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»» versão do artigo “Writing Fantasy: How to Write Fresh When Following a Recipe”, escrito por Jeff Wheeler, publicado em 31/05/2016 no Writer’s Digest ««

Quando um leitor se apaixona por um novo universo de fantasia, pode ficar irrequieto para tentar algo novo. Um dos meus heróis enquanto eu crescia (e o homem que me inspirou a escrever) foi Terry Brooks, e seus livros de Shannara sempre venderam mais que as outras séries. Queria segui-lo no universo das séries de Magic Kindom e suas séries de fantasia urbana, mas como muitos outros senti que a receita de Shannara era muito mais agradável. Eu estava sempre pronto para outra dose!

Durante minha jornada como escritor, não quis ficar restrito a escrever num único universo. Minha imaginação sempre foi como os créditos de abertura de Star Trek, com uma ânsia de explorar mundos desconhecidos, de procurar vida e novas civilizações, de audaciosamente ir… bem, você entendeu a ideia.

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USS Enterprise (NCC-1701), nave da série de tv original

Mas isso leva a um problema. Como você seduz os leitores para experimentarem um novo universo quando todos já amam o antigo? Por que começar do zero quando a receita funciona?

A meu ver, o que há de maravilhoso sobre ingredientes é a variedade de ofertas. Quem quer que tenha resolvido triturar Oreos e misturar em sorvete de baunilha era um gênio. Autores são inspirados por uma variedade de fontes e então combinam ideias diferentes para criar uma nova mistura interessante. Algumas funcionam, outras não. Exploramos e jogamos com várias. Sempre gostei de me esforçar para fazer algo incomum.

Então, como eu faço para que fique fácil de engolir?

muirwood booksPrimeiro, eu preciso ficar animado sobre o novo universo e suas possibilidades não exploradas. Fiz isso com todas as séries que escrevi, imergindo minha mente em ideias e deixando meu cérebro ruminá-las por semanas ou meses (às vezes anos!). Para meus livros Muirwood, decidi escrever uma protagonista feminina muito forte, uma adolescente órfã morando em Muirwood Abbey. Para me preparar para contar sua história, li muitos clássico como Anne of Green Gables (N.T.: Anne dos Cabelos Ruivos, de L.M. Montgomery), The Little Princess (N.T.: A princesinha, de Frances Hodgson Burnett), e muita Jane Austen. Eu queria uma história com um toque clássico, algo entre YA e fantasia adulta, um livro que pais e filhos iriam querer ler juntos. Depois disso, precisava tornar esse mundo real, estabelecendo um cenário que eu pudesse visualizar, cheirar e, praticamente, tocar. Então, escolhi um cenário real, Glastonbury Abbey, na Inglaterra, e fiz um monte de pesquisas sobre a área e olhei dúzias e dúzias de fotos de todos os ângulos. Até entrei em contato com o zelador da abadia, para conseguir fotos do interior da cozinha onde minha personagem cresceu. Aprendi sobre túneis secretos que foram descobertos sob as fundações. Toda essa pesquisa, além da geografia local e dos mapas serviram de inspiração para detalhes da trama.

kingfountainFiz a mesma coisa com minha nova série, Kingfountain. Só que desta vez, mergulhei nas peças de Shakespeare, assistindo a diversas versões diferentes de Ricardo III assim como a série da BBC, Hollow Crown (N.T.: série britânica cujos episódios são adaptações de peças históricas do bardo). As roupas, os castelos, as lutas de espadas, os diálogos, tudo imerso no meu cérebro inspirou elementos diferentes. Sempre fui fascinado com o conceito de “fluxo” a adicionei rios e cachoeiras à série e criei um novo tipo de espiritualidade representada pela Fonte. Assim como me esforcei para escrever do ponto de vista de uma adolescente, me esforcei novamente escrevendo do ponto de vista de um garoto de oito anos de idade chamado Owen. Como entrei na cabeça de um garotinho? Meus dois mais novos, com 7 e 9 anos, foram minha fonte de material. Uma vez que esse universo e seus personagens se tornaram reais para mim, pude tentar fazê-lo real para meus leitores.

A segunda estratégia que venho usando para me ajudar a prender o leitor a novos universos é a utilização de citações entre os capítulos. Eu não inventei esse artifício, mas o meu é um pouco diferente. Veja, tenho colecionado citações de sabedoria por mais de uma dácada. Há citações de filósofos da Antiguidade como Sêneca, Ovídio e Plutarco, ou de pessoais mais modernas como Benjamin Franklin ou James Allen, e elas falam de segredos da vida, do amor e da natureza humana. Escolhi esses dizeres e então eu os torço para preencherem meu propósito e lançar luz no universo, seja sobre seus hábitos, religiões, tradições, ou qualquer outra coisa. Usei citações clássicas para a série Muirwood. Em The Queen’s Poisoner, minha musa foi Maquiavel e eu atribuí as citações a um espião entediado, chamado Dominic Mancini, um integrante do elenco que escrevia essas coisas em seu diário.

Esse artifício realmente ajuda a explicar as coisas em bocados pequenos e saborosos, sem ter de entupir meus leitores de informação numa única porção. Também tenho inserido elementos de um universo sutilmente em outros universos. Por exemplo, o monstro mais temido que já inventei chama-se Fear Liath. Antes de um deles aparecer, o ar fica frio e uma névoa desce e você os ouve antes de vê-los. Usei esse monstro tanto na série Muirwood quanto na Mirrowen. O toque de familiaridade provocou várias questões.

Nem todo leitor irá gostar de cada nova receita, e está tudo bem. Acho que o mais importante é que os leitores sintam que cada universo diferente é real e distinto para mim. Pois eu estou convencido de que são, então eles têm de experimentá-los da mesma forma.

E às vezes, correr riscos como esses vale a pena. Meu novo universo de Kingfountain parece prestes a ultrapassar a predileção pelo antigo. Eu não poderia estar mais satisfeito.


Jeff-Wheeler
(photo by Kim Bills)
Jeff Wheeler é autor de uma das coleções best-seller na Amazon, Muirwood.
Sua nova coleção, Kingfountain, está prestes a ultrapassar sua predecessora.
Fundador do Deep Magic, um e-zine sobre fantasia e ficção científica.

 


Cristine Tellier
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