Andar de moto deixa a gente naturalmente impaciente. Por um simples motivo: andar de moto (principalmente em São Paulo) significa não pegar trânsito. Ou melhor, pegar trânsito, mas não ficar preso nele. Ver os carros totalmente parados, ou no máximo a 20 ou 30km/h e passar por eles no limite máximo permitido na via, seja ele 70, 80 ou 90km/h. E pior, deixa a gente mal acostumado. Atualmente, ao andar de carro, a menos que o trânsito esteja bom, livre e desimpedido, passo a maior parte do percurso pensando no tempo perdido ali naquele trânsito parado, enquanto que de moto, possivelmente eu já teria chegado ao destino.

transito

Mas o que percebi depois de começar a andar de moto é a falta de educação no trânsito, praticamente generalizada. De moto, a atenção precisa ser redobrada, não só pela pilotagem da moto em si pois, como dizia meu avô, “a diaba foi feita pra cair”, como também pela imprudência e falta de consciência dos demais motoristas – tantos os dos carros, quanto boa parte dos motociclistas (no caso, motoqueiros e/ou motoboys). Some-se a isso a falta de habilidade de alguns motoristas e um trajeto de 10min. pode se tornar uma trilha de obstáculos.

Hoje mesmo, ao voltar para casa, ia contornar uma rotatória quando, do nada, assim sem mais nem menos, o carro à minha frente parou. Freou sem motivo aparente, nenhum veículo estava na rotatória além dele, nem um outro vinha na sua direção. E ele simplesmente parou. Sem razão. Mesmo que outro veículo viesse, a preferência é dele. É sempre de quem já está na rotatória. E ele parou. Se eu não estivesse prestando atenção, se tivesse olhado no retrovisor nesse momento, ou apenas olhado para o lado e eu teria tomado um capote, daqueles cinematográficos. A moto teria ficado na traseira do carro e eu teria voado por cima dele. E esse é apenas um dos exemplos da falta de consciência dos motoristas. Desviei em tempo, e nem me dei ao trabalho de olhar para trás e descobrir o motivo da parada.

Outro detalhe simples, e que de moto faz uma diferença tremenda, é dar seta antes de virar ou trocar de faixa. Não há um só dia que eu não tome uma fechada de algum fdp que troca de faixa dando seta apenas no momento em que invade o corredor ou, na pior das hipótese, sem sinalizar nada. Nessa hora lembro, e falo dentro do capacete, o nome de uma comunidade do Orkut da qual faço parte: “Dá seta, p@#$%!”. Eu sei, concordo que a maior parte da frota de motoboys é composta de folgados e imprudentes. Mas os demais usuários de moto como meio de transporte devem ser respeitados. O motociclista é mais penalizado por ser menor e mais vulnerável, mas mesmo os demais carros são atingidos (às vezes, literalmente) por essa atitude imprudente e irresponsável.

mr. walker

Sempre que penso em atitude no trânsito, lembro-me daquele desenho Disney em que o Pateta é um cara pacato e sossegado que se transforma ao sentar-se ao volante. Parece como que possuído por uma entidade sádica e violenta. Uma versão automobilística de Dr.Jekyll e Mr.Hyde.

Às vezes, tenho a impressão de que o trânsito faz emergir o pior de nós. Em algum lugar, lembro de ter lido que, no trânsito, cada motorista comporta-se como um gato de Schrödinger transgressor, estando em dois estados opostos ao mesmo tempo, questionando a atitude irresponsável e a barbeiragem dos demais e cometendo os mesmos absurdos por ele criticados.

Mas acho que tudo acaba se resumindo à educação. O “mau comportamento” dos demais não pode, nem deve servir de justificativa para se achar no direito de reproduzir o erro alheio. Respeito é bom e deve ser praticado sempre, inclusive no trânsito.

http://www.youtube.com/watch?v=RMZ3bsrtJZ0

Cristine Tellier
Últimos posts por Cristine Tellier (exibir todos)
Send to Kindle

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *