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Tony & Susan

Austin Wright
tradução: Rubens Figueiredo

Há vinte e cinco anos, Susan Morrow deixou Edward Sheffield, seu primeiro marido. Certo dia, em sua nova casa, no subúrbio, onde mora com o segundo marido e os três filhos, ela recebe, pelo correio, um embrulho que contém o manuscrito do primeiro romance de Edward. Ele lhe pede que leia seu livro: Susan sempre foi sua melhor crítica, justifica.
Ao iniciar a leitura, Susan é arrastada para dentro da vida do personagem Tony Hastings, um professor de matemática que leva a família de carro para a casa de veraneio no Maine. Quando a vida comum e civilizada dos Hastings é desviada de seu curso de forma violenta e desastrosa, Susan se vê às voltas com seu passado, obrigada a encarar a própria escuridão e a dar um nome para o medo que corrói seu futuro e que vai mudar sua vida.
(fonte: https://www.goodreads.com/)

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A história é dividida em três linhas narrativas: presente e passado de Susan e o livro-dentro-do-livro. O recurso metalinguístico utilizado pelo autor é um desafio per se. O autor é muito bem sucedido em separar as narrativas. Mesmo sabendo que tudo foi escrito por Wright, tem-se a impressão de que são de autores diferentes. As características estilísticas do livro e do livro-dentro-do-livro são bem diversas, a começar pela voz narrativa, ambas em 3ª pessoa, mas com um narrador onisciente no livro de Edward. Enquanto Animais noturnos – o livro dentro do livro – é um thriller, Tony & Susan é um drama psicológico, e o ritmo das histórias reflete isso. Mais ágil em um, mais contemplativo e introspectivo no outro – algo que talvez desagrade alguns leitores que preferem a adrenalina e o suspense.

E mesmo sendo (aparentemente) desconexos, existe, sim, uma intertextualidade. Os dois textos se entrelaçam e se complementam. Animais noturnos é uma metáfora do casamento de Susan e Edward, ou melhor, de como Edward a via no final do relacionamento deles. Nitidamente, Edward envia o livro a Susan com a intenção de que ela sinta o que ele sentiu quando eles se separaram. Um ressentimento e um sentimento de vingança bastante desproporcionais ao que houve (sem spoilers aqui). Na cabeça dele, ela é a vilã da história dos dois, ao tomar decisões que não refletiam o que ele esperava do relacionamento.

E, nós leitores, nos sentimos representados por Susan. Porém, apesar de lermos o mesmo livro, as expectativas são diferentes. Enquanto nós queremos saber o desfecho da história de Tony, Susan procura – não apenas nas entrelinhas – vestígios do homem que ela conheceu. Ela enxerga a história com outros olhos, sempre tentando perceber o quanto da trama está “contaminada” pelo seu passado com Edward. E, enquanto avança na leitura, ao mesmo tempo que relembra sua vida com Edward, começa a questionar seu casamento atual. Suas pausas na leitura são bem oportunas para o leitor também, que aproveita para organizar as ideias à medida que a(s) trama(s) se desenrola(m).

O final em aberto pode decepcionar alguns leitores, ávidos por um desfecho. Mas diferente dos contos de fadas, em que o “felizes para sempre” é um final satisfatório, histórias reais não têm desfechos definitivos. São apenas recortes da vida. E o livro é isso: um recorte na vida de Susan, que, pensativa, vai voltar para sua rotina e deixar os personagens de Animais noturnos para trás. E não é assim que acontece a cada livro que lemos?

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Sobre o filme

Esteticamente, um deslumbre. Cenários, figurino, fotografia. O roteiro dividido em três linhas narrativas (assim como o livro) desafia e deleita o espectador. Aparentemente não relecionadas, se entrelaçam com fluidez devido à montagem bastante orgânica. Incômodo e perturbador desde os créditos de abertura, é uma obra que faz o espectador pensar – algo que, por si só, já faz valer a pena assistir.

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Cristine Tellier
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