circo

Certa vez, um ex-amigo comentou comigo que todo artista é vaidoso. Ineguei imediatamente. Ele era um aspirante a poeta. Também eu, naquele tempo. Digladiávamos em embates, cada qual buscando, dentro de uma polidez fraterna, escrever melhor que o outro. Uma competição, quando entre amigos, saudável.

A vaidade é a irmãzinha mais nova da arrogância. Quando a primeira sobeja, torna-se a segunda. Mas, mantendo-a sob controle, ela apenas tem a mania de ser inconveniente. Uma criança insistente que não para de causar pequenos transtornos.

Quem tem um amigo artista sabe. Aquela criatura que possui um ou dois (ou muitos mais) hábitos estranhos, que desenvolve, discreta ou escancaradamente, uma obra que, muitas vezes antes de terminar, vem correndo lhe mostrar e pedir opinião. Aquele ser que tem certo talento para um ramo artístico, que ele sempre nega com modéstia, mas que, em geral, admite para si muito mais do que deveria… Eu tenho vários. E digo mais: Eu sou um deles.

Há muitos tipos: assumidos, protestantes, esquizofrênicos, tímidos… Desacredito, entretanto, que algum seja verdadeiramente tímido sobre o que faz. Aquele melindre de “não gosto de mostrar o meu trabalho para as pessoas” é para mim apenas um pedido velado para que você insista. Para que ele possa se deliciar com suas súplicas e gerar um rufar de tambores precedente à grande apresentação do que fez. E caso você não insista, ele se ressentirá e não lhe mostrará porque vai achá-lo indigno de sua obra.

Mas a maioria dos que tive contato não ostentam falsas inibições. Gostam mesmo é de espalhar. Tocariam uma sineta e pendurariam uma melancia no pescoço se lhes permitisse a sociedade e o ambiente. É preciso ser compreensivo com estas pessoas. Para o artista, sua obra é um pedaço de si. Uma coisa para a qual ele dedicou tempo e aplicou o conhecimento que vem acumulando no decorrer de sua vida. Longo ou curto, o tempo de vida que temos é a única coisa que realmente nos pertence. E define nossa forma de ver o mundo. É, portanto, valioso. E o artista transfere esse valor ao seu desenho, seu quadro, sua música, sua escultura, seu texto, etc. Eu, claro, me incluo nisso.

Por isso, inauguro hoje no Cafeína Literária a seção de contos, para espraiar meus trabalhos e minha vaidade um pouco mais. Para toda a internet, o planeta e (por que não ser megalomaníaco?), o universo. O conto que realiza essa estréia é uma história sentimental, mas não corriqueira. Cujo tema inclui – para rimar com o contexto – um artista. Com desvelo que lhes trago: Riso e Reverência

circo
(foto: focusfoto.com.br)
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4 Replies to “Amigos, amigos. Obras de arte.”

  1. Ineguei??? Que tipo de palavra é esta?
    Dica: o senhor precisa de mais modéstia e humildade para ser um escritor melhor.

  2. Você tem razão, Amante do Dicionário e da Boa gramatica. Eu preciso mesmo de mais modéstia e humildade. Somente um néscio se sentiria ao patamar de um Guimarães Rosa ou James Joyce e cederia a tentação de inventar palavras. Mas… O que fazer meu caro? Se eu, diferente de você, tenho como amante a arte que, por sua vez, tem o péssimo hábito da desobediência as regras?

    Obrigado pelo carinho. Volte sempre.
    Beijos. D.

  3. Por favor, sr. Amante do Dicionário e da Boa gramatica, corrija-me se estiver errado. Mas creio que, mesmo no Novo Acordo Ortográfico (ainda não em vigor), palavras proparoxítonas – como “gramática”, por exemplo – continuam sendo acentuadas.
    Abraços.

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