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I, robot
Isaac Asimov

(resenha publicada originalmente no site Leitor Cabuloso, em 02/01/2013)

Enquanto lia o primeiro capítulo de Eu, robô eu tinha apenas um pensamento: “Por que demorei tanto a ler Asimov? Por quê?”. Junto ao pesar de não ter mergulhado antes na sua obra, antes mesmo de terminar a leitura já o tinha incluído na lista dos meus escritores prediletos. Acho que posso afirmar que desde Duna, de Frank Herbert, não me sentia tão imersa no universo de um livro. Como fã de ficção científica, sempre me senti em falta por nunca ter lido uma obra de Asimov. Li apenas textos esparsos e, logicamente, as três leis fundamentais da robótica apresentadas por ele justamente neste livro. São elas:

  1. Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal.
  2. Um robô deve obedecer as ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei.
  3. Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e a Segunda Leis.

MANUAL DE ROBÓTICA 56ª Edição,
2058 A.D.

Eu-Robô

Sinopse:
Este clássico da ficção científica reúne nove histórias sobre a evolução das máquinas, desde os primitivos homens mecânicos mudos até a máquina que controlaria o mundo e tornaria obsoletos os seres humanos. Apresenta ainda as três leis da robótica – autopreservação dos robôs, obediência deles e superioridade dos humanos.

Conforme indica a sinopse, o livro não é um romance. São nove pequenas estórias que contam a evolução da robótica, unidas por um personagem comum, a “contadora” das estórias: Susan Calvin. Ela, uma solteirona então com 75 anos de idade e considerada uma das grandes especialistas em robopsicologia, é entrevistada pelo repórter de um jornal e cada um dos capítulos do livro é um causo envolvendo robôs. São narrativas praticamente independentes, podendo até ser lidas fora de ordem, já que não há quase qualquer referência a fatos ocorridos nas demais estórias. São elas:
i, robot

  1. Robbie
  2. Brincadeira de Pegar
  3. Razão
  4. Pegar o Coelho
  5. Mentiroso!
  6. Pobre Robô Perdido
  7. Fuga!
  8. Prova
  9. O Conflito Evitável

Erroneamente, eu tinha a impressão de que o estilo de Asimov era mais sisudo, algo similar a Arthur C.Clarke. Mas não. O que torna seu texto envolvente, além das ideias desenvolvidas nele, é o humor sutil que permeia a narrativa. Por várias vezes, certas referências ou citações me arrancaram gargalhadas. Porém, diferente de Douglas Adams, que tem um humor mais nerd – coisas que um “não iniciado” certamente não achará graça – Asimov usa temas mais universais e abrangentes. E esse é um dos maiores atrativos do livro.

E, fazendo uso desse humor e de uma imaginação bastante fértil, Asimov disfarça com elegância o didatismo de que se utiliza para “instruir” o leitor, que sequer percebe que está recebendo aulas de robótica, política, ética e lógica. Apesar do aspecto técnico, o texto está longe de ser chato. A engenhosidade de Asimov reside na sua capacidade de, pela primeira vez, não mostrar os robôs como inimigos, mas como aliados. E cada um dos conflitos apresentados nos contos decorre da interpretação feita das três leis e não porque – como em Terminator – as máquinas evoluíram e se revoltaram contra os humanos.

Isaac Asimov
Isaac Asimov
É difícil comentar mais a respeito do livro sem dar spoilers. Os capítulos de que mais gostei foram:

  • Brincadeira de pegar: em que Asimov exemplifica com perfeição as três leis;
  • Razão: em que somos apresentados a um robô que não acredita ter sido criado por seres humanos;
  • Mentiroso!: em que conhecemos um robô que mente para obedecer à segunda lei.

Desde a primeira estória – em que um robô incapaz de falar é responsável por tomar conta de uma menina – até a última – em que quatro Máquinas auxiliam na administração da Terra, dando instruções sobre o equilíbrio entre produção, consumo e mão de obra – enquanto o autor mostra a evolução da robótica e da utilização dos robôs ele nos apresenta a robôs que contam piadas, que são orgulhosos, que lêem pensamentos. Enfim, uma “fauna” tão ampla quanto a humana.

A linguagem é simples, mas não simplista, e tem o mérito de tornar o texto acessível mesmo aos não-fãs de ficção científica. Para os fãs há a diversão de perceber as influências e referências a Asimov em várias obras posteriores. E, ao finalizar a leitura, posso assegurar – com certo alívio, admito – que o filme homônimo tem pouco ou quase nada a ver com o livro. Exceto pelo título, pelo nome de alguns personagens – Susan Calvin e Alfred Banning -, por referências (muito) superficiais a alguns eventos e, logicamente, pela apresentação das três leis da robótica nada mais no filme remete ao livro. Ou seja, quem ainda não leu o livro por ter achado o filme “bem mais ou menos”, esqueça o filme e embarque na leitura sem receio.

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[compre link=”http://bit.ly/asimov-eu-robo”]

Cristine Tellier
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