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« resenha publicada originalmente no Vortex Cultural, em 14/03/2018 »

Endgame – O chamado
James Frey & Nils Johnson-Shelton

Primeiro livro de uma trilogia, foi publicado em outubro de 2014 pela HarperCollins e é parte de um projeto mais amplo que inclui games, mídias sociais e novelas. O livro contém vários enigmas e, no lançamento, os autores anunciaram que aquele que os completasse primeiro ganharia um baú, localizado em Las Vegas, contendo US$ 500 mil em ouro. O único requisito para participar é ter conta no Google e concordar com as regras de privacidade.

O livro é uma mistura de Battle Royale (ou Hunger Games, para a molecada mais jovem) e Player n.1. De Battle Royale pegou a ideia – atualmente super disseminada – de jovens se enfrentando até restar apenas um. De Player n.1, a busca pelas três chaves, que são encontradas resolvendo-se enigmas dos mais variados tipos. A história se passa em um mundo alternativo, onde 12 civilizações antigas estão à espera do “Endgame”, cada uma delas preparando um guerreiro com menos de 20 anos, que irá fazer parte do jogo. Quando o jogo começa, esses jovens devem encontrar três chaves. O vencedor garantirá a sobrevivência de seus descendentes.

Contudo, diferente dos livros referenciados, tanto a escrita quanto a narrativa deixam a desejar. Um dos muitos conselhos dados a escritores é evitar períodos muito longos, certo? Os autores levaram essa dica ao pé da letra demais. As frases, em boa parte do texto, são excessivamente curtas, quase telegráficas. Muitas páginas parecem ser uma sucessão de haikais – infelizmente pouco criativos. E o ritmo impresso por essas frases “taquicárdicas” deixa a leitura cansativa e, por vezes, aborrecida. Para piorar, mesmo quando o leitor consegue ficar absorvido na narrativa, há erros de revisão que prejudicam a fluidez da leitura e o removem da imersão no universo da história.

Há partes que fariam um bom preparador de texto querer cortar os pulsos:

“Marcus está sem camisa e com um short de ginástica preto e largo. As 24 costelas ficam aparentes sob a pele bronzeada. Seus braços são fortes e definidos. A respiração, tranquila. O abdome é chapado, o cabelo é preto, rente, e os olhos são verdes. Uma gota de suor escorre pela ponta de seu nariz. Istambul inteira está fervenda essa noite, e com Marcus não é diferente.”
(p.11)

Sem considerar a descrição estilo aluno de 1º grau, o parágrafo deixa a desejar. Ou o rapaz é forte ou é possível ver-lhe as costelas. E, mesmo se ele fosse raquítico, por razões anatômicas seria impossível ver as 24. E este á apenas um dos exemplos de trechos que fazem qualquer leitor mais atento parar e ficar pensando que “há algo errado que não está certo”. Mais um fator para tirá-lo da imersão.

O livro é narrado em terceira pessoa, mas os autores não conseguem se decidir entre um narrador onisciente objetivo e um narrador múltiplo. Há momentos em que apenas registra os eventos; em outros, sabe dos sentimentos dos personagens. Mas não há um padrão, é algo totalmente aleatório. Não sei como foi o processo de escrita de Frey e Johnson-Shelton, mas tem-se a impressão que cada um optou por uma forma e não houve preocupação em tornar essas alternância mais “orgânica” – para usar uma palavra da modinha.

A história pouco se desenvolve ao longo das 500 e poucas páginas do livro. O final do livro se aproxima e o leitor pensa “Ah, agora vai começar a desenrolar!”. Ledo engano. Sempre mais do mesmo. A sequência de conflitos que atrapalham o avanço dos personagens é bastante previsível. Lógico, toda trama se baseia numa sucessão de conflito-resolução. Mas, neste caso, o ritmo é constante. Não há um clímax que deixe o leitor na ponta da poltrona ou um plot twist que o surpreenda a ponto de xingar os autores.

Curiosa em alguns trechos, fatigante em outros, a leitura avança aos trancos e barrancos até um desfecho pouco surpreendente. A premissa de ser multimídia é muito interessante. Principalmente a ideia de complementar o livro com links e pistas para a resolução do enigma. Mas calcar-se nisso, acreditando que basta implementar um conceito diferenciado, não garante a qualidade do livro.


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Cristine Tellier
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