»» versão de artigo publicado no Writer’s Digest – “Writing across gender: how I learned to write from a female POV” – escrito por James Ziskin, publicado em 21/11/2013 ««

Eu escrevo como uma garota. Mais precisamente, eu escrevo como se fosse uma garota. Minha novela, Styx & Stone: An Ellie Stone Mystery (N.T.: sem tradução no Brasil), tem um protagonista que é uma mulher. Uma mulher jovem. Uma mulher jovem, bonita, inteligente, criativa.

styx-stoneEllie Stone descreve-se como uma “garota moderna” na Nova York de 1960. Num período anterior ao feminismo, ela age como um homem, mas não se engane: ela é muito mulher. Oriunda de uma família culta, graduada em Barnard (N.T.: universidade americana, exclusiva para mulheres), está decidida a ter uma carreira que não envolva buscar café para um chefe que acaricie seu traseiro quando ela faz um bom trabalho. Ou mesmo quando não faz. Ela é realista, contudo, ciente de que uma mulher só pode ir longe num mundo masculino, então aceita uma posição modesta como repórter iniciante num pequeno jornal. Seu cotidiano inclui encontros das Knights of Columbus Ladies’ Auxiliary (N.T.: grupo de mulheres que apoia e auxilia o Knights of Columbus, um organização de caridade) e jogos de basquete do colégio. Mas Ellie é a mais esperta, tem raciocínio rápido, e faz parte da turma na hora de beber. É bom que ela seja capaz de beber ou esteja preparada para defender sua honra.

Já lemos a respeito de mulheres inteligentes, criativas, bonitas e jovens. Até parecidas com homens e que bebem. Não há nada de novo. Mas Ellie Stone parece ter irritado alguns leitores, e não por que ela bebe e ocasionalmente acaba na cama com algum homem. Pelo contrário, é o seu sexo que perturba os leitores. Ou talvez, o sexo de seu autor é que perturbe.

Escritores enchem suas estórias com todo tipo de personagens: homens, mulheres, crianças, vampiros, animais, extraterrestres. Uma mistura de gêneros (e espécies) geralmente é necessária, a menos que você esteja escrevendo sobre um colégio ou uma prisão só de mulheres. A maioria das novelas tem representantes de ambos os sexos, e os leitores geralmente não reclamam quando um escritora inclui personagens masculinos em sua estória, ou quando um escritor espalha personagens femininos na sua. Os resmungos começam quando o escritor e o narrador são de gêneros diferentes.

“Com certeza, leve para passear no seu carro, mas ‘pelamordedeus’ não deixe que ela dirija!”

James Ziskin
James Ziskin
Enquanto que, geralmente, é aceitável que escritores de qualquer sexo incluam personagens do gênero oposto em suas estórias, a ideia de que um sexo não pode conhecer o íntimo do outro o suficiente para narrar uma estória é totalmente arbitrária. Também é engraçada, já que não tem qualquer embasamento científico. Defensores dessa crença certamente devem ver que tal lógica pode sair pela culatra e corre o risco de validar os estereótipos mais ignorantes e preconceituosos relativos ao gênero e suas habilidades. Mulheres não são boas em matemática, não podem dirigir, são sensíveis… Homens são brutos, não ouvem, não perguntam o caminho…

Tudo isso não quer dizer que eu criei uma narradora boa e verossímil. Isso cabe aos outros julgar. Mas o julgamente não deve se pautar pelo meu gênero, assim como as habilidades matemáticas de uma garota, boas ou ruins, não devem ser definidas pelo seu gênero. A discussão deve ser sobre a escrita. Claro que eu espero que Ellie Stone se torne algo mais que apenas um homem com seios (pense numa escultura feminina de Michelangelo). Ellie tem o que se costuma chamar de traços e comportamentos femininos, assim como alguns masculinos, por exemplo, sua atitude liberal no que se refere a bebidas e sexo. (Afinal, é sabido que mulheres não bebem nem gostam de sexo.)

Seres humanos “vêm” em muitas variedades, em todas as formas e tamanhos, com formas diferentes de pensar e agir. Mulheres não são um monolito; não existe apenas um modelo. Assim como homens, elas abragem um leque de personalidades, pecadilhos e temperamentos. Já conheci mulheres duronas e homens sensíveis. E já conheci todas as nuances entre esses extremos, onde, em algum ponto do gradiente, acredito que esteja Ellie Stone.

Como aprendi a escrever de um ponto de vista feminino

Cristine Tellier
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