguns pode parecer tolo. Mas interessou-me bastante por ter gerado identificação imediata com meu modo de pensar. O leitor em questão afirmava que ao contrário de seus colegas de trabalho, não pretendia ser um exemplo de sucesso na vida profissional. Que ter o melhor emprego ou galgar cargos na hierarquia não era necessário à sua felicidade. E ele questionava se há algo de errado em ser assim, se ele poderia ser considerado pior que seus colegas por causa disso.

Eu, particularmente, penso como ele. E já há muito tempo deixei de me questionar se há um jeito certo ou errado de conduzir a vida profissional. Quando comecei a trabalhar, pensei que a melhor atitude era a dos colegas desse leitor – e da quase totalidade dos meus colegas, tanto do meu primeiro emprego, como do atual. Mas passado algum tempo, percebi que, apesar de parecer ser a melhor atitude para os demais, não era a melhor para mim. E durante certo tempo, assim como o leitor, questionei-me sobre isso. Ficava me perguntando se havia algo de errado, se eu seria inferior a eles por pensar dessa forma. Mas percebi simplesmente que a minha definição de sucesso é que diferia dos demais. Minha concepção era outra. O sucesso profissional, conforme a visão dos demais, não era (continua não sendo) ingrediente básico para o meu bem-estar, para minha felicidade.

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Respeito os demais. Cada um é cada um. E acredito que devemos viver de acordo com a nossa definição de felicidade. Não consigo entender pessoas que resumem sua própria existência ao cargo que têm e à ambição de chegar a níveis hierárquicos mais elevados. Assim como provavelmente, esses não entendem a minha concepção de sucesso (ou a ausência dela). O que me incomoda são demonstrações explícitas e arrogantes de status profissional. O que me incomoda é que não respeitem o meu ponto de vista. O que me incomoda é que tentem me convencer que a outra visão é a correta, a melhor, a única possível.

Se há quem acredite que investir na carreira e se dar bem profissionalmente é o caminho, pois bem, lute por isso, corra atrás do que lhe traz satisfação. Eu, por outro lado, encaro o trabalho como um meio, não como um fim. Construir uma carreira não é algo que signifique realização pessoal para mim. Se meu salário me sustenta, para mim é o que basta. Não pretendo dedicar meu tempo a algo que não me satisfaz pessoalmente, e sucesso profissional definitivamente não faz parte dessa lista. E não sinto arrependimento algum por agir desse modo. Executo meu trabalho da melhor forma possível e espero não ser recriminada apenas por não ambicionar chegar algum dia a um cargo de direção na empresa onde estou.

Conversando com um amigo, ele argumentou que a ambição, o desejo de alçar vôos mais altos na carreira, é consequência da falta de bens e/ou dinheiro em algum momento da vida. Que quem, como eu felizmente, não sofreu esse tipo de privação possivelmente não tenha tanta ambição quanto os que sofreram. Discordo, em parte. Acredito que a ambição deva-se ao fato de estar insatisfeito com o que já se tem e não apenas, não necessariamente à falta de algo. Talvez a falta de “algo” potencialize essa ambição. Conheço pessoas nas mesma condições (financeiras/profissionais) que eu que são extremamente ambiciosas, que almejam “riqueza e glória”, parafraseando Indiana Jones. E para elas, atingir essa meta passa obrigatoriamente pela obtenção de status profissional. Não os condeno. Apenas esse não é meu modo de encarar minha vida profissional. Minha ambição é direcionada a outras coisas. Simples assim.

Cristine Tellier
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2 Replies to “Sucesso”

  1. Assunto polemico, mas tenho a forte tendencia em concordar contigo.
    Existem profissionais excepcionais usando um determinado ‘bone’ , mas a sede de subir e’ tao grande que ao mudarem de patamar se mostram terriveis, despreparados e sao julgados como um pessimo profissional… O que, em partes, nao e’ verdade…

    Enfim, diria mais coisas aqui, se eu nao estivesse postando do meu iPhone. (sei que esta ultima frase tira um pouco do meu credito por parte dos fas do android 😉 ).

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