Perdão, Leonard Peacock
Matthew Quick

“Hoje é o aniversário de Leonard Peacock. Também é o dia em que ele saiu de casa com uma arma na mochila. Porque é hoje que ele vai matar o ex-melhor amigo e depois se suicidar com a P-38 que foi do avô, a pistola do Reich. Talvez no futuro ele conseguisse acreditar que ser diferente é bom, até importante. Mas não hoje.”
(fonte: primeira orelha do livro)

A sinopse chamou a atenção e, talvez erroneamente, achei que iria mergulhar na psique de um psicopata adolescente prestes a surtar. E quando digo mergulhar, entenda-se ser apresentada ao raciocínio tortuoso de um indivíduo que acredita não haver mal algum em usar a violência para resolver seus problemas. Mas não foi o que aconteceu. Sério, eu queria ter gostado mais deste livro.

perdao leonard peacock - capa

O fato de eu gostar (ou não) é praticamente irrelevante. Apesar de influenciar na minha boa vontade ao discorrer a respeito, tenho obrigação de ser o mais imparcial possível em consideração aos nossos leitores.

Acredito que muitos leitores iniciem a leitura embalados pelo sucesso anterior de Quick, “O lado bom da vida” – que ainda não li e, por conseguinte, me absterei de fazer comparações.

Apesar da temática interessante, a abordagem do autor deixa bastante a desejar. Não é por ser infanto-juvenil, ou juvenil, que o leitor deve ser tratado como se não tivesse condições de tirar conclusões por si próprio. Deixar um pouco das ideias nas entrelinhas, além de “saudável” estilisticamente falando, é muito mais instigante para o leitor, que se sente valorizado e, ao mesmo tempo, satisfeito por ter entendido a mensagem subjacente ao texto. Privar o leitor disso – cujo nome científico é “calorzinho no peito” – faz o texto ir perdendo seu atrativo à medida que a leitura avança.

O autor segue muito à risca a orientação de evitar frases longas. Em muitos trechos, as frases chegam a ser telegráficas. Não é um recurso textual ruim, mas está mal aplicado. A presença das frases tão curtas não se justifica pelo contexto da narrativa, ou melhor, não há razão para ter sido escrito daquela forma. Explico-me melhor. O livro é narrado em primeira pessoa – o que, a meu ver, sempe é um complicômetro. Sendo o narrador o próprio Leonard, o leitor acompanha seus pensamentos e sua visão dos fatos. E, pensamentos não costumam ser ideias compactas, estanques. O mais comum é que uma ideia se enrede em outra, e em outra, e em outra. Ou seja, frases mais longas fazem mais sentido.

matthew quick
Matthew Quick, na Bienal do Rio 2013
Quanto à parte gráfica, alguns comentários. A capa é bastante chamativa e, obviamente, faz menção ao livro anterior de Quick. A frase de efeito na quarta capa também é um bom chamariz. O papel é pólen, aquele “amarelinho” super agradável à vista. A fonte utilizada tem um bom tamanho, deixa a leitura confortável. O único problema, foram alguns erros de revisão que, em alguns momentos, até alteravam o sentido da frase. Fui obrigada a reler várias vezes algumas frases por conta disso.

Enfim, podem me chamar de saudosista, mas… Bons tempos em que literatura juvenil era representada – muito bem representada – por livros do naipe de Os meninos da rua Paulo, de Ferenc Molnár, A droga da obediência, de Paulo Bandeira, e similares.

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Cristine Tellier
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One Reply to “Perdão, Leonard Peacock”

  1. UAU! Você é uma péssima resenhista e leitora, minha cara.
    "Bons tempos em que literatura juvenil era representada – muito bem representada."
    Eu não sei se você leu ou se só procurou o que criticar porque é o que me parece – que você só soube criticar o livro. Deu aos leitores de sua resenha uma má impressão sobre um livro que é muito bom, ou melhor, excelente!
    Acho que exagerou absurdamente, e aumentou pontos em tudo o que disse.
    Mas cada um com sua opinião!
    Porém acho que você deveria rever essa resenha e apreciar o livro, porque todo livro tem algo bom nele, e "Perdão, Leonard Peacock" não é uma exceção à regra.
    Só porque a história surpreendeu você por não tratar-se de um psicopata não quer dizer que não é boa 😉
    "é muito mais instigante para o leitor, que se sente valorizado e, ao mesmo tempo, satisfeito por ter entendido a mensagem subjacente ao texto." Acho que você realmente não percebeu que a narrativa era em 1ª pessoa e tratava-se de um garoto com 17 anos, ou seja, por que um garoto de 17 anos deixaria as coisas subentendidas ? Ele está se abrindo para o leitor, ele não está esperando resposta alguma, ele não está preocupado se precisamos fazer reflexões ou coisa semelhante. Não é como em "As vantagens de ser invisível".

    Você precisa entregar-se mais à leitura.
    Precisa compreender mais a essência de cada personagem em cada livro!

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