O chamado do cuco
(The cuckoo’s calling)
Robert Galbraith – a.k.a. J.K.Rowling

Quando uma modelo problemática cai para a morte de uma varanda coberta de neve, presume-se que ela tenha cometido suicídio. No entanto, seu irmão tem suas dúvidas e decide chamar o detetive particular Cormoran Strike para investigar o caso.
Strike é um veterano de guerra, ferido física e psicologicamente, e sua vida está em desordem. O caso lhe garante uma sobrevida financeira, mas tem um custo pessoal: quanto mais ele mergulha no mundo complexo da jovem modelo, mais sombrias ficam as coisas e mais perto do perigo ele chega.
(fonte: primeira orelha do livro)

Desnecessário comentar sobre o burburinho causado pelo “vazamento” da notícia de que a autora de Harry Potter escrevera este livro sob o pseudônimo de Robert Galbraith. Talvez eu até chegasse a ler se esse detalhe não tivesse sido divulgado. Mas certamente que, ao saber disso, minha curiosidade a respeito aumentou exponencialmente. E, com ela, a expectativa, lógico, apesar de eu me esforçar bastante para deixá-la de lado.

o chamado do cuco - capa

Comecei a lê-lo em inglês no Kindle. Ou seja, a leitura se iniciou fadada ao fracasso, já que ainda não me tornei fan-girl do dispositivo e por ser sempre mais “trabalhoso” ler em inglês. Não passei do primeiro capítulo. Não por não estar gostando, mas a preguiça me venceu. E, sabendo que o livro traduzido seria lançada dali um mês, não me esforcei muito para prosseguir.

Quem acompanha o blog, já deve ter reparado o quanto gosto de livros de detetive. Agatha Christie e Conan Doyle estão entre meus autores prediletos, não apenas nesse gênero, mas na literatura em geral. E um dos motivos que me faz preferir os livros desses autores é a figura do detetive. Sherlock Holmes e Hercule Poirot – não gosto muito de Miss Marple – são figuras que prendem a atenção do leitor tanto por sua excentricidade quanto por sua inteligência. E Rowling conseguiu conceber um detetive, Cormoran Strike, cujas características levam o leitor a querer acompanhá-lo literalmente a qualquer lugar, seja nas investigações, seja em suas crises pessoais.

tuite cafeina

O tuíte acima refere-se exatamente aos elementos que tornam um personagem interessante. No caso de Strike, a perna amputada – seus problemas com ela e a relutância em comentar a respeito – , seu casamento em crise, sua descendência, suas dívidas, entre tantos outros problemas, agravam seu mau-humor, seu pendor para o álcool e pelos exageros alimentícios, sua arrogância e seu desapego – que beira o desprezo – por um convívio social saudável. Diferente de Poirot e Holmes, Strike não é extravagante nem possui QI muito acima da média, mas consegue ser interessante o bastante para angariar a simpatia do leitor. E acompanhar a estória significa não só se aproximar da descoberta do mistério, mas também conhecer mais do protagonista e de suas motivações.

Todo herói que se preze tem um sidekick à altura e Strike tem o seu, ou melhor, a sua. E, assim como o detetive é um herói relutante, Robin Ellacott, a secretária temporária, torna-se a ajudante quase por acaso, o que determina uma alquimia entre os personagens que funciona muito bem. Guardando-se as devidas proporções – lógico, não se pode perder de vista que é uma narrativa ficcional – os personagens, não apenas Cormoran e Robin, são bastante verossímeis e convincentes.

A narrativa flui bem, apesar de algumas “barrigas”, trechos que poderiam ser suprimidos sem prejuízo à trama. E a pergunta que todos que me viram lendo o livro fizeram: “Parece Harry Potter?”. Não, não parece. Há sim, o mesmo cuidado com o texto e com os personagens, mas apenas isso. Certamente deve haver alguns detalhes estilísticos sutis que identifiquem a autora. Mas, principalmente no texto traduzido, não há nada perceptível, a não ser alguns easter-eggs – que eu nem sei se foram intencionais ou apenas “intrusões” do tradutor. (Admito, não fui conferir o original).

Narrado em terceira pessoa, obviamente acompanha na maior parte do tempo os passos de Strike e, eventualmente, os de Robin. Rowling se preocupou em deixar o leitor ter acesso às mesmas informações que o detetive, contudo as conclusões de Strike pertencem apenas a ele. Mas mesmo assim, quando o mistério é revelado não é um deus ex-machina, em que algum elemento nunca antes visto na trama torna-se a chave da solução. Há algumas explicações um pouco “forçadas”, mas nada que faça o leitor duvidar demais do que está lendo. Uma das motivações do vilão não convenceu, havia outras possibilidades menos simplistas.

Enfim, é uma trama bem estruturada, sem fios soltos. Não é excepcional, mas cumpre bem a função de entreter. E deixa o leitor com vontade de acompanhar outros “causos” da dupla Strike & Ellicott – o livro seguinte já foi escrito.

Obs.: O título original tem tudo a ver com a trama. Infelizmente o traduzido não conseguiu o mesmo efeito. O título em pt-PT, Quando o cuco chama , apesar de menos sonoro (eu acho), manteve o sentido original.

[cotacao coffee=”macchiato”]

Cristine Tellier
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