Assassinato na torre Eiffel
Claude Izner

Como inúmeros visitantes do mundo inteiro, Victor Legris, livreiro da rua dos Saints-Pères, está a caminho da Exposição Universal, onde a torre Eiffel, recentemente inaugurada, é a verdadeira estrela. Nesse início de verão de 1889, os parisienses têm dificuldade para circular na multidão aglutinada entre as barracas coloridas, nos corredores invadidos por riquixás chineses e adestradores egípcios.
No primeiro andar da torre, Victor vai se encontrar com Kenji Mori, seu sócio, e seu amigo Marius Bonnet, que acaba de lançar um novo jornal, o Passe-Partout. Mas o encontro é subitamente interrompido: uma mulher acaba de morrer, vítima de uma estranha picada. A partir daí, tem lugar uma série de mortes inexplicadas que vão marcar a vida de Victor Legris como investigador e fazer você mergulhar na capital dos impressionistas.
(fonte: quarta capa do livro)

assassinato na torre eiffel

Como já disse em vários posts, sou fã de Agatha Christie, e alguns dos meus livros prediletos escritos por ela são aqueles em que não há a persona de um investigador profissional – como Hercule Poirot ou Parker Pyne – mas sim, uma pessoa comum que, por uma série de motivos, acaba envolvida em um mistério e segue em busca de sua resolução. São os chamados “detetives por acaso”. Assim é em A casa torta, Por que não pediram a Evans? e Noite sem fim. E este título da Editora Vestígio – selo policial do Grupo Gutenberg – é um bom exemplo desse tipo de narrativa.

Obs.: Aparentemente, Victor tomou gosto por investigações, já que é protagonista de uma série de livros policiais – 12 publicados até agora. Sendo assim, ele já não é mais tão amador, deixando um pouco de lado o papel de “investigador ocasional” e quase se encaixando na figura do “investigador intencional”. Mas o viés casual aplica-se perfeitamente a esta sua primeira aventura.

Mesmo sendo Victor um amador, a parte técnica da investigação é superficial demais, por vezes até pouco convincente. Várias pistas são descobertas e conclusões são tiradas de modo totalmente desprendido da trama. Aquele tipo de acaso forçado pelo autor, apenas para poder dar continuidade à trama. Deus ex-machina utilizado em excesso. Uma pena.

A narrativa seria bastante favorecida caso os personagens das vítimas fossem um pouco mais desenvolvidos. Da forma superficial como são apresentados, quase não há empatia com o leitor. Sendo assim, suas mortes não conseguem dar a tensão necessária à trama.

Para leitores de livros policiais mais hard-core, a parte policial/investigativa da história deixa a desejar. É uma premissa bastante interessante, que se mostra bem promissora no início, mas que acaba sub-aproveitada e pouco aprofundada no decorrer do livro. Apesar da curiosidade para descobrir whodunit, a narrativa não consegue despertar no leitor aquela ansiedade pelo próximo capítulo, aquela necessidade de avançar logo na leitura, aquela agonia para saber se haverá outra morte e como ela ocorrerá, aquela aflição para descobrir o que acontecerá com o personagem que nos cativou – seja ele o protagonista ou não.

O que realmente vale a pena – aos que se interessam pelo assunto, lógico – é a ambientação em Paris, na época da Exposição Universal. A torre Eiffel tinha acabado de ser construído e é interessante perceber a reação dos parisienses frente à “monstruosidade”. Também vale como curiosidade, a descrição dos vários setores da exposição, sejam as atividades artísticas ou científicas.

Enfim, não é uma leitura cansativa, apesar de entregar menos do que promete. Um passatempo razoável durante uma viagem de avião ou na sala de espera do médico. Dá vontade de ler o(s) seguinte(s), na esperança de que a narrativa tenha se consolidado.


claude izner
(foto: Press release – grupoautentica.com.br/)
Sobre o autor
É o pseudônimo de duas irmãs, Liliane Korb e Laurence Lefèvre. Durante muito tempo, Liliane foi montadora de cinema, antes de se reconverter em bouquiniste nas margens do Sena, como sua irmã Laurence. As duas escrevem juntas e individualmente há muitos anos, tanto para os jovens como para o público adulto. As investigações de Victor Legris são hoje publicadas em mais de dez países.
(fonte: grupoautentica.com.br/vestigio)

[cotacao coffee=macchiato]Mais precisamente, um meio-termo entre o macchiato e o capuccino, 3.5 estrelas.

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Cristine Tellier
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3 Replies to “Assassinato na torre Eiffel”

  1. Oi Cristine, gostei muito da sua resenha! É sempre bom ler alguma impressão bem diferente da nossa, pois nos mostra aspectos diferentes do livro. Essa questão técnica da investigação não me incomodou, pois acho que o foco era muito mais a ausência de método no processo investigativo do Legris (o que combina bem com o fato dele ter entrado para a investigação sem ter nenhuma expertise, quase que muito mais pelo seu envolvimento pessoal). Eu gosto muito de romances policiais mais leves assim também, bem humorados e com uma temática mais histórica e social de fundo. Já o ponto das autoras não terem explorado mais a vida e a morte das vítimas concordo muito com você: isso gera menos interação com o leitor.
    Ah, e eu li muitos da Agatha C. quando era adolescente; mas não conhecia nenhum dos que você citou. Vou procurar!
    Abraços!

    1. oi Denise
      Gosto bastante de livros policiais em que o detetive não é um detetive de verdade. E, nesses, a ausência de método é comum, por razões óbvias. O que me incomodou mais nem foi a falta de método, mas as conclusões meio que “tiradas do chapéu”, sempre no momento oportuno.
      Mas pretendo dar uma segunda chance às simpáticas irmãs e ler os seguintes 🙂
      Dos que citei da Agtha Christie, meu predileto é Noite sem fim, sugiro começar por ele.
      Só mais um comentário sobre seu vídeo: estou aqui me contendo para não comprar todos os do Simenon que a Companhia está lançando. Minha fila de leitura está grande demais p/ eu me permitir isso hehehe
      Abraços e boas leituras!

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