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Num curso de “Estruturação de Romances”, ministrado pelo Felipe Colbert, ele comentou sobre a dificuldade de se desenvolver um personagem do sexo oposto (haja vista o seu super-mais-ou-menos A Última Nota). No cotidiano, estamos arraigados, conscientes ou não, ao nosso gênero. Colocar-se num ponto avesso é bastante difícil. Entender a psique, as motivações e os anseios de outrém já é complicado, quando do outro sexo, é ainda pior. Não à toa casais brigam e têm dificuldade de entender as neuroses um do outro… Como leitor, é comum notar esse desequilíbrio em personagens.

Este é um dos pontos que torna Garota Exemplar, de Gillian Flynn, tão magnífico. O livro, que conta a história de um casal de jornalistas, cuja esposa desaparece, ficando como rastros as evidências de um sequestro que apontam para o marido, não tem esse desequilíbrio. Ora narrado pelo marido, ora pelo diário da esposa desaparecida, é incrivelmente verossímil.

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A história é atual. O cenário é uma cidadezinha do interior de um Estados Unidos em crise econômica, onde se deteriora dia a dia o pitoresco quadro do American Way of Life. É, inclusive, uma das coisas que me interessou: o ponto de vista de uma norte-americana em relação à crise. Nós, brasileiros, tendemos a acreditar que somos os únicos com lado podre…

Falando especificamente de literatura, noto que a massa de consumo norte-americana tem gosto pelos clichês (mais ou menos o que acontece com os espectadores brasileiros em relação a telenovelas). Gillian faz uso, claro, mas ela o faz com uma esperteza enorme: faz o personagem identificar os clichês e citá-los de forma humorada, como se ridicularizasse o discurso. Ou seja, deixa o leitor norte-americano confortável (pois seu amado clichê está lá!) e, ao mesmo tempo mostra que está acima dele. Genial.

Em alguns momentos a autora é atrevida. Além de entrar em assuntos da psique humana que normalmente tentamos evitar, ela praticamente “tira sarro” do leitor. Levando sua opinião para lá e para cá. Faz isso tão bem que exclamei umas duas vezes “FILHADAPUTA!” em meio ao metrô lotado… Outra vez, genial.

A narrativa é simples, dinâmica e atual, mas a história é densa e empolgante. A tradução merece louvores: Mesmo se tratando de um ambiente muito americanizado, está bem acomodada em nosso pt_br.

Em termos de estrutura literária, o livro é perfeito. “Que exagero!”, ora direis! Mas é. Talvez mereça uma segunda passagem de olhos, a Sra. Flynn (uma menina linda de quarenta e poucos anos), contudo, foi tecnicamente primorosa. Gillian FlynnSegue milimetricamente os momentos de viradas (e que viradas!), usa cliffhangers de deixar o leitor exasperado (!) e amarra cada micro pontinha da história que teceu. Exceto por um ponto! Que eu não direi qual é pelo spoiler. Mas que não desmerece em nada o conjunto da obra.

Impressionante. É o que posso escrever depois de alguns minutos pensando num termo adequado. Havia muito não pegava um livro que torturasse tanto o leitor. Faz sofrer a cada capítulo, a cada página. Aquele tipo de tortura que pagamos para ter. Aquela tensão em que temos de resistir arduamente à ânsia de pular as páginas e querer saber afinal que diabos vai acontecer!

Merece um Café Vienense
[rating=5]

Obrigado Intrínseca por nos oferecer esse deleite!

[compre link=”http://bit.ly/garota-exemplar”]

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One Reply to “Garota Exemplar”

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