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O diário de Bridget Jones
Helen Fielding

Acredito ser necessário avisar que conheci o filme antes de saber do livro. Quem me conhece, sabe que não é meu gênero de filme e, certamente por isso, nunca o assisti inteiro. Apenas entrevi algumas cenas ao zapear pelos canais da tv a cabo. E o que vi, não me interessou o bastante para me deixar com vontade de ver tudo. Apesar de apreciar o humor inglês de algumas comédias leves – a exemplo de Four weddings and a funeral ou do natalino Love actually – este simplesmente não me conquistou, mesmo sabendo que era do mesmo roteirista, Richard Curtis. Resolvi dar uma chance ao livro quando a Companhia das Letras lançou esta edição comemorativa dos vinte anos de publicação do primeiro livro. E agora, posso afirmar com conhecimento de causa que, como sempre, o livro é muito superior ao filme.

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Bridget Jones é uma mulher na faixa dos 30 anos, solteira, que quer parar de fumar e beber, encontrar um namorado e emagrecer. Entre suas resoluções de Ano Novo está a escrita de um diário. Em cada registro, revela suas fraquezas e as poucas qualidades que percebe em si mesma, descrevendo com uma boa dose de humor situações do cotidiano de mulheres na mesma faixa etária. Cada capítulo se inicia com um breve resumo do dia anterior medido em calorias, cigarros, unidades alcoólicas consumidas e seu peso.

“DOMINGO, 26 DE FEVEREIRO
57 kg. 5 unidades alcoólicas (afogando as mágoas). 25 cigarros (fumando as mágoas). 3856 calorias (cobrindo as mágoas com uma camada de gordura).”
(p.62(

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Renee Zellweger
Mesmo parecendo um pouco datado pela presença de gadgets comuns nos anos 90 – videocassete (que Bridget promete aprender a programar), secretária eletrônica – e pela ausência de celulares, a temática continua bastante atual. As neuras e dificuldades da personagem continuam atuais. Não que toda mulher na faixa dos 30 seja igual à personagem – afinal, já afirmava Alexandre Dumas Filho que “toda generalização é perigosa, inclusive esta”. Mas dificilmente o leitor não irá se identificar com alguma emoção, frustração, problema, pensamento aleatório ou situação vivida por Bridget. E é isso que conquista o leitor: a empatia.

“Minha mãe passou a ter uma energia que eu nunca tinha visto antes.
(…)
Logo depois, morta de curiosidade, fui ver o que ela estava fazendo. Sentada na frente do espelho, usava uma lingerie supercara cor de chocolate e passava rímel nos longos cílios com a boca aberta (um dos grandes mistérios da natureza é a necessidade de abrir a boca para passar rímel).”
(p.65)

Mark Darcy
Colin Firth
Talvez eu esteja redondamente enganada em minha suposição, mas a obra parece ser uma tentativa (bem sucedida) de imaginar como seria uma heroína de Jane Austen nos anos 90. A autora segue a trama básica de Orgulho e preconceito: moça solteira, sem muitos atrativos, mas não totalmente desprovida de valor, enfrentando os “perrengues” de ser uma mulher na sociedade da sua época enquanto se vê oscilando entre dois homens – o homem certo e o homem errado. Ok, Bridget é bem menos “classuda” que Lizzie Bennet, mas ainda assim minha ideia se sustenta. A maior pista de que essa tenha sido a intenção da autora é que o mocinho na história de Bridget também é um Mr.Darcy – vale reparar que a própria Bridget comenta sobre adaptações de obras literárias a que ela costuma assistir na BBC (e que não passam nas noites de sábado, como ela bem sabe). E, no filme, a referência é ainda mais redundante, já que o ator que interpreta Mr.Darcy, Colin Firth, é o mesmo Mr.Darcy da adaptação mais conhecida de Orgulho e preconceito, produzida pela BBC.

“Para mim, é um horror. Significa que, hoje, as pessoas só tomam conhecimento dos grandes autores de literatura, como Austen, Eliot, Dickens, Shakespeare e outros, pela televisão.”
“Concordo, é um absurdo. Um crime.”
“Com certeza. Eles acham que o que veem enquanto trocam de canal, no intervalo entre Noel’s House Party e Blind Date, é Austen ou Eliot.”
Blind Date é aos sábados”, informei.
“Como?”, Perpetua não tinha me entendido.
Blind Date é às sete e quinze de sábado, depois de Gladiators.”
“E daí?”, perguntou Perpetua com um ar superior, olhando de soslaio para Arabella e Piggy.
“As adaptações de obras literárias não costumam passar nas noites de sábado.”
“Ah, olha ali o Mark”, interrompeu Piggy.
“É mesmo”, disse Arabella. agitada. “Ele se separou da mulher, não?”
“O que eu quis dizer é que não tem nada tão bom quanto Blind Date em outro canal na mesma hora dos clássicos, então acho que ninguém fica zapeando nesse horário.”
p.96

A linguagem é coloquial, bem solta, afinal é um diário – quem escreve não está, a priori, preocupado com formalismo gramatical e floreios estilísticos. E também, por esse motivo, os demais personagens são pouco detalhados. Não é que estejam mal construídos, apenas descritos superfialmente. E, quanto menos importantes na vida de Bridget, menos vezes aparecem em seu diário e, portanto, menos o leitor fica sabendo sobre eles.

Pena que o filme dê mais foco ao romance que às demais facetas de Bridget. Como um chic-lit, cumpre muito bem seu papel de entreter e divertir, garantindo uma leitura rápida e totalmente descompromissada.

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Helen Fielding Signs Copies Of The New Bridget Jones Book
Helen Fielding (Photo by Peter Macdiarmid/Getty Images)
Cristine Tellier
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