As pequenas mortes
Wesley Peres

as pequenas mortes - capaSinopse
O escritor e psicanalista goiano Wesley Peres estreia com “As pequenas mortes”, surpreende pela ousadia com que maneja as ferramentas literárias num romance que flerta com a teoria. Abordando um tema caro à psicanálise – o corpo, com suas reverberações de dor e prazer –, o romance recupera “o excesso indizível da vida”, nas palavras da psicanalista Tania Rivera, que assina a orelha do livro.
(fonte: www.saraiva.com.br)

Que me perdoem os que cultuam a chamada “alta literatura”, mas certos experimentalismos literários simplesmente não me agradam. A orelha do livro informa que é um misto de ensaio e ficção. Bem, sinto informar que, no meu entender (de mera leitora), o texto não consegue ser nem uma coisa nem outra.

Não há uma estória – o que talvez caracterizasse o texto como um ensaio, mas o desabonaria como ficção. O que há é uma sequência de pensamentos esparsos do protagonista – o que talvez configurasse um fluxo de consciência. Contudo, esse fluxo de pensamentos é escrito de modo que tem-se a impressão que o autor quer escrever uma frase de efeito a cada parágrafo. Uma máxima que será lembrada e repetida à exaustão pelos leitores. E isso é extremamente irritante.

Há a tentativa de escrever como Clarice Lispector, porém sem a menor capacidade para sequer se assemelhar a um fluxo de consciência escrito por ela. A ideia que me veio à mente sobre o que lia – e que se repetia a cada vez que tentava prosseguir na leitura – era que o personagem estava naquele momento da noite em que ainda não adormecemos e ficamos repassando o que houve durante o dia e o que esperamos fazer no dia seguinte. Os pensamentos pulando du coq à l’âne, ou seja, aleatoriamente, sem sentido ou coerência. E, pior ainda, parecendo um aglomerado de frases de traseira de caminhão encadeadas a fim de simular um fluxo de consciência.

Ok, eu posso não ter entendido a intenção do autor. Mas me parece totalmente non sense essa ideia de ser um meio termo entre ficção e ensaio. Ao ler um ensaio, o leitor sabe que o texto versa sobre ideias e conceitos e o lê sob esse enfoque – compreender, debater e concordar (ou não) total ou parcialmente. Ao ler ficção, eventualmente o leitor também será exposto a ideias e conceitos, mas tudo envolto numa estória que ele, o leitor, espera que seja empolgante o suficiente para mantê-lo interessado até o final do livro. E este livro não obtém do leitor nenhuma das abordagens.

“Fisicamente”, o livro é muito bonito. A capa atraente e a borda das páginas tingida de azul chamam a atenção. Porém, se o “objeto-livro” me encantou, não posso dizer o mesmo do conteúdo.

Eu, teimosa por natureza e sempre insistente quando se trata de leituras, abandonei o livro antes da metade. E eu, que tinha achado a capa bem instigante e tinha gostado demais do título – em francês, petite mort significa orgasmo – senti-me ludibriada e, pior que isso, senti que perdi tempo precioso que eu poderia ter usado lendo Dostoievski (hei de terminar Os irmãos Karamazov em breve).

Merece apenas um Expresso.
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Cristine Tellier
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