Somente nos cinemas
Jorge Ialanji Filholini

O livro mais recente de Jorge Ialanji Filholini – conhecido pela coletânea Somos mais limpos pela manhã – integra a Coleção LêProsa, coordenada por Marcelino Freire. Assim como seu primeiro livro, é também uma coletânea de contos, desta vez com uma temática que me agrada bastante. Aliás, esta resenha poderia ser igualmente publicada no meu blog “Luzes, câmera, café!” já que os contos misturam literatura e cinema – seja na temática, seja no formato.

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“O cinema é casa em destruição. É pecado, sujo, cínico, cinza e cheio de poeira. Eu não assisto a um filme querendo sair bem. Se não me incomoda, não é bom.”
(p.79)

Seja como foco da narrativa, seja como figurante, o cinema está presente em todos os textos. Orbitando essa temática, o autor explora várias vivências dos personagens. Os contos abordam solidão, amor, inveja, angústia, família, passagem da infância à adolescência, crítica social, amor pelo cinema (lógico), entre outros. E, da mesma forma que discorre sobre a miríade de emoções e sensações dos personagens, disseca cada uma das etapas criativas do cinema. Desde a elaboração do roteiro até a impressão causado no espectador, passando pela montagem dos cenários e escolha dos figurinos.

Filholini consegue falar de todos esses sentimentos e experiências ao mesmo tempo em que circula com desenvoltura entre diversas estruturas narrativas – monólogo, diário, e-mail, somente diálogos. Algo que, cinéfilos como eu, relacionarão facilmente ao estilo de vários diretores/roteiristas – o intimismo de Bergmann ou Haneke, os cortes frenéticos de Michael Bay, a verborragia de Woody Allen ou Tarantino. Meu primeiro pensamento ao finalizar a leitura foi que pode-se dizer que os contos são “curtas-metragens literários”. Principalmente em “Bianca movies” e “Fila de cinema”, é possível imaginar o recorte de cada cena e o ritmo dos diálogos.

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Jorge Ialanji Filholini
É incontestável o amor de Filholini pela sétima arte. A obra está repleta, quase transbordando, de tantas referências cinematográficas. Não apenas cinematográficas, há também referências a músicas e peças de teatro. Enfim, um deleite para leitores curiosos.
 
Vale destacar que a capa linda é projeto do quadrinista e escritor Lourenço Mutarelli. É uma colagem feita a partir de pôsteres e fotos, que remete o leitor imediatamente àqueles cartazes amassados e envelhecidos, típicos das paredes dos saudosos cinemas de rua – além de ter tudo a ver com a estrutura do primeiro conto do livro, “Ilha de edição”.
 

“Responda rápido. O que vale mais: um filme bom com o final ruim ou um filme ruim com aquele belo final?”
(p. 19)

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Cristine Tellier
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