eric novello

Depois de ler a resenha de Exorcismos, amores e uma dose de blues, que tal conhecer um pouco mais sobre o autor? Eric Novello topou responder a algumas perguntas e matar nossa curiosidade sobre algumas coisas.

eric novello
(foto: http://ericnovello.com.br/)
Eric Novello já trabalhou em bancadas de laboratórios, drogarias e instalações industriais. Estreou na literatura em 2004 com um romance ambientado na Roma de Júlio Cesar, e publicou projetos diversos desde então.

Multitarefas, é tradutor técnico e literário. Presta serviços ocasionais de leitura crítica e copidesque, tendo trabalhado com vários autores da nova geração.
(saiba mais no blog do autor)


Cafeína: Como vc “se descobriu” escritor?

Eric Novello: Mesmo comemorando 10 anos do lançamento do meu primeiro livro agora em 2014, ainda estou no processo de me descobrir como escritor. Só de 2010 para cá entendi o que de fato queria da minha literatura, qual seria o meu projeto como autor e os terrenos criativos que pretendia explorar. Mas se formos pensar no primeiro impulso, no momento em que a pulga começou a morder a orelha, diria que me descobri escritor por conta da insatisfação. Comecei a implicar com o final de todos os livros que lia, com as resoluções dos filmes que via, e acabei entendendo que, na verdade, tudo não passava de vontade de interferir naquelas histórias. O bom e velho “em vez de reclamar, vá lá e faça”.
O passo seguinte foi ver se eu realmente teria disciplina para isso.


Cafeína: Há dez anos, ao publicar seu primeiro livro, como você se imaginava no futuro? Ou ainda, passava pela sua cabeça a possibilidade de, dez anos depois, ter uma experiência tão graticante quanto a de estar numa bienal lançando um livro e recebendo o carinho dos fãs?

Eric Novello: Dez anos atrás tudo que eu queria era descobrir se seria capaz de começar e terminar um livro. Eu realmente não sabia que escrever um romance era tão complicado, não tinha as ferramentas que tenho hoje como autor, não tinha a estrutura de uma grande editora por trás, e o mercado era completamente diferente, engessado, diria até que avesso à literatura de gênero. Então ficava difícil prever tudo isso que vem acontecendo. E nem falo de bola de cristal ou projetos utópicos adolescentes. Me refiro a previsões embasadas, porque é claro que sempre queremos o melhor para nós mesmos.

Agora, conforme os anos foram passando, ficou mais fácil enxergar as placas de sinalização gritando “seja persistente e siga por aqui!”, todas apontando para o mesmo caminho. Meu compromisso com a literatura e com o processo criativo é muito grande. É onde eu me encontro como pessoa e como profissional. Não existe Eric sem isso. Então foi só investir no que importa de verdade, que é escrever, e confiar que o restante chegaria.

A experiência da Bienal foi fantástica e, como todo ponto de chegada, tenho certeza que se transformará em um novo ponto de partida para as próximas conquistas.


Cafeína: De onde veio a ideia para Exorcismos, amores e uma dose de blues?

Eric Novello: “Exorcismos” foi uma convergência de múltiplas influências e acontecimentos.

Sempre gostei da possibilidade de trazer elementos de fantasia para a vida contemporânea. Tirá-la dos reinos mágicos e jogá-la no meio da cidade, mesclada a problemas comuns como ntolerância, violência, desemprego. Ficava me perguntando quais seriam as consequências para o mercado de trabalho se um lobisomem pudesse se assumir como tal. Afinal, o cara seria mais forte do que eu, mais ágil do que eu. Em uma guerra, daria um soldado diferente. Como ladrão ou policial, teria suas vantagens sobre uma pessoa comum. Então criei, ainda muito novo, um começo de história passado no Rio de Janeiro que brincava com essa ambientação. Um texto descompromissado que nunca foi pra frente. Anos depois, descobri que esse era um filão bem explorado da fantasia, com vários autores de sucesso lá fora, passei a ler 90% deles, e me tornei um leitor feliz. Para quem havia passado a adolescência lendo Hellblazer e Sandman, encontrar livros aparentados foi como descobrir um novo sabor favorito de sorvete.

Essa história ficou ecoando na minha cabeça e acabou gerando novos personagens. Criei 70 páginas com eles, mas percebi que a história que eu queria contar começava um pouco antes. Pra ser sincero, muito antes! E resolvi ir atrás dela.

Enquanto fazia essa seleção de ideias, comecei a pensar em um título. Eu estava numa crise de “que droga, não sei como chamar o próximo livro, preciso de um título legal” E acabei criando esse nome “Exorcismos, Amores e Uma Dose de Blues”. O passo seguinte foi descobrir o que eu queria desses elementos e se eles cabiam na história que eu estava buscando.

Pesquisar canções clássicas e contemporâneas de blues foi uma inspiração e tanto, não preciso nem dizer, e ajudaram a compor o protagonista do livro, que é o Tiago Boanerges.

