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Hesitei. Mas fi-lo. Quando tomei nas mãos o livro A Última Nota, parceria de Filipe Colbert e Lu Piras, eu ainda estava sujo de Tchekov. Talvez tenha sido esse o problema. Ou talvez tenha sido o fato de Colbert ser um coaching em estrutura literária e, por isso, supus que encontraria uma obra indefectível.

Fontes seguras (Cristine) me garantiram que o livro anterior de Colbert possui uma qualidade considerável, o que me leva a crer que foi a dicotomia entre os autores que prejudicou esta obra. A propósito, Alícia é grega.

Alícia é uma moça carioca, estudante de música, integrante de uma família de ascendência grega, que vive a opressão das tradições e vê seu destino escrito dentro destes limites, inclusive em relação ao amor, no que diz respeito ao namoro/noivado fracassado que mantém quase por imposição. Tudo, porém, se altera quando um estranho maravilhoso surge repentinamente, oferecendo um alento à vida adstringente da jovem.

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Lembrou de algo parecido? Imagino que sim. Uma breve busca mental e sou capaz de dar-lhes uma lista de histórias cujas premissas são exatamente as mesmas: Titanic (a mais similar), A Dama e o Vagabundo, Pocahontas, O Morro dos Ventos Uivantes, Cidade dos Anjos, Crepúsculo, Kate & Leopold, A Escolha, etc.

Aliás, falando deste último, durante toda a leitura o nome “Nicholas Sparks” acendia tal qual um neon cor-de-rosa em minha mente. Sinal remetente à literatura de consumo rápido, com tramas simples e personagens rasos. Nada contra: Se há público, justifica a existência. E Alicia é grega.

Quanto à estrutura do romance… Ok. Não percebi falhas graves, salvo o excesso de redundâncias em tentar explicar ao leitor o sentimento expresso no parágrafo anterior, a semelhança com Titanic e uma irritante insistência em demonstrar a ascendência da personagem. A propósito, já comentei que Alícia é grega?

Além disso, o perfil da personagem mostra oscilações incoerentes, mesmo para uma adolescente. E não era o caso. A menos que o objetivo seja realmente mostrar alguém com problemas psiquiátricos, como dupla personalidade: A Alícia mimada e fleumática que não tinha certeza sobre cursar música e a Alícia perseguida e anulada pela família que amava a música acima de tudo. Pouco compatíveis. Porém, ambas, claro, gregas.

Como pontos positivos, vejo que a música é um item explorado de forma assertiva. Assim como o encerramento da trama é também eficiente. Não ficaram pontas soltas. O livro tem, como presumível, uma estrutura concisa. Prova que Colbert faz jus ao conhecimento sobre os quais leciona. Mas também prova de que conhecimento técnico puro não cria obras primas.

Vale um Macchiato (vulgo Espuminha)
3 out of 5 stars

mm
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3 Replies to “Alícia é Grega”

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