O primeiro volume da Magnum Opus de Isaac Asimov estava na minha estante há mais de um ano. Olhava-me de lá, mas não havia me seduzido ainda. Tinha a noção de que Fundação é composto de três livros principais, mais dois livros estendidos após a trilogia original e mais três lançados como préquel. A quantidade de volumes me intimidava. Além disso, não tinha lido nada ou ouvido falar sobre o conteúdo da obra. Então sua temática era completamente desconhecida para mim. Sabia apenas que era um clássico e que me olhava do topo da estante.

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Assim, num dos vácuos que leitores inveterados enfrentam, estiquei fortuitamente o braço e tomei-o em mãos. Abri-o e dei inicio a uma vertiginosa leitura que simplesmente não consegui parar. Apaixonei-me e, de imediato, virei fã. A obra aborda assuntos pelos quais sou apaixonado: ciência e religião. Não aquela religião dogmática, cheia de rituais e normas tão impossíveis quanto ilógicas, mas sim a religião como força política e como grande eixo histórico da humanidade.

A narrativa se passa num futuro absurdamente distante, onde a humanidade já colonizou planetas pela galáxia e, ao se espalhar tanto, começara a perder o contato uns com os outros, desenvolvendo-se quase como espécies diferentes. A diferença se torna tão abismal que, enquanto alguns planetas são cumes de tecnologia avançada, outros passam por um processo de involução, regredindo sua tecnologia e organização política a regimes quase medievais. No epicentro do controle dos planetas há um decrépito e corrupto império galáctico, lutando para manter seu controle no território imensurável da galáxia e contra as insurreições de revoltas e revoluções que surgem cada dia mais.

A história inicia-se quando um cientista prevê, através de uma metodologia chamada psico-história – que se trata da previsão do futuro através de cálculos estatísticos e matemáticos – que o império sucumbirá e a galáxia entrará numa era de trevas. Como isto é, com base nos cálculos do personagem, inevitável, ele propõe que, para salvar todo o conhecimento da humanidade, crie-se uma enciclopédia galáctica. Dando origem a um imenso centro de estudos chamado Fundação. Deter conhecimento, porém, tem seu preço e desperta a cobiça de diferentes povos, infestando o livro de intrigas políticas e batalhas interplanetárias.

Encontrou algumas semelhanças com outras histórias? Pois bem, a obra serviu de inspiração para inúmeras outras, como O Guia do Mochileiro das Galáxias, de Douglas Adams, muitos filmes, desenhos animados (He-Man, Thundercats, Silverhawks), quadrinhos e etc. Mas a mais impressionante e famosa das histórias derivadas de Fundação é, sem dúvida a saga Star Wars, de George Lucas. A estrutura interplanetária, a política, as batalhas e alguns nomes utilizados nos filmes são livremente inspirados em Fundação. A nave de Han Solo, Millenium Falcon, é citada mais de uma vez como sendo mais rápido que um cruzador koreliano que, no livro, remete ao planeta Korell, que, por sua vez, era famoso por seus cruzadores. Fiquei refletindo, inclusive, sobre a frase que sempre aparece no início dos filmes: há muito muito tempo, numa galáxia muito distante… Parece que George Lucas quis fazer uma “pegadinha”, por ter sido “há muito, muito tempo” num “futuro distante” e a galáxia é, na verdade, a nossa belíssima Via Láctea.

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By NASA on The Commons (A Grazing Encounter Between Two Spiral Galaxies) [No restrictions], via Wikimedia Commons

Essa descoberta foi fascinante. Não apenas porque sou também um fã dos filmes, mas porque a obra é impressionantemente realista. Tirando um ou outro fator que em 1951 teria sido impossível Asimov prever, as previsões do autor são assustadoramente verossímeis. Observa-se uma incrível análise da psique humana e da repetitiva e pouco mutável organização política – e corrupta – que desenvolvemos em toda nossa história. Ao mesmo tempo que o autor nos impressiona com sua visão factível do futuro, ele nos mostra que, ao longo de nossa história, nós mudamos muito pouco e, mesmo milênios a frente, ainda estaremos presos a certos ciclos viciosos como a ambição mesquinha, a sede de poder e a luta (sempre suja) para alcançá-lo.

Fundação está disposta em formato de Novela. Cada capítulo é quase que independente, como se fosse um conto que apenas faz referência ao capítulo anterior. O tempo cronológico da história é quase um personagem a parte, pois ele carrega a narrativa adiante, encerrando cada capítulo em si. Pelo pouco que pesquisei sobre Asimov, parece-me que ele gostava muito do forma de conto e, por isso, esta organização é totalmente compreensível. É um recurso interessante, visto que não prende o leitor numa trama muito densa, deixando a leitura absolutamente dinâmica e, mesmo assim, não escapa do arco maior.

Asimov demonstrou-se tanto um conhecedor de ciência quanto um brilhante novelista, pois sua trama é muito bem estruturada. Utiliza os recursos narrativos de forma muito eficaz, brincando com a tensão e com passagens de pistas e recompensas de maneira muito concisa, fazendo tudo encaixar-se perfeitamente, ampliando a diversão do leitor e mantendo um ritmo de leitura em constante dinamismo.

Recentemente, li na internet que o canal HBO lançará um série baseada na obra. Já não era sem tempo. Se seguirem o mesmo formato dado à série Guerra dos Tronos, não desvirtuando a história da obra, será, sem dúvidas, mais um sucesso de audiência (e diferente desta segunda, ninguém precisará esperar o autor terminar os livros).

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