Para fechar o ciclo, só faltava fazer uma detox de todos os livros similares que havia lido nos últimos anos. Me afastar de tudo que pudesse me colocar no caminho mais fácil, que pudesse me aproximar do pastiche que a fantasia urbana se tornou. Criar um universo de fantasia com ambientação contemporânea que carregasse 100% da minha identidade como autor levou perto de 5 anos. Pelos primeiros comentários, acho que valeu a pena.


Cafeína: Além do blues, presente por todo o livro, que outras inspirações te “alimentaram” durante a escrita?

Eric Novello: Se formos nos ater ao período de escrita, teve um desafio autoimposto que foi buscar inspiração em imagens. Pesquisar
fotos, arte, cenas estáticas de filmes, ilustrações, e extrair algo dali. Foi difícil para caramba, porque a relação imagem-palavra é mais complexa do que parece. A descrição de uma fotografia nunca é tão boa quanto a fotografia em si. E o mesmo acontece no sentido inverso, se mudarmos a referência de origem.

Essa fruição que eu já conseguia com a literatura, com a música e com o cinema, inexistia na minha relação com as imagens e eu quis quebrar isso enquanto escrevia Exorcismos, Amores e Uma Dose de Blues, o que me levou a criar um tumblr: http://ericnovello.tumblr.com/

O resultado disso só entenderei com o tempo.

eric novello - tumblr


Cafeína: A capa do livro foi uma referência proposital ao Neon Azul ou apenas uma feliz coincidência?

Eric Novello: Foi uma feliz coincidência! Por incrível que pareça, o capista teve a ideia sem conhecer meus trabalhos anteriores.
Cheguei a mandar algumas sugestões para a capa, mas em nenhum momento falei de emularmos o neon dos letreiros.
O que tem ali são diversas brincadeiras com o conteúdo do livro. Easter eggs para o leitor.


Cafeína: Qual sua rotina de escritor? Tem algum “ritual” ou mania?

Eric Novello: Ainda estou na fase de ressaca pós término do livro e Bienal. Por isso a rotina anda inexistente. Mas tudo que eu preciso é saber que terei paz para
escrever durante um período longo, entre 4 e 5 horas. Nisso concordo com o George RR Martin. Não sou muito de aproveitar espaços pingados. Intervalos de meia hora não servem para o modo labiríntico como a minha cabeça funciona. Prefiro escrever uma vez por semana por um tempo longo do que escrever todo dia. Isso vale inclusive para a revisão.

Tem autor que escreve em caderno, no ônibus, no caminho para a casa. Eu não consigo. Não posso ter telefone tocando, gente me chamando, barulho de aspirador de pó. O único liberado para atrapalhar minha concentração aqui no escritório é o Odin, meu maine coon.

Sobre as manias, não sou muito delas. Às vezes preciso de música e às vezes de silêncio para encontrar o tom certo de uma cena. Às vezes preciso sair para andar ou ir à varanda conversar comigo mesmo. Mas são apenas maneiras de organizar os pensamentos.


Cafeína: Pode descrever brevemente seu processo criativo? Faz fichas dos personagens, diagrama uma timeline da estória, usa algum software para auxiliar na estruturação da história?

Quais autores você considera como influência ou referência importantes no seu texto?

Eric Novello: Elvira Vigna foi uma pessoa que me ensinou a enxergar a importância das minúcias, a entender que a posição de uma vírgula muda a relação do leitor com o texto, que a ordem das palavras afeta a experiência de leitura. Em termos instrumentais, ler a Elvira é um aprendizado muito grande.

Eu sempre cito também o JG Ballard, principalmente o Crash, porque foi o livro que me ensinou que o sexo e a sexualidade podiam ser trabalhados em diferentes camadas em uma história. E t em o Philip K. Dick, que admiro de monte por ser um gênio na contestação da realidade.

Dava para incluir um bocado de gente aí. Eu sou o tipo de leitor que forma vínculos fortes com alguns livros. Mais do que os autores, são os livros que são importantes. Minha obsessão por Alice no País das Maravilhas que o diga.


Cafeína: EADB acaba de ser lançado. Já tem algum outro projeto em mente? Se sim, pode contar um pouco a respeito?

Eric Novello: Ando numa fase criativa e tanto. Mas, como diria a River Song, nada de spoilers!
O que posso garantir é mais um livro no universo de Exorcismos, Amores e Uma Dose de Blues para o futuro próximo.


Cafeína: Se você estivesse abandonado numa ilha deserta, sem perspectiva de resgate, diga cinco livros que você gostaria de ter consigo.

Eric Novello: Acho que essa foi a pergunta mais fácil de todas!

  1. Por Escrito, da Elvira Vigna
  2. Ubik, do Philip K. Dick
  3. Crash, do JG Ballard
  4. Alice no País das Maravilhas, do Lewis Carroll
  5. Manual de Sobrevivência numa Ilha Deserta, preciso pesquisar o autor.

Contatos:
Blog/Site: Eric Novello
Tumblr: Estranho Mundo de Eric
Facebook: eric.novello
Twitter: @eric_novello
Instagram: @eric_novello
Spotify: Eric Novello
Google+: Eric Novello

Cristine Tellier
Últimos posts por Cristine Tellier (exibir todos)
Send to Kindle

2 Replies to “Um cafezinho com Eric Novello”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *