O estranho caso do cachorro morto
Mark Haddon

“Criado entre professores especializados e pais que definitivamente não sabem lidar com suas necessidades especiais, Christopher Boone tem 15 anos e sofre do mal de Asperger’s, uma forma de autismo. Adora listas, padrões e verdades absolutas. Odeia amarelo e marrom e, acima de tudo, odeia ser tocado por alguém. Christopher nunca foi muito além de seu próprio mundo, não consegue mentir nem entende metáforas ou piadas. É também incapaz de interpretar a mais simples expressão facial de qualquer pessoa. O próprio personagem define seu cérebro como um computador com grande memória fotográfica e capaz de resolver complicadas equações matemáticas mas com nenhuma habilidade para lidar com emoções ou pessoas. Um dia, Christopher encontra o cachorro da vizinha morto no jardim, é acusado do assassinato e preso. Depois de uma noite na cadeia, decide descobrir quem matou Wellington, o cachorro, e escreve um livro, relatando suas investigações. O resultado é O estranho caso do cachorro morto, e Christopher acaba descobrindo muito mais do que procurava.”
(fonte: livrariacultura.com.br)

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Comecei a ler o livro sem ter lido a sinopse. Achava, erroneamente, que se tratava de um livro de mistério, nos moldes de Agatha Christie ou Georges Simenon. Ledo engano. Fui surpreendida (positivamente) ao perceber que não era bem isso. Há sim, um mistério a ser desvendado – quem matou Wellington? – mas este certamente não é o foco da narrativa.

A história é narrada em primeira pessoa por Christopher. Após a morte de Wellington, o cachorro, ele é incentivado por uma professora a escrever o livro para registrar suas investigações. E o produto final é, no mínimo, curioso. Sua paixão por padrões, sua compreensão “ao pé da letra” de tudo, sua falta de aptidão social e de empatia resultam em um narrador sui generis. E acompanhar a trama sob seu ponto de vista é, ao mesmo tempo, intrigante e prazeroso. A forma pragmática como ele enxerga o mundo e o interpreta, além da consciência do que o faz diferente dos demais garantem ótimos momentos de reflexão e auto-análise ao leitor.

“Porque amar alguém é ajudá-lo quando ele está com problemas, tomar conta dele, falar sempre a verdade, e o Pai toma conta de mim quando estou com problemas, como quando foi atrás de mim, no distrito policial, cozinha para mim e sempre me diz a verdade, o que significa que ele me ama.”
(pag.20)

“Acho que números primos são como a vida. Eles são muito lógicos, mas a gente nunca descobre quais são as regras, mesmo se passar o tempo todo pensando nelas.”
(pag.23)

Os demais personagens do livro – o pai, a mãe, os vizinhos, a professora – não são muito explorados. O que faz todo o sentido pois, além de o leitor estar acompanhando a trama através dos olhos de Christopher – o que não nos dá acesso ao que acontece aos demais -, o narrador, por sua condição, dá mais atenção aos fatos do que às pessoas. Talvez isso incomode alguns leitores, mas não atrapalha a leitura. E não deveria, já que é intrínseco à construção da narrativa.

Outras características interessantes da narrativa têm a ver com a paixão de Christopher por matemática – seja pelo assunto em si, seja por sua precisão ao representar a realidade. Os capítulos são numerados com números primos, o que Christopher explica logo no início. Além disso, há uma série de gráficos e mapas que o narrador utiliza para contar sua história. E, para completar, há um apêndice com uma questão de matemática retirada de um exame que o protagonista realiza.

Leitura bastante instigante, que leva o leitor por alguns momentos a encarar o mundo sob outra perpectiva. O que, por si só, faz da obra algo que realmente vale a pena.

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Cristine Tellier
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