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2001, uma odisseia no espaço
Arthur C. Clarke

Já comentei por aqui que gosto de literatura fantástica, desde que o livro mantenha uma perna dentro da realidade. Criar um mundo encantado ou inventar criaturas mágicas/místicas não é um salvo conduto para absurdos. Na literatura tudo é válido, mas é preciso levar o leitor com maestria até o seu mundo. Bem como setar regras coerentes que não ofendam a inteligência de quem lê.

O mesmo vale para ficção científica. Mesmo que o autor suponha falar do futuro e de toda a utopia (ou distopia) com a qual ele possa se parecer, tudo soará falso se as leis da física e da natureza não forem respeitadas.

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O livro 2001, Uma odisseia no espaço de Arthur C. Clarke, é um magnífico exemplo de livro que respeita as leis da realidade e, indo além, prediz o futuro, imaginando itens que vieram a existir de verdade. É aquele tipo de clássico que revoluciona e vira referência, e que dá origem a uma corrente de outras obras. Há até uma novela global em que existe um computador igualzinho ao HAL do filme, ambos baseados neste livro.

Aliás, falando no filme, decidi ler o livro justamente porque assisti novamente ao filme e, mesmo sendo muito bom, tinha um final… Vamos dizer… Esquisito. Busquei o livro então como uma forma de tentar entender o que Kubrick queria dizer e logo nas primeiras páginas me apaixonei.

A narrativa é dividida em três tomos (igual ao filme). Cada qual com seu núcleo de conflito próprio, mas ligados entre si pela premissa do monolito encontrado. A narração é em terceira pessoa, mas tende a ser indireta livre e não ao estilo demiúrgica. Cada tomo mantém o ponto de vista restrito ao do personagem em foco.

O autor demonstra alguns lampejos poéticos, mas o seu estilo pesa mais para o sóbrio, conferindo à obra um tom de seriedade que corrobora diretamente para manter a verossimilhança. Se ele tendesse demais ao lirismo, a ficção científica descambaria para a fantasia.

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Arthur C. Clarke e Stanley Kubrick no set (foto: http://hollywoodandallthat.com/)

Ele é tão meticuloso em montar sua previsão de futuro que peca um pouco pelo excesso de descrições. Suas explicações de como máquinas e dispositivos futuristas funcionam devem ter impressionado muito no tempo em que o livro foi escrito. Hoje em dia, o que impressiona é menos o dispositivo em si do que a forma muito assertiva com que ele deduz tecnologias que realmente vieram a existir. O que mostra um trabalho meticuloso de pesquisa e uma inteligência e imaginação muito acima da média.

No posfácio, o autor comenta um pouco sobre seu processo de criação e sua relação com Kubrick e Carl Sagan. Com essa dupla de amigos influenciando-o, era de se prever que o texto se tornaria uma obra prima.

Para os amantes da ciência, como eu, este livro abre uma janela por onde saltamos de braços abertos, flutuando num mar de divagações e imaginações. Entrou para meus top 10.

Ganha um merecido café vienense.
[rating=5]

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6 Replies to “2001, uma odisseia no espaço”

  1. E no final das contas, ajudou a entender o final do filme? Pergunto porque detestei o filme, mesmo sendo super fã ficção científica e de Arthur C. Clarke (embora não tenha esse livro). Achei o filme extremamente pedante.

    1. Olá, Daniel!

      Sim! A narrativa é muito melhor estruturada do que no filme. Entra em detalhes que lá foram deixados muito  subjetivos no filme. Sobretudo em relação ao final. Completamente diferente.
      Vale a pena a lida.

      Abração.
      D.

  2. Arthur C. Clarke era declaradamente adepto do ateísmo, mas no conto: 2001 – Uma Odisseia no Espaço, demostra que o anseio por um ser pleno, que está além das capacidades humanas, vindo nos trazer sentido a nossa existência, está sediado em nossa essência de maneira sobrenatural, podendo, no máximo, ser sufocado, mas nunca removido. Ao término do conto, Bowman, único sobrevivente da nave nave espacial Discovery One, é deliberadamente lançado a uma dimensão além Júpiter e chega a um enigmático quarto. O tempo vai se encarregar de livrar-se da carcaça humana: o corpo. No auge da senilidade, a vida de Bowman não se esvai, em vez disso o monólito – “deus ou um anjo de deus” – aparece mais uma vez para que o humano dê seu próximo passo evolutivo e o torne-se a criança-estrela, apresentada na forma de um embrião espacial, passando assim, a ter seu verdadeiro sentido existencial, exatamente como aqueles que creem no Deus da Bíblia esperam no pós morte. ?

    1. Magno,

      Antes de mais nada, obrigado. Fico realmente honrado pela visita e por compartilhar conosco sua interpretação do filme. Seu ponto de vista é uma prova cabal da subjetividade da arte. Ou seja: cada qual vê os sentimentos expressos através da sua própria psique.

      Abraço.
      D.

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