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Suicidas
Raphael Montes

Um porão, nove jovens e uma Magnum 608. O que poderia ter levado universitários da elite carioca – aparentemente sem problemas – a participar de uma roleta-russa? Um ano depois do trágico evento, que terminou de forma violenta e bizarramente misteriosa, uma nova pista, até então mantida em segredo pela polícia, ilumina o nebuloso caso. Sob o comando da delegada Diana Guimarães, as mães desses jovens são reunidas para tentar entender o que realmente aconteceu, e os motivos que levaram seus filhos a cometerem suicídio. Por meio da leitura das anotações feitas por um dos suicidas durante o fatídico episódio, as mães são submersas no turbilhão de momentos que culminaram na morte de seus filhos. A reunião se dá em clima de tensão absoluta, verdades são ditas sem a falsa piedade das máscaras sociais e, sorrateiramente, algo maior começa a se revelar.
fonte: www.benvira.com.br

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Há tempos esta resenha está em modo rascunho. E sempre, por um motivo ou outro, acabava ficando para depois. Desde que comecei a escrevê-la, Raphael Montes já publicou mais um livro – Dias Perfeitos, de que eu talvez fale em algum outro post -, já vendeu direitos de seus dois livros para ‘virarem’ filmes, já lançou seus livros em diversas outras praças e países. E, além disso, comprovando seu pendor para a escrita policial, Dias Perfeitos recebeu chancela de um dos maiores autores policiais da atualidade, Scott Turow. Talvez por isso, e por inúmeros outros sites e blogs já terem falado a respeito, eu fui procrastinando a escrita da resenha.

Ler e resenhar um YA policial – Jack, estripador em Nova York – reavivou a vontade de escrever sobre outro thriller que me fez algumas vezes perder a hora de ir dormir. Leitores inveterados sabem o quanto isso é agradável e o quanto é um indício forte de que a leitura vale muito a pena.

Utilizando-se de um artifício que George R.R. Martin usa e abusa nas Crônicas de gelo e fogo, o livro tem três linhas narrativas que se alternam. Uma delas não é exatamente uma linha narrativa, são as anotações feitas por um dos personagens, Alessandro, em primeira pessoa, como em um diário. Outra acompanha a turma de jovens nos dias que antecederam ao atráfico evento. E a terceira, um ano depois, acompanha as mães dos jovens durante a leituras das anotações de Alessandro. É um recurso que, bem utilizado, causa o suspense necessário para incutir no leitor uma necessidade premente de continuar a leitura.

Há que se relevar o fato de que a obra é o primeiro livro publicado pelo autor. E, sendo assim, há alguns detalhes que poderiam ter sido melhor trabalhados. Não chegam a prejudicar a leitura, nem a apreciação da obra, mas incomodam em alguns momentos. Um deles é a narrativa de Alessandro. Enquanto atem-se ao formato de diário, discorrendo sobre seu cotidiano na escola e com os amigos, está ok. O problema está quando passa a ser a transcrição dos acontecimentos em tempo real. Convenhamos, não faz muito sentido que em momentos de tensão extrema, como os vividos no porão da Cyrille’s House, alguém continue relatando calmamente por escrito o que está ocorrendo. Talvez funcionasse melhor se fosse uma gravação, em vez de anotações.

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Raphael Montes
(foto: diariodigital.sapo.pt/)
Outro problema talvez não fique tão perceptível, caso o leitor não seja um “habitué” de romances policiais. O desfecho talvez se apresente como surpreendente para a maioria dos leitores. Mas para os veteranos, a surpresa nem é tão grande assim. Possivelmente, faltando um terço ou mais para o final do livro, mata-se a charada. A exemplo de muitos livros famosos de mistério, o ocorrido é um típico exemplo do “mistério do quarto fechado”, um clássico howdunit (leia mais aqui). É um recurso tão recorrente na literatura policial que chegou a ser objeto de estudo, gerando um livro sobre o assunto – Locked Room Murders, de Robert Adey. Nele, Adey lista 20 formas possíveis de cometer um crime de quarto fechado. E, leitores inveterados, mesmo não tendo parado para listá-las, certamente conseguem identificar a solução rapidamente. Apesar de o final conseguir desviar do clichê total, é isso que acontece em Suicidas.

Montes é bastante habilidoso com as palavras e na construção de personagens. Se, no início, os nove jovens parecem variações sobre o mesmo tema, com linguajar e atitudes similares, vão se diferenciando à medida que a trama avança. Eventualmente, ocorre algum deslize, mas no geral, são todos bem estruturados e se desenvolvem bem no decorrer da narrativa. Incomoda um pouco a forma superficial com que os personagens secundários são abordados, quase como estereótipos. Mas não chega a atrapalhar a fluidez da leitura. A narrativa em primeira pessoa revela-se uma boa escolha, já que a intenção não é revelar todos os fatos ao leitores e deixá-lo tão às escuras quanto os demais personagens.

Sendo sua obra de estreia, há muito a se elogiar. E, quem já leu seu segundo livro, percebe nitidamente a evolução da escrita e da concisão da narrativa. Mesmo tendo detestado o final de Dias perfeitos, é inegável o progresso do autor. E que venham outros! O mote do próximo é bem promissor, veja na entrevista que o autor deu ao Jô.

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Cristine Tellier
